ARTIGO - Malha da comunicação: conectando e engajando milhares de empresas

worldfashion • 09/10/24, 15:51

Por Fernando Valente Pimentel* e Ligia Santos**

No presente cenário, a comunicação empresarial enfrenta uma série de desafios que exigem estratégias inovadoras e adaptativas. A proliferação de plataformas digitais resultou em uma fragmentação de canais, de modo que as audiências estão mais dispersas do que nunca. Para se manterem relevantes, as organizações precisam identificar onde seu público está e entender como ele consome informação, ajustando suas abordagens para cada plataforma.

Além disso, vivemos em um mundo saturado de informações, no qual a sobrecarga de dados dificulta a captura da atenção do público. Para se destacarem, as mensagens precisam ser não apenas claras, mas também diferenciadas e impactantes.

No âmbito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) e do setor que representa lidamos, adicionalmente, com o desafio da comunicação multigeracional. Alcançar diferentes gerações com a mesma mensagem às vezes é bem complicado, pois cada grupo possui preferências distintas em termos de canais e estilos de comunicação. Assim, adaptar a mensagem para ressoar com cada geração é crucial. Mas, se há uma atividade na qual a inteligência artificial vem contribuindo muito com todos os profissionais é na comunicação. Especialistas afirmam que a sigla PIN (palavras, imagens e números) abrange todas as profissões que mais estão se beneficiando das ferramentas de IA.

No entanto, quando se trata de engajar milhares de empresas, como uma entidade de classe patronal precisa fazer, surgem desafios adicionais. É preciso criar engajamento efetivo, garantindo que o conteúdo não apenas informe, mas também motive a interação. E sempre, sempre medir a eficácia. Corrigir a rota se for o caso. Experimentar, mantendo a consistência da mensagem.

Nós, da ABIT, trabalhamos com esse desafio diariamente, pois precisamos alcançar mais de 23 mil empresas, que empregam 1,3 milhão de brasileiros, sendo um dos setores mais importantes da economia do Brasil e um dos maiores do mundo. Temos empresas de todos os portes, segmentos, formatos e culturas, com uma geração e até empresas convivendo com três gerações, de norte a sul do País.

E esse é só um dos públicos que uma entidade de classe como a Abit tem que informar e engajar. Nossa comunicação corporativa também é decisiva na defesa dos interesses da indústria têxtil e de confecção, promovendo-a em fóruns nacionais e internacionais, engajando a opinião pública e os Três Poderes e disseminando de maneira clara e persuasiva as teses e posicionamentos importantes para o fomento da atividade.

A comunicação que realizamos também tem sido estratégica para difundir informações sobre avanços tecnológicos, práticas sustentáveis e tendências de inovação, contribuindo para a evolução contínua do setor, à luz do Documento Têxtil 2030, que baliza seu avanço em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os princípios da governança ambiental, social e corporativa (ESG). Além disso, ao dar visibilidade a essas práticas e ao impacto socioeconômico da indústria têxtil e de confecção, contribuímos para fortalecer e manter uma imagem sólida e positiva do setor, tanto no Brasil quanto no exterior.

Portanto, uma área de comunicação, mesmo com ChatGPT, Claude, Gemini, One e tantas outras inteligências artificiais agilizando processos, é essencial para orquestrar essa malha de informações que constrói pontes, influencia políticas públicas, promove o desenvolvimento sustentável e contribui para a realização do potencial pleno das empresas e pessoas envolvidas no setor.

Em um mundo cada vez mais conectado e dinâmico, onde a informação flui rapidamente e as mudanças são constantes, uma comunicação estratégica e bem-estruturada torna-se um diferencial competitivo. Para a Abit, isso significa acompanhar as tendências e liderar o diálogo sobre o presente e o futuro da indústria têxtil e de confecção no Brasil e no mundo.

A excelência na comunicação não é apenas uma opção, mas uma necessidade imperativa de qualquer organização. É por meio dela que a ABIT cumpre sua missão de representar, promover e desenvolver um dos setores mais importantes da economia brasileira, garantindo que sua voz seja ouvida, suas conquistas sejam reconhecidas e seus desafios sejam enfrentados de maneira coletiva e eficaz.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (ABIT).

**Ligia Santos, jornalista, é gerente da Comunicação da ABIT.

ARTIGO - É urgente mobilização nacional para vencer o crime organizado

worldfashion • 25/09/24, 14:46

Por Fernando Valente Pimentel*


Sua expansão corrói a confiança nas instituições, cria um ambiente de medo e incerteza entre os cidadãos e impõe custos adicionais aos negócios, desestimulando investimentos e prejudicando o crescimento. Além disso, o clima de insegurança incentiva a emigração de profissionais qualificados, privando o País do capital humano essencial para seu progresso.

O crime organizado tem demonstrado capacidade preocupante de penetrar em diversas atividades lícitas, corrompendo setores-chave da economia e da administração pública. Recentemente, surgiram suspeitas que ligam quadrilhas aos incêndios no interior de São Paulo, evidenciando a amplitude e a ousadia de sua atuação. Diante desse cenário, é imperativo que a sociedade mobilize-se para exigir dos poderes constituídos uma ação coordenada e eficaz contra essa ameaça crescente.

A complexidade e a escala do problema exigem uma resposta que vai além das ações isoladas das forças de segurança. É fundamental mobilização ampla da sociedade civil para promover a conscientização sobre a gravidade da situação e seus impactos de longo prazo, exercer legítima pressão sobre os políticos, as autoridades competentes e os Três Poderes e incentivar a colaboração cidadã com o Estado. Também é crucial apoiar iniciativas que ofereçam alternativas à marginalidade, especialmente para jovens em áreas vulneráveis, e demandar maior transparência nas ações governamentais e prestação de contas sobre os resultados obtidos no combate às facções.

Para enfrentar efetivamente o problema, é necessário que os Três Poderes atuem de maneira coordenada e determinada. O Executivo deve implementar políticas de segurança pública inteligentes, baseadas em evidências e com foco na prevenção e na repressão qualificada. O Legislativo precisa atualizar o arcabouço legal para facilitar as sanções, fechando brechas que favoreçam sentenças brandas em relação à gravidade de certos crimes e até a libertação precoce de bandidos perigosos. O Judiciário deve garantir a celeridade e a eficácia na aplicação da lei, evitando a sensação de impunidade que alimenta o ciclo criminoso.

O futuro do Brasil está intrinsecamente ligado à sua capacidade de enfrentar e superar a ameaça do crime organizado. Este desafio requer mobilização sem precedentes da sociedade, unindo cidadãos, instituições e poderes constituídos em uma frente comum. Somente por meio de um esforço coletivo e persistente será possível reverter o quadro atual e construir um país mais seguro, justo e próspero para as gerações futuras.

A hora de agir é agora. Cada cidadão tem um papel crucial nessa luta, seja pelo engajamento cívico, da cobrança às autoridades ou da promoção de valores éticos em sua comunidade. O Brasil tem os recursos, o talento e a determinação necessários para vencer essa batalha. É preciso, contudo, que essa vontade converta-se em ação concreta e sustentada.

Vencer o grave problema depende da capacidade dos cidadãos de se unirem e se mobilizarem contra a ameaça do crime organizado, exigindo e apoiando medidas efetivas para sua contenção e erradicação. Somente assim poderemos assegurar um futuro de prosperidade, segurança e desenvolvimento para todos os brasileiros.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

ARTIGO - Além das fronteiras: a expansão global da indústria têxtil e de moda brasileira

worldfashion • 16/08/24, 10:49

Por Fernando Valente Pimentel* e Lilian Kadissi*

A internacionalização das indústrias, ou seja, a expansão dos negócios para além das fronteiras nacionais, apresenta-se como estratégia fundamental para garantir o crescimento e a sustentabilidade das empresas em um cenário cada vez mais competitivo

Ao adotarem uma postura internacional, as empresas do setor podem acessar novos mercados, aumentando significativamente sua base de consumidores e diversificando suas fontes de receita. Essa expansão geográfica proporciona maior estabilidade financeira, mitigando os riscos associados à dependência exclusiva do mercado interno.

Além disso, a internacionalização estimula a inovação e a melhoria contínua dos processos produtivos. Ao competir em um cenário global, as empresas são impulsionadas a adotar tecnologias mais avançadas, aprimorar a qualidade de seus produtos e desenvolver designs mais sofisticados, alinhados às tendências internacionais.

No entanto, a internacionalização não é um caminho sem obstáculos. As empresas que desejam expandir seus negócios para o exterior enfrentam uma série de desafios, como barreiras comerciais, diferenças culturais, concorrência acirrada e complexidades logísticas.

Apesar dos desafios, as oportunidades oferecidas pela internacionalização são inúmeras. Além do aumento da receita e da diversificação de riscos, é possível fortalecer a marca, construir uma reputação global e acessar novas tecnologias e conhecimentos. A prospecção do mercado exterior também permite a criação de parcerias estratégicas com empresas estrangeiras, o que pode impulsionar a inovação e o desenvolvimento de novos produtos.

Para alcançar o sucesso na internacionalização, as empresas do setor têxtil e de moda devem adotar uma série de estratégias:

• Pesquisa de mercado: realizar estudos detalhados sobre os mercados-alvo, identificando as necessidades e preferências dos consumidores.

• Adaptação de produtos e marketing: desenvolver produtos e campanhas de marketing que atendam às especificidades de cada mercado.

• Certificações internacionais: obter certificações que atendam aos padrões de qualidade e segurança internacionais.

• Desenvolvimento de competências: investir em treinamento e capacitação de equipes para atuar no mercado internacional.

• Parcerias estratégicas: estabelecer parcerias com empresas locais para facilitar a entrada em novos mercados.

• E-commerce: utilizar plataformas de comércio eletrônico para expandir a presença online.

• Participação em eventos: garantir a participação em eventos estratégicos para a captação de clientes

Existem diversas fontes de apoio para as empresas que desejam se internacionalizar, como agências governamentais, associações de classe e consultorias especializadas. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), por exemplo, oferece uma série de programas e serviços para auxiliar na conquista de novos mercados.

A Apex, em parceria com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), mantém há mais de duas décadas o Programa Texbrasil, iniciativa que se consolidou como referência no setor. Por meio desse programa, as empresas brasileiras recebem suporte em diversas áreas, como qualificação profissional, inteligência de mercado, promoção comercial e sustentabilidade, o que lhes permite fortalecer sua competitividade e conquistar novos mercados.

O futuro da indústria têxtil e de moda brasileira está também muito ligado à sua capacidade de se internacionalizar. Ao expandir seus negócios para novos mercados, as empresas não apenas garantem sua própria sustentabilidade, mas também contribuem para o desenvolvimento econômico do País.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

*Lilian Kadissi é superintendente-executiva de Projetos Estratégicos da Abit.

artigo - a corrida de barreiras da indústria brasileira

worldfashion • 07/08/24, 14:26

Por Fernando Valente Pimentel*

A primeira ponderação a ser feita é que a perda de competitividade do setor não se deve a deficiências intrínsecas às empresas. É preciso considerar a formação dos custos dos produtos industriais e a rentabilidade efetiva da atividade, variáveis essenciais para cálculos de decisão econômica.
O setor, como os demais, enfrenta muitas barreiras: brutal tributação inserida nas cadeias de valor; elevados custos nos contratos e distratos trabalhistas; ônus da previdência social mais cara do planeta; e insegurança jurídica. Porém, é apenado de modo mais específico por outros fatores relevantes: impostos ainda maiores do que os das outras atividades; enorme dificuldade de acesso ao crédito com taxas razoáveis; longos ciclos de políticas macro com juros punitivos e câmbio apreciado (não competitivo); e concorrência desleal permitida a mercadorias similares importadas, como as que hoje são vendidas com privilégios tributários pelas plataformas de e-commerce, em ostensiva desigualdade frente aos produtos made in Brasil.
Há, ainda, a falsificação, o contrabando e o descaminho, que provocam dumping dos preços no mercado interno, em claro desrespeito à segurança e à boa-fé dos consumidores. Segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade, esses ilícitos provocaram, só em 2023, perdas de R$ 302 bilhões sobre 15 setores produtivos, a grande maioria na área industrial, além de uma evasão fiscal de R$ 139 bilhões.
O “Custo Brasil” é estimado como monstruosa sobrecarga anual de R$ 1,7 trilhão em relação à média dos países da OCDE. Se incluíssemos a China na conta, a diferença seria ainda maior. Assim, é prioritária a agenda para diminui-lo, na qual cabe concluir uma reforma tributária que, de fato, reduza o peso dos impostos sobre o valor adicionado e não só o mantenha, como se pretende. Também urge conter a expansão doentia da despesa pública, que rouba a produtividade nacional pela exagerada transferência de recursos do setor privado para o público. Esta é a raiz mais profunda da estagnação da produtividade. Por isso, é imperativo realizar a reforma administrativa, orçamentária e financeira, além de corrigir os demais fatores que oneram a atividade empresarial.
A indústria está muito atuante nesse sentido e buscando fazer a lição de casa do aporte tecnológico e produtividade. Prova desse empenho é que, nos 30 anos do Real, a inflação geral acumulada foi pouco superior a 750%. No mesmo período, os preços do vestuário, por exemplo, evoluíram cerca de 450%. Este segmento, no qual milito há muitos anos, foi o que menos majorou seus produtos, enquanto investia e aumentava sua produtividade, transferindo os ganhos para a sociedade. São avanços difíceis num ambiente de árdua competição do setor e de toda a indústria do Brasil contra empresas concorrentes de países com subsídios e arcabouço regulatório diferentes do nosso e, na maioria dos casos, muito mais amigáveis em termos de custos de produção e operação.
Enfrentamos, ainda, limitações quanto à mão de obra qualificada, problema estrutural da educação pública nacional, que segue sem a devida qualidade. É algo que afeta de modo mais incisivo um setor que exige capacitação elevada dos profissionais. Por esse motivo, a indústria, além dos altos encargos trabalhistas, investe pesados recursos em formação de recursos humanos. Trata-se de ônus adicional significativo.
A agropecuária brasileira, com a qual a indústria é às vezes comparada, movida pela capacidade de seus produtores e pesquisas da Embrapa e outras instituições, soube, de fato, ocupar os espaços mercadológicos globais. No entanto, embora conte com mais estímulos e melhores condições de financiamentos do que a manufatura e a despeito do seu meritório êxito, o agro tem segmentos que ainda não alcançaram níveis elevados de desenvolvimento e/ou competitividade em escala planetária.
Há de se considerar que a indústria de transformação não tem sido priorizada no País. Há muito tempo não conta com um programa, como o Plano Safra, com vultoso aporte anual de recursos e taxas de juros mais baixas. Além disso, embora represente 15,3% do PIB, paga desproporcionais 34,8% do total de tributos federais e tem um exclusivo que onera seus custos: o IPI. O agro representa 7,1% do PIB e responde por 0,6% dos impostos federais.
Com o mesmo volume de recursos (cerca de R$ 500 bilhões anuais), taxas de juros e nível de tributação do agro, a indústria de transformação também teria avançado mais em sua competitividade. A propósito, novo relatório da Fiesp aponta que, em 2023, as atuais distorções do sistema tributário custaram R$ 144 bilhões ao setor, que paga mais impostos do que os demais. Espera-se que a reforma, em seu processo de regulamentação no Congresso Nacional, estabeleça alíquotas mais equânimes para todos e não aumente a carga total.
Cabe ressaltar que, a despeito de todas as barreiras que tem enfrentado ao longo das últimas quatro décadas, a indústria responde por 66,6% das exportações brasileiras de bens e serviços, 66,8% dos investimentos nacionais em P&D e 24,4% da arrecadação previdenciária. Mantém mais de 11 milhões de postos de trabalho, emprega 21,2% de todos os trabalhadores formais do Brasil e paga os melhores salários (R$ 11,78 mil para os que têm Ensino Superior, ante média nacional de R$ 8,21 mil; e R$ 3,09 mil para quem tem o Ensino Médio, contra R$ 2,71 mil no País). Ademais, apresenta o maior fator de multiplicação, gerando R$ 2,44 para cada R$ 1,00 que produz. Na agropecuária esse índice é de R$ 1,71 e no comércio e serviços, R$ 1,52.
Apenas o importante fomento do agro e dos serviços, conforme atesta a realidade de nossa economia, inserida na armadilha da renda média, não tem sido suficiente para promover ampla inclusão socioeconômica, garantir crescimento sustentado em patamares consistentes, entre 3% e 4% ao ano, e elevar o grau de desenvolvimento. Para conquistarmos esses avanços, a indústria de transformação é decisiva, merecendo políticas mais efetivas e duradouras para sua modernização, ganhos de produtividade e níveis de competitividade compatíveis com a acirrada concorrência no mercado global. Contradiz o ideal da olimpíada econômica correr na mesma pista dos concorrentes, mas com barreiras somente na nossa raia.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

ARTIGO - Comércio digital global e a necessidade de novas regras tributárias e regulatórias

worldfashion • 15/07/24, 15:11

Por Fernando Valente Pimentel* e Patrícia Pedrosa**

Uma das mudanças mais marcantes tem sido o aumento vertiginoso das pequenas encomendas por meio do e-commerce. Esta tendência não apenas criou mais oportunidades de negócios para pequenos empreendedores, mas também fez grandes plataformas digitais ganharem relevante espaço no comércio internacional de bens de consumo final, como vestuário. Também devemos explorar essas novas formas de vendas para colocar mais produtos brasileiros no mercado mundial.

No Brasil, de acordo com os últimos dados divulgados pela Receita Federal, a média mensal de pacotes recebidos é de 18 milhões. Nos EUA os números são ainda mais expressivos. Estima-se que o país receba cerca de três milhões todos os dias. Será que as regras atuais de comércio internacional e as legislações implementadas pelos países são adequadas para lidar com as características especificas desse tipo de negócio?

O debate sobre o comércio eletrônico cross border tem se intensificado não só no Brasil, mas em todo o mundo. Questões tributárias, controle aduaneiro, oferta de produtos ilegais e falsificados são desafios que se apresentam com força. A regulamentação e aplicação consistentes de normas técnicas e padrões de qualidade também se tornam cruciais para proteger os consumidores e garantir a equidade no mercado.

Nesse contexto é que tem ocorrido a mobilização pela igualdade tributária no Brasil. Em seu mais recente episódio, foi estabelecida pelo Congresso Nacional taxação de 20% do Imposto de Importação para encomendas de até 50 dólares das plataformas internacionais. O fim da isenção foi um primeiro passo, mas o empenho pela isonomia continua, pois persiste grande diferença em relação aos 90% de impostos incidentes sobre a indústria e o varejo do nosso país.

Cabe observar que os benefícios concedidos às plataformas internacionais, a começar pela isenção tributária iniciada em agosto de 2023, e agora com uma taxação ainda muito aquém do que pagam as empresas brasileiras, são muito característicos de acordos comerciais entre países ou bloco de nações, como o que se está tentando efetivar há mais de 20 anos entre Mercosul e União Europeia. No caso da isenção e “preferência tarifária” para as encomendas internacionais via comércio eletrônico não houve nenhum processo de negociação com avaliação dos parceiros comerciais envolvidos e interesses ofensivos e defensivos.

O Brasil simplesmente ofereceu condições especiais a essas empresas estrangeiras, sem qualquer contrapartida ou negociação e de maneira muito simplista. Não se admite como contrapartida, como se justificou na origem do privilégio, a aderência dos sites de e-commerce ao Programa Remessa Conforme, pois cumprir leis e normas é obrigação.

Concessões dessa natureza neste novo cenário do comércio exterior geram riscos para os países, em especial num momento em que não se pode contar com arbitragem adequada de organismos multilaterais, num cenário geopolítico no qual a Organização Mundial do Comércio (OMC) parece letárgica, encontrando-se, inclusive, sem o seu órgão de solução de controvérsias. Assim, precisamos nos adaptar com os recursos e possibilidades que temos para vencer os novos desafios, o que inclui a igualdade de condições quanto aos impostos e ao aspecto normativo, tendência que já se observa na Europa.

É premente conferir o mesmo tratamento tributário, legal e regulatório a tudo o que é vendido em nosso país, prioridade que se coloca aos poderes Executivo e Legislativo e aos organismos reguladores e fiscalizadores. Caso contrário, seremos atropelados pela realidade irresistível de um planeta hoje sintetizado nas telas de múltiplos devices, no qual metade da população está a apenas um clic de comprar tudo o que desejar e de infinitas possibilidades de satisfazer seus anseios de consumo.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

**Patrícia Pedrosa é gerente de Comércio Exterior e Assuntos Regulatório da Abit.

da redação

ARTIGO - Muito além das blusinhas

worldfashion • 12/06/24, 15:36

Por Fernando Valente Pimentel*

Quem fabrica as roupas no Brasil – a indústria têxtil e de confecção – integra uma das cinco maiores cadeias produtivas do mundo e a maior integrada do Ocidente, desde a matéria-prima (natural, sintética ou artificial) até o produto que chega ao consumidor. Criar um parque produtivo igual ao nosso custaria hoje mais de R$ 400 bilhões. É um setor com operações em todo o território nacional, empregando 1,33 milhão de pessoas diretamente. Mais de 65% dos postos de trabalho são ocupados por mulheres e 85% dos negócios são de pequeno e médio portes. Estamos entre os 10 maiores mercados do mundo. Portanto, há muito mais do que blusinhas a ser defendido de uma descabida desigualdade tributária e regulatória.

Nesse sentido, foi importante a decisão do Senado, dia 5 de junho, de aprovar, no âmbito do Projeto de Lei 914/2024, o dispositivo referente ao Imposto de Importação de 20% nas compras de até US$ 50 nas plataformas internacionais de e-commerce. A medida, que já havia sido votada pela Câmara dos Deputados, atenua a desigualdade tributária em relação às empresas brasileiras.

Entretanto, é preciso alertar que a alíquota estabelecida ainda mantém uma grande diferença, considerando que os sites estrangeiros, além dela, continuam recolhendo apenas mais 17% de ICMS. A indústria e o varejo brasileiros, porém, pagam um oneroso pacote de impostos que chega a 90%. Persiste, assim, um cenário de desigualdade tributária e concorrência desleal.

As empresas nacionais já foram muito prejudicadas pelo benefício fiscal concedido pelo governo às plataformas internacionais de e-commerce desde agosto de 2023, por meio da Portaria 612 do Ministério da Fazenda. Foi uma insólita compensação para que aderissem ao programa Remessa Conforme, da Receita Federal. Ora, cumprir a lei é uma obrigação e não uma concessão em troca de privilégios.

Também cabe enfatizar a desigualdade regulatória, pois as mercadorias importadas por meio das plataformas de e-commerce não são submetidas à análise e à anuência de organismos como o Inmetro, Anvisa e Ministério da Agricultura e Pecuária, como ocorre com as nacionais e as que ingressam no País pelas vias aduaneiras regulares. É preciso avançar nesse controle, pois se trata de um monitoramento essencial para a segurança dos consumidores e no sentido de que tenham garantias quanto à qualidade e especificidade dos produtos.

A defesa da igualdade tributária e regulatória, que, apesar da medida aprovada pelo Congresso Nacional, ainda está longe de ser alcançada, não expressa qualquer xenofobia, mas apenas a necessidade lógica de condições justas e isonômicas para competir. O e-commerce e empresas estrangeiras são muito bem-vindos ao nosso país, em especial num mundo cada vez mais globalizado e sem fronteiras comerciais. Mas, não é plausível que disputem o nosso mercado favorecidos por privilégios, pois isso, muito além das blusinhas, afeta imensa gama de produtos e ameaça milhares de empresas e milhões de empregos.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

ARTIGO - O poder do Legislativo de preservar 18 milhões de empregos no Brasil

worldfashion • 03/06/24, 14:37

Por Fernando Valente Pimentel*

A expectativa é a de que, ao votar a matéria esta semana, o Senado adote a mesma atitude, pois se trata de um passo importante para solucionar a desigualdade tributária que afeta hoje a indústria e o varejo brasileiros. A alíquota de 20% para os sites estrangeiros ainda mantém um quadro no qual os que geram empregos no exterior, contando com subsídios dos países de origem para produzir e exportar, pagarão 44% no total, considerando os 17% de ICMS que já recolhem, ante uma carga de impostos de 90% para quem fabrica e comercializa produtos no Brasil, empregando milhões de pessoas. Porém, o PL é um relevante primeiro passo no sentido de corrigir a distorção de tratamentos diferentes dados a competidores do mesmo mercado.

Em 2023, a falta de igualdade tributária eliminou 30 mil empregos apenas na indústria e no varejo têxteis, a imensa maioria, em micro, pequenas e médias empresas. Assim, é descabido o argumento de que as plataformas estrangeiras beneficiam os mais pobres. Ao contrário, o privilégio fiscal de que gozam atualmente está aumentando a exclusão social.

Preços mais baixos não são estabelecidos de modo artificial por meio de benefícios para alguns dos competidores, mas sim pela concorrência igual para todos, com a prevalência das leis de mercado. Além disso, cada posto de trabalho perdido agrava o déficit previdenciário, que não será coberto por esses sites internacionais, nem por seus países de origem, mas sim pelos brasileiros.

Também é necessária a igualdade regulatória, ou seja, o cumprimento de todas as leis e normas. Isso inclui o controle e anuência por órgãos como Anvisa, Inmetro e Ministério da Agricultura e Pecuária, aos quais são submetidos os produtos nacionais e os que ingressam pelas vias aduaneiras convencionais. Porém, as mercadorias remetidas pelas plataformas estrangeiras seguem livres desse monitoramento.

Igualdade tributária e regulatória é a grande base de uma competição nivelada. Preconizamos menor carga de impostos indiscriminadamente. Isso contribuiria para mais investimentos e crescimento do PIB. Porém, enquanto não for possível, é imprescindível manter as mesmas condições para todos os que operam no mercado nacional. A livre economia não se faz com privilégios, mas com justiça!

*Fernando Valente Pimentel é o diretor-superintendente e presidente honorário da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

ARTIGO - Fast Fashion: a segunda indústria mais poluente…..

worldfashion • 10/05/24, 13:11

Fast Fashion: a segunda indústria mais poluente, repensar antes de comprar mais uma blusinha e um sapato.

Por Claudia Coser * e Nicole West *

O Fast Fashion, conhecido por sua produção em massa de roupas a preços acessíveis e pelas constantes mudanças de coleções para seguir as últimas tendências, tudo isso às custas de muito marketing com influenciadores, campanhas publicitárias e e-commerce com produtos e preços atrativos. Os consumidores, ao se olharem no espelho, no afã de estarem em dia com a moda, sequer se perguntam: quais danos ao planeta estão implícitos no hábito de encher guarda-roupas com peças que uso poucas vezes? Quais foram os meios de produção utilizados? E as pessoas que trabalham na cadeia produtiva desta indústria, estão em condições dignas de trabalho?

A constante pressão alimentada pelo marketing para seguir as últimas tendências leva os consumidores a comprarem mais do que necessitam e a descartar roupas em bom estado muito rapidamente, alimentando um ciclo vicioso de desperdício e excesso. Segundo relatórios da Ellen MacArthur Foundation, cerca de 60% das roupas são descartadas no primeiro ano de uso, enquanto 85% acabam em aterros sanitários. Esse looping perverso evidencia não apenas uma questão de desperdício, mas também uma falha sistêmica na forma como a moda é produzida e consumida atualmente, resultando em uma série de consequências adversas, desde a poluição da água e do ar até o desperdício de recursos naturais e condições de trabalho precarizadas.

As mídias sociais desempenham um papel significativo na formação dos padrões de consumo, especialmente no contexto da moda. Plataformas como Instagram, TikTok e Pinterest tornaram-se espaços onde as últimas tendências são exibidas, compartilhadas e até mesmo definidas. Os influenciadores digitais, muitas vezes pagos por marcas ou empresas de moda, têm um impacto considerável na maneira como as pessoas percebem e respondem às novas coleções e produtos.

O constante fluxo de conteúdo nas mídias sociais pode criar uma sensação de FOMO (Fear of Missing Out), onde os usuários se sentem pressionados a seguir as últimas tendências e adquirir produtos que estão em voga. Isso pode levar a um ciclo de consumo rápido e impulsivo, onde as pessoas compram itens apenas para se sentirem atualizadas ou aceitas dentro de determinadas comunidades online.

Já passou o tempo de mudar de cor a cada nova temporada, perpetuando tendências ultrapassadas e insustentáveis. É hora de reconhecer que a verdadeira mudança não vem apenas de onde compramos nossas roupas, mas sim de como as consumimos e valorizamos: precisamos repensar nossa relação com a moda, priorizando a qualidade sobre a quantidade, a durabilidade sobre a novidade; precisamos promover uma cultura de consumo mais consciente e sustentável, onde as roupas são valorizadas não apenas por sua aparência, mas também por sua origem, seus materiais e seu impacto no mundo ao nosso redor.

Há um movimento muito forte de negócios como brechós. Segundo dados apresentados pelo Sebrae no início de 2023, o Brasil abrigava 118.778 brechós em plena operação. Isso demonstra um notável crescimento de 30,97% ao longo dos últimos cinco anos.

Uma pesquisa da Global Data divulgada por um dos maiores brechós on-line dos Estados Unidos, o thredUp, revela que o mercado de roupas de segunda mão já cresce mais do que o do varejo em geral. A previsão é que o setor atinja US$ 64 bilhões (equivalente a R$ 317 bilhões) de faturamento em cinco anos e que, até 2029, ultrapasse o de fast fashion.

Enquanto inicialmente comprar em brechós pode parecer uma alternativa mais ética e sustentável, é fundamental considerar o impacto de nossos padrões de aquisição. A frequência constante nesses estabelecimentos pode, contraditoriamente, levar a um novo tipo de consumo desenfreado. Afinal, de que adianta buscar constantemente essas alternativas quando, em nossas casas, acumulamos pilhas de roupas que raramente ou nunca são utilizadas?

Para que um consumo seja sustentável, as pessoas precisarão mudar hábitos, comportamentos e cultura de consumo. Para autoavaliação do perfil de consumo, 3 questões serão muito úteis.

Consumo Sustentável

1 Eu preciso realmente comprar?

2 Estou no “controle da situação” quando faço compras ?

3 Escolho comprar de uma empresa responsável e sustentável ?

Consumo Insustentável

1 Meu guarda-roupas tem mais roupa que não uso, do que de roupas que uso ?

2 Estou comprando porque influencers recomendaram ?

3 Compro de empresas de venda fácil e acessível ?                                                                                                                   

É importante que as pessoas entendam que não se trata de poder ou não consumir. É uma questão de consumir com responsabilidade. E sim, todas as pessoas viventes no Planeta Terra devem ser cada vez mais responsáveis e sustentáveis. E isso não tem relação alguma com o poder aquisitivo, tem relação com a urgência dos problemas socioambientais que empresas e consumidores da indústria da moda têm total responsabilidade.

*Claudia Coser é doutora e mestre em Administração na área de Estratégia e Organizações e fundadora da Plataforma Nobis.

*Nicole West é designer e comunicação da Plataforma Nobis

Sobre a Plataforma Nobis: Atua na implementação de práticas ESG (princípios de meio ambiente, social e governança) em empresas de médio a grande porte, a exemplo da BASF e da Cargill. Conta com uma rede de mais de 60 especialistas responsáveis por gerar impacto ESG, prestando serviços que vão desde a implementação de projetos socioambientais, passando pela comunicação adequada para social branding, certificação dos investimentos em impacto e consequente expertise (how-to-do) e autoridade para palestras, treinamentos, implementação e incorporação de projetos permanentes, formas de investimento privado, comunicação e certificação de ações ESG. É signatária do Pacto Global desde 2020 e comprometida com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nos projetos que desenvolve, contando com a carta de Recomendação dos Escritórios das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS). É reconhecidamente sustentável e inovadora, sendo finalista do prêmio “Empresa Inovadora em Sustentabilidade”, organizada pela FIEP/SESI. Acesse a plataforma.

da redação com informações da Smartcom   foto: divulgação

ARTIGO - O importante equilíbrio fiscal no instável cenário do mundo

worldfashion • 06/05/24, 15:50

Por Fernando Valente Pimentel*
O momento de instabilidade global, que também afeta nosso país, provocado pelo quadro geopolítico tenso, a manutenção de taxas de juros elevadas nos Estados Unidos e a pressão sobre os preços de alimentos, commodities e insumos, exige atenção do setor público. Mais do que nunca, é importante buscar o equilíbrio orçamentário no âmbito dos Três Poderes, na União, estados e municípios.
Para isso, a mais plausível alternativa é a racionalização e melhoria da qualidade dos gastos, pois não há mais como aumentar a carga de impostos no Brasil, já excessivamente alta e onerosa para pessoas físicas e jurídicas. Também seria interessante rever incentivos fiscais que reduzem a arrecadação e, ao mesmo tempo, prejudicam a economia. Um exemplo é a isenção do Imposto de Importação para compras de até 50 dólares nas plataformas internacionais de e-commerce, benefício às estrangeiras nocivo à indústria e ao varejo nacionais, que, em decorrência, têm enfrentado uma grave concorrência desigual, com quedas de produção e perda de empregos.
No atual cenário, também é determinante mitigar todos os fatores que constituem o “Custo Brasil” e/ou provocam evasão de impostos e prejuízos aos setores produtivos. É o caso das perdas de arrecadação tributária referentes a atividades informais e/ou criminosas, que, em 2022, foram de R$ 136 bilhões. É o que demonstrou o seminário “Brasil Ilegal em Números”, realizado em Brasília, dia 18 de abril, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Para dimensionar melhor o que significa esse valor, fazemos uma impactante comparação: ele é superior ao orçamento de 2024 da prefeitura paulistana, o quinto do País, de R$ 111,8 bilhões. Ou seja, a cada ano perdemos mais do que uma São Paulo, maior cidade da América Latina, com seus 12 milhões de habitantes, para a sonegação e a evasão fiscais.
No total, segundo demonstrou o seminário das entidades, o contrabando, descaminho, pirataria, roubo, concorrência desleal por fraude fiscal, sonegação de impostos e furto de serviços públicos provocaram um prejuízo à Nação de R$ 453,5 bilhões. Além da perda de receita para saúde, educação, segurança, habitação e infraestrutura, o problema fere numerosos segmentos, dentre eles a indústria têxtil e de confecção, que representamos, com a concorrência desleal de produtos falsos, roubados ou fabricados de maneira ilícita e a falta de isonomia tributária.
Há soluções que podem ser adotadas de imediato, como a revogação da isenção tributária de até 50 dólares para as vendas das plataformas internacionais, e outras de médio e longo prazo, como a evasão fiscal, roubos e pirataria, que demandam medidas mais amplas, multidisciplinares e complexas. Mas, ambas são fundamentais.
Cabe imenso esforço em favor do equilíbrio orçamentário no setor público, da isonomia tributária e do combate à ilegalidade, pois é premente vencer os problemas que afetam o ambiente de negócios e dificultam o aumento da taxa de investimentos dos atuais 16% do PIB para cerca de 26%, índice balizador de um crescimento robusto e sustentado. Ademais, com o risco de piora do quadro fiscal, ressurge a possibilidade de se interromper o fluxo de queda dos juros ou até mesmo de o Banco Central voltar a aumentá-los para conter a inflação.
Para atenuar os fatores externos de instabilidade que nos afetam, não temos o poder de paralisar guerras, reduzir as tensões geopolíticas, controlar preços internacionais ou interferir nas decisões sobre juros do Federal Reserve (FED), o Banco Central dos Estados Unidos. No entanto, devemos trabalhar juntos para solucionar os problemas internos do Brasil e seguir uma trilha mais segura de desenvolvimento socioeconômico.
*Fernando Valente Pimentel é o diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

ARTIGO - A conquista do pleno emprego

worldfashion • 02/05/24, 15:57

Por Rafael Cervone*

O Dia do Trabalho, comemorado em 1º de maio, alertou-nos este ano sobre a prioritária criação de empregos em larga escala, visando aumentar e distribuir melhor a renda, ampliar a inclusão e prover vida com mais qualidade aos brasileiros. O desafio é grande, considerando que o contingente de pessoas em busca de colocação no País encontra-se em torno de 8,3 milhões, o equivalente a cerca de 7% da população economicamente ativa. Assim, esforço concentrado deve ser feito em todas as frentes para solucionar esse gargalo.

Afinal, por mais que sejam pertinentes os programas de renda mínima, o trabalho é o principal fator de justiça social, erradicação da miséria e exercício das prerrogativas da cidadania. A propósito, o mais relevante indutor da geração de empregos em profusão é o crescimento sustentando do PIB em patamares expressivos.
Por isso, é premente eliminar os entraves que emperram nossa economia, sintetizados no “Custo Brasil” e em suas múltiplas causas, dentre as quais os impostos excessivos, incluindo os ônus trabalhistas, insegurança jurídica, ciclos prolongados de juros elevados e dificuldade de acesso ao crédito. Também cabe atenção ao equilíbrio fiscal, importante para reforçar a confiança dos setores produtivos, reduzir pressões inflacionárias e atrair investimentos. É preciso buscar soluções para todos esses pontos.
A reforma tributária sobre o consumo foi uma vitória, tendo potencial para resolver parte do problema, desde que sua regulamentação, em curso no Congresso, estabeleça alíquotas racionais, não crie privilégios e seja feita dentro dos prazos compatíveis com o cronograma das mudanças. Também é urgente iniciar a votação da reforma administrativa, que está parada. Em meio a todas as providências necessárias à melhoria do ambiente de negócios, à dinamização do nível de atividade e ao aumento da competitividade, muitas de médio ou de longo prazo, são fundamentais iniciativas eficazes mais imediatas voltadas à criação e preservação de postos formais de trabalho.
Uma delas é a manutenção da desoneração da folha de pagamentos até 2027, conforme lei aprovada pelo Parlamento. Diante de seu significado para a economia, os 17 setores mais intensivos em mão de obra e as cerca de nove milhões de pessoas que empregam, é preocupante a insistência do governo em derrubá-la. Depois de esgotar todas as possibilidades de reverter a deliberação dos senadores e deputados federais, inclusive por meio de medida provisória, o Executivo recorre agora ao Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a constitucionalidade da matéria. Seria de bom senso rever essa posição renitente e acatar a reiterada decisão do Legislativo.
Dentre as ações de curto prazo, a que tem o maior potencial para estimular um grande número de contratações é a Nova Indústria Brasil (NIB), política pública federal lançada este ano, que prevê financiamentos de R$ 300 bilhões em quatro anos. É crucial o cumprimento dessa agenda, pois o fomento do setor, como se observou em vários países, é essencial para um robusto crescimento sustentado, elevação do patamar de renda e inclusão socioeconômica.
Uma indústria forte proporciona oportunidades de boas carreiras profissionais a um número maior de habitantes, paga salários maiores e favorece o avanço social. Também promove a inovação, o aporte tecnológico e a exportação de bens com alto valor agregado. Portanto, desempenha papel crucial na economia e na sociedade e é estratégico para consolidar a inserção segura do Brasil no cenário global
Há totais condições de viabilizar o desenvolvimento. Para isso, porém, precisamos remover os obstáculos históricos que travam nosso progresso e garantir o êxito de planos como a NIB. Todo empenho deve ser feito para que, nos próximos anos, possamos comemorar o Dia do Trabalho com a conquista do pleno emprego.

*Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).