SÃO PAULO FASHION WEEK N51

worldfashion • 01/07/21, 15:54

O que é o São Paulo Fashion Week?

No Wikipédia (ano 2018) é o maior evento de moda do Brasil e o mais importante da América Latina, além de ser a quinta maior Semana de Moda do mundo, depois das de Paris, Milão, Nova York e Londres.

3Sim um evento,  uma manifestação, um festival, que passa por transformações, repensando e acompanhando as mudanças do comportamento de consumo, mesclando arte com moda e cultura, com atenção ao valor criativo com base na sustentabilidade e inovação.

Apresentada pelo banco Santander de 23 a 27 de junho 2021, a 51ª EDIÇÃO em versão 100% digital, ganhou o formato de FESTIVAL com o mote SPFW+ Regeneração,  promoveu desenvolvimento e o protagonismo de núcleos criativos diversos e sustentáveis por todo o país.

Foram cinco eixos que serviram como ponto de partida para inspirar, provocar novos olhares em encontros criativos inusitados, e para identificar e selecionar projetos criativos em todo o país. 1) diversidade e equidade racial; 2) protagonismo feminino; 3) empreendedorismo; 4) sustentabilidade e inovação e 5) origem nas origens (cultura).

Contou com dez estreias: Anacê, Carol Bassi, Esfér, Igor Dadona, Neith Nyer, Rocio Canvas, Ronaldo Silvestre, Soul Básico, Victor da Justa e Weider Silveiro. Retornos de Samuel Cirnansck e Wilson Ranieri. E mais Ronaldo Fraga, Gloria Coelho, Flávia Aranha, João Pimenta, Apartamento 3, Juliana Jabor, Isabela Capeto, João Pimenta, Triya e Another Place.

E a partir desta edição, o SPFW acolhe o projeto Sankofa, coletivo de estilistas negros com oito marcas, uma iniciativa da plataforma Pretos na Moda e da startup de inovação social VAMO, com apoio do INMOD (Instituto Nacional de Moda e Design). São elas: Ateliê Mão de Mãe, Az Marias, Meninos Rei, Mile Lab, Naya Violeta, Santa Resistência, Silvério e Ta Estudios.

gs-293-427x640Ronaldo Fraga abriu o com a coleção Terra de Gigantes, via streaming para o mundo. O fio condutor do trabalho do estilista é a cultura do Cariri Cearense. Para o estilista, o nordeste representa a grande amálgama da cultura brasileira, tendo o Cariri Cearense, ao sopé da Chapada do Araripe, como epicentro. “Em Terra de Gigantes falo sobre a miscigenação característica da região, dos filhos que são frutos das mais variadas misturas: índios Kariri, escravos, africanos malês de origem mulçumana, cristão novos e judeus fugidos da inquisição na Espanha e Portugal. Mistura que é também a base de todo povo brasileiro”, afirma ele.

gs-305-640x427Confeccionada a partir de uma única base de tecido 100% linho, a coleção trouxe muitos bordados e poucas estampas - ao contrário do que se espera do trabalho do estilista -, dando lugar a uma explosão de cores em referência ao multicolorido Cariri Cearense. Fotos: Augusto Pessoa

rs2-fotografia-andre-solano-427x640Na sua estréia no evento, o estilista itabirano Ronaldo Silvestre, realizou um sonho de menino pobre do interior de Minas Gerais, cuja mãe desmanchava uniformes usados para ele ter o que vestir.  “A máquina de costura se torna a arma de conspiração, de sobrevivência de pessoas em situação de vulnerabilidade, das mulheres excluídas da sociedade”, conceitua. “É assim que o macacão se torna em nossa vestimenta de luta e de empoderamento, com o retrabalho em algodão e de resíduos têxteis, transformando-os, rebordando outras peças, desconstruindo alguns trabalhos e peças de todo o meu trabalho de design, reconstruindo de outras formas”, explica. A apresentação: “Foi um trabalho de muitas mãos, com trilha sonora de Thiago SKP, músico itabirano, participação de bordadeiras, costureiras, modelos e artistas itabiranos”, conta o estilista. “Aproveitamos a oportunidade para mostrar o trabalho de outros artistas da terra.” completa.

_gmf2794-436x640Os tecidos da Capricórnio Têxtil (Nimes, Jango Royal Blue, Teca e Iza) da Dalila Têxtil (Malha Cofee e Cânhamo com tingimento naturais) e Santista Têxtil (Joker e Lite da linha FLATS e Justin 100% algodão da linha ICON) são retecidos, reciclados, algodão com tingimentos naturais. As cores militares partindo do verde intenso, passando pela leveza dos tons de barro até o azul profundo noite com gotas de vermelho sangue. As formas são atemporais, amplas e orgânicas. Fotos: André Solano e Gabriel Mesquita.

thumb2917833650Acostumada a criar associações entre a moda e outros segmentos, além de exibi-la em diferentes plataformas, que não apenas o desfile convencional, a Another Place já está familiarizada em contar histórias e utilizar da linguagem audiovisual - formato que flerta desde 2019. Especialmente para a edição #51 do SPFW, a marca criou Unlock, em co-criação com Beck´s.

A apresentação também revela a collab inédita criada em parceria com a Beck’s, cerveja alemã com grande conexão com arte, música, moda e cultura urbana. Essa intersecção fica especialmente explícita nas peças que utilizam a linguagem visual da bebida aliada ao DNA e olhar da ANP.

Para ambas as marcas a collab e o desfile tem uma função muito importante, que vai além dos minutos na passarela virtual do maior evento de moda da América Latina. Entre os destaques da coleção, a estampa gráfica e sinuosa que aparece em segundas-pele, sejam tops ou meias-calças, assim como tricôs de jacquard e puffer jackets. Enquanto as peças com aspecto resinado (casacos, jaquetas perfecto e calças) ganharam aviamentos, ilhoses e zíperes em destaque. A pegada sporty e os elementos do underwear também são protagonistas. Para enfatizar esse espírito livre, que está em busca de diversão, há transparências, recortes profundos e peças bem justas, que revelam as formas do corpo. Tudo isso, em um ritmo pulsante, que mistura desfile, dança e performance. Fotos: Marina Sapienza

1De volta às passarelas nesta edição, Juliana Jabour apresentou a coleção, Verão 2022, no formato de fashion film. “Expectations”, título do filme e da coleção, trata do sentimento de que coisas boas acontecerão num futuro próximo. Juliana e equipe conceberam o roteiro da apresentação a partir do momento atual do mundo, onde duas pessoas separadas pelo extenso período de isolamento podem, finalmente, se encontrar. O desfile trata, portanto, de um futuro pós apocalíptico real. A esperança e a expectativa desse encontro estão presentes nas peças coloridas, volumosas e estruturadas, numa coleção que dá um twist no repertório da estilista. São 11 looks coloridos, 10 deles monocromáticos, além de um bicolor. A coleção é dividida entre os tons intensos e os pastéis, nas cores vermelho, pink, verde, azul e amarelo. O streetwear sempre revisitado pela marca se faz presente, aqui em simbiose com babados em caracol, laços, silhuetas volumosas e mangas bufantes. Tudo construído a partir de apenas duas matérias primas: o zibeline, tecido estruturado e brilhante; e o já clássico moletom Cozy, da Lunelli Têxtil, parceira de anos nos desfiles da designer. As cores são vermelho, pink tropical, ocre, azul bic, verde esmeralda, verde kiwi, limão siciliano, lilás, rosa pastel e azul pastel.

dsc_6498-426x640Alguns elementos gráficos estão presentes na coleção, em formato de silk e bordados pequenos, sempre em tom sobre tom. Símbolos como coração com as setas de reciclagem, estrela com fogo e raio e a taça martini com a frase “Rainbow Room; Cocktails” são ícones estéticos da estilista, e dão o toque final à coleção. O Verão 2022 de Ju Jabour terá um desdobramento comercial, com lançamento previsto para o mês Julho. Fotos: Vagner Jabour

whatsapp-image-2021-06-28-at-092853-3Um nome que despontou na passarela virtual foi o Zeh Henrique da Soul Básico. O criativo desenvolveu três looks de upcycling a partir de calças produzidas com Denim Capricórnio Têxtil. Com o tema Re-verso, a coleção traz muito de uma reflexão sobre o tempo, sobre coisas que o designer passou durante o isolamento, sobre reflexões que acredita. Quem assina o estilo da marca é Wilson Ranieri, que conseguiu traduzir esses sentimentos todos para a coleção. “Uma parceria que visa ressignificar o que seria descarte com peças de design único e atemporal, com parte das vendas revertidas para ONGs que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade”, comenta Zeh Henrique.  Foto: divulgação

foto_002-ponto-firme-spfw-criculo-credito-foto-marina-sapienzaO projeto social Ponto Firme, liderado pelo estilista Gustavo Silvestre, marca a sua quarta participação no evento. Desta vez, o foco é trazer uma das grandes tendências da moda, o recycle e upcycling, propondo uma reflexão sobre o ciclo de vida das roupas e o consumo consciente. O crochê continua sendo um grande protagonista nas criações, técnica artesanal que é ensinada pelo estilista aos detentos da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos (SP). A coleção foi desenvolvida por reeducandos do Ponto Firme, os artesãos Anderson Figueiredo, Tiago Araújo e Anderson Joaquim. Unir a moda às questões sociais importantes. Em todas as suas participações, o Ponto Firme trouxe a sutileza do trabalho manual e sempre com uma potente mensagem para a sociedade. Uma combinação sensível que faz parte do propósito do projeto desde o seu início e que costuma emocionar quem acompanha os seus desfiles já realizados. Gustavo Silvestre e mais três egressos do foto_003-ponto-firme-spfw-criculo-credito-foto-marina-sapienzaPonto Firme se reuniram para criar a coleção, confeccionada a partir de descarte têxtil e peças reaproveitadas de doações e acervo que foram ressignificadas com técnicas de crochê. Os fios Anne, Verano, Encanto e Susi, da Circulo S/A são os escolhidos pelos artesãos para o desenvolvimento de detalhes e elementos que construíram e transformaram peças, dando uma nova aparência e significado a cada roupa que compõem a coleção. “Usamos de forma inovadora o fio Glow, da Círculo S/A, que brilha no escuro e foi lançado originalmente para fazer amigurumi e nós aproveitamos para fazer um vestido com este efeito incrível. Com certeza será uma das grandes atrações do desfile”, ressalta Gustavo. “Tivemos como ponto de partida as máscaras artísticas produzidas pelo artesão Anderson Figueiredo, que empregou as suas habilidades em crochê desenvolvidas durante o período de cárcere, para o reaproveitamento de resíduos e lixo. As máscaras surgem como verdadeiras esculturas de forma totalmente autoral e são um elemento visual cheio de simbolismo e significado tanto para seu criador quanto para o projeto”, comenta Gustavo. As peças confeccionadas pelos egressos, sob orientação do Gustavo Silvestre, são comercializadas , e os interessados poderão entrar em contato por meio das redes sociais do Projeto Ponto Firme (Facebook e Instagram). O valor da venda dos produtos será revertido para os artesãos. O projeto Ponto Firme iniciou em 2015,e oferece formação técnica em crochê para sentenciados da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos (SP). Desde as primeiras aulas, contou com o apoio da Círculo S/A, que doa materiais para que os alunos possam aprender e se desenvolver. Ao final de cada módulo, com duração de seis meses, os alunos recebem um certificado de conclusão. Mais de 150 alunos já passaram pelo projeto. Os trabalhos realizados por eles já foram expostos na SP-Arte, Pinacoteca de São Paulo, SPFW e até em Nova York. Fotos: Marina Sapienza

weider-3-457x640Após se consolidar e consagrar-se como um dos nomes mais celebrados da Casa de Criadores, onde se apresentou por 15 anos consecutivos, o estilista piauiense Weider Silveiro, da cidade de Monte Alegre, de 43 anos, formado em design de moda pela Universidade Federal do Ceará - UFC em 2004, iniciou sua carreira na moda no mesmo ano.

“Pensar nessa estréia tem sido um desafio, mas também é o resultado de anos de trabalho e compromisso. Venho mostrando meu potencial criativo na Casa de Criadores há mais de uma década, para uma plateia e imprensa ávidas por isso. Agora é a fase de fortalecer minhas criações frente a um mercado maior, levando meu trabalho para novos espaços.” diz o Weider.

O début foi com a coleção tendo como inspiração a mulher contemporânea e o corpo feminino. A coleção Citá, composta por 30 peças inéditas, revelaram ao público num  vídeo produzido no rooftop do icônico Edifício Copan.  A coleção completa foi lançada no mesmo dia do desfile, e podem ser adquirida sob medida, através do perfil (@weidersilveiro) no instagram. Fotos: Leo Fagherazzi

thumb822435528Do projeto SANKOFANaya Violeta designer e criadora da marca, que leva o seu nome é uma profissional que adota como perspectiva para as suas criações o olhar pessoal e afetivo, assim como o caráter auto-biográfico e narrativo, elementos que juntos permeiam as pesquisas visuais e de tendências para a marca.

O crescimento que notadamente percebemos em sua trajetória estilística e de circulação no mercado estão relacionadas às experiências de vida e aos processos de amadurecimento que a estilista vem adquirindo ao longo de sua trajetória. Uma profissional versátil, que através da moda vem atuando em diferentes setores, com colaborações mais pontuais em áreas como o cinema, a música, o teatro e a dança.

A estilista sempre produziu suas roupas e da venda do boca a boca entre amigas, percebeu uma busca incessante por representatividade de moda preta. Todas as referências, tudo que via, não era pensado para a beleza afro-brasileira. Naya Violeta cresceu em quintais de tias costureiras e vendo o fazer roupa como autonomia de quereres. Conseguiu alinhar isso na construção de uma moda que o mercado não lhe oferecia: representatividade.

Numa produção em pequena escala, amorosa, proveniente do garimpo de tecidos e de pesquisas marcadas por influências místicas, cheias de afeto e das vibrações que permeiam os mistérios da vida, a marca busca responder a essa ausência, assumindo a potência que a ancestralidade, a estética e as diferentes manifestações culturais afro-brasileiras oferecem para o processo de criação da marca. Foto: divulgação

Para conhecer todas as marcas, que estiveram no evento, acessem:  https://www.spfw.com.br/

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