ARTIGO - Moda do futuro

worldfashion • 21/11/23, 08:39

O que se projeta para o setor têxtil e indústria da moda daqui 10 anos?

*Por Karin Hellen Froehlich

A indústria da moda sempre foi um playground para inovações e tem por premissa atender uma das necessidades mais básicas do homem: cobrir o corpo. O Brasil é a maior cadeia têxtil completa do Ocidente, isso significa que temos desde a produção de fibras, passando por fiações, tecelagens, beneficiadoras, confecções até chegar no varejo. O faturamento da cadeia têxtil e de confecção brasileira chegou a R$ 190 bilhões em 2021 (IEMI 2022). Além disso, o setor da confecção é o segundo maior empregador da indústria de transformação, perdendo apenas para alimentos.

No entanto, hoje a indústria da moda vive um momento de dualidade: a agilidade e avanço disruptivo rumo a um futuro com novas tecnologias emergindo. E do outro lado, a sustentabilidade e ameaças climáticas em ascensão nesta que é uma das indústrias mais poluentes do planeta.

Portanto, o que pensar da moda daqui 10 anos? Com certeza a adaptação será uma ordem ao novo cenário da indústria da moda. À medida que as tendências acima mencionadas se tornam mais evidentes e implementadas mundialmente, as marcas que se tornarem mais responsivas às necessidades do mercado terão vantagem competitiva neste ambiente de rápida mudança. Da preocupação com a emissão de carbono na atmosfera até adoção da inteligência artificial, a indústria da moda está mudando e não vamos mais olhar para trás. Nenhuma marca ou varejista será capaz de evitar as pautas de sustentabilidade e digitalização, categorias que ao meu olhar, são as principais que determinarão as tendências da moda no futuro.

Hoje os consumidores têm inúmeras informações disponíveis na palma de suas mãos, trazendo uma dependência da indústria da moda nas ferramentas digitais. Além disso, clientes esperam por experiências personalizadas e recompensas por sua fidelidade. Uma pesquisa realizada pela Accenture revelou que 48% dos consumidores esperam tratamento especializado simplesmente pelo fato de serem clientes recorrentes.

Portanto, aqui estão algumas visões que acredito para o desenvolvimento da moda do futuro:

Saúde em foco: hoje já são experimentadas propriedades promotoras de saúde aplicadas em malhas e tecidos, como nanocápsulas integradas na trama que melhoram a regeneração da pele, ou aplicação de aloe vera para hidratação. Há ainda fios inteligentes que funcionam como condutores de dados para medir pontos de pressão e até mesmo fornecedores de energia para gerar calor ou esfriar regulando a temperatura corporal. Provavelmente este será um tópico que impulsionará o mercado sportswear a longo prazo.

Sustentabilidade: desde o lançamento do Pacto Global da ONU, fazendo luz à maior iniciativa de sustentabilidade corporativa mundial, este tema é uma megatendência que definirá a moda do futuro. A marca Patagônia, por exemplo, utiliza algodão regenerativo e promove produtores nos Estados Unidos que aderiram ao projeto. North Face também é uma marca que caminha nessa mesma direção. Além disso, há tendência para modelos de consumo alternativos, como o mercado de segunda mão que prevê um aumento para 34 mil milhões de euros até 2025. Pensando de maneira geracional, a geração Z estará mais interessada em usar peças do que as possuir.

Generalismo com os dias contados: há uma boa posição para marcas que oferecerão uma única categoria de produto como especialidade absoluta e assim alcançarão um alto nível de credibilidade. Trata-se do alinhamento de produtos de acordo com a necessidade customizada de um cliente, usando da tecnologia como a digitalização da cadeia de processos. No varejo não será diferente, há oportunidades para multicanais mais rápidos e adaptados às exigências de experiências dos consumidores. Amparados pela tecnologia, varejistas poderão usar ferramentas para obter o máximo de dados ao seu favor, como necessidades e comportamentos dos consumidores a fim de promover experiências mais personalizadas, como recomendação de produtos, comunicação mais exclusiva, levando a uma jornada de compra mais satisfatória para o cliente. Por consequência, melhora o desempenho dos negócios através de taxas de conversão e retenção.

Tecnologia pulverizada: com o avanço da inovação tecnológica, a moda sobe para um novo nível. Hoje já não é mais facilmente possível distinguir entre uma imagem de produto gerada digitalmente e uma fotografia. Isso abre possibilidades completamente novas para esse segmento: ferramentas de visualização 3D, modelagem digital, funcionalidades inteligentes, tecnologias vestíveis, além da adoção da tecnologia no processo fabril. A Sensoria Smart Socks, por exemplo, desenvolveu meias que detectam qual parte dos pés sofre mais pressão durante uma corrida. Com a crescente do e-commerce, produtos digitais serão experimentados através de avatares, desfiles de moda digitais e finalmente o metaverso, que abre um playground completamente novo para a moda digital.

Todas essas macrotendências abrem possibilidades completamente novas para a moda. Difícil falar tudo o que sairá do âmbito de tendência para concretizar como uma verdade comercial absoluta, porém, ao fazermos progressos para eliminar técnicas ambientalmente abusivas, adotarmos a inovação tecnológica ao nosso favor, práticas mais éticas em todo o ecossistema têxtil e primar pela qualidade, a moda em geral seguirá para um bom caminho.

Acima de tudo, meu maior desejo para nós, como indústria da moda, é permanecermos curiosos: estarmos ativamente abertos para novas descobertas, termos um olhar otimista em relação ao futuro, contar com profissionais que mudarão as coisas para o melhor. O mercado é altamente favorável para inovação, o que hoje parece fantástico e irreal, na verdade está muito próximo de se tornar algo normal.

*Karin Hellen Froehlich é Gerente de Marketing Global da Texneo, uma das maiores indústrias têxteis da América Latina.

ARTIGO - A prioritária agenda da produtividade

worldfashion • 13/11/23, 14:07

Por Fernando Valente Pimentel*


É importante termos consciência e diagnosticarmos com precisão o problema, para buscar soluções adequadas. No site Observatório da Produtividade “Regis Bonelli” do FGV IBRE, consta que o desempenho da indústria nacional nesse quesito caiu 0,2% ao ano entre 1995 e 2021, passando de R$ 38,8 por hora trabalhada para R$ 36,6. É preciso reagir já, pois se trata de melhorar a eficiência da economia.

Um país com alta produtividade é capaz de produzir mais bens e serviços com menos recursos, propiciando aumento do consumo sem gerar inflação de demanda, mais investimentos e exportações, incrementando a geração de renda e melhorando sua distribuição. Os reflexos são diretos no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no qual, segundo o mais recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), continuamos em má posição, ocupando o 87º lugar entre 191 países.
O grande paradoxo entre essa classificação e nosso porte de nona maior economia explica-se em grande parte pela baixa produtividade. Por isso, precisamos melhorar muito nesse ponto, pois isso nos proporcionaria numerosas vantagens, a começar pelo crescimento econômico sustentado e sustentável, com maior produção de bens e serviços e aumento substantivo do PIB.
Outro ganho seria a melhoria do padrão de vida, com o aumento da massa salarial e da renda per capita, sem a necessidade de majoração dos bens e serviços. Ou seja, os trabalhadores passariam a ganhar mais dinheiro sem ter de pagar mais pelos itens consumidos.
Também daríamos um salto na competividade internacional. Com maior produtividade, produziríamos mais, com menor preço, ganhando maior capacidade de concorrer no mercado global. Isso significaria mais exportações, ingresso maior de divisas e atração de investimentos produtivos. Há, ainda, o ganho ambiental, pois, produzindo mais com menos, economizamos energia, recursos naturais e água, preservando a natureza e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
Para conquistarmos o necessário avanço de produtividade, é pertinente conhecermos bem quais são os fatores que a afetam. O primeiro deles é o capital, cujo grau de disponibilidade determina a capacidade de investimentos na produção, máquinas e equipamentos avançados. Recursos humanos qualificados e bem-treinados também são essenciais, assim como a tecnologia e inovação. A combinação desses requisitos e o seu nível de desenvolvimento determinam a relação entre volume de produção e do montante de recursos nela empregados.
Para aumentar a produtividade, há uma série de políticas públicas a serem executadas com eficácia. Uma das prioridades é o investimento do governo em educação, infraestrutura e pesquisa e desenvolvimento, para que tenhamos novas gerações de cientistas e mão de obra altamente preparados e qualificados, inclusive com o olhar já voltado à digitalização da economia e ao advento da Indústria 4.0. O setor público também pode – e deve – promover a adoção de novas tecnologias por empresas e consumidores, bem como incentivar a inovação por meio de políticas fiscais e regulatórias.
Os desafios são grandes, pois o ganho de produtividade exige medidas em diferentes áreas. Porém, se avançarmos simultaneamente em todos os fatores determinantes para seu fomento, ingressaremos num círculo virtuoso de progresso, contribuindo muito para ascendermos ao patamar dos países de renda alta. Eis uma agenda prioritária para os brasileiros.

*Fernando Valente Pimentel é o diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

VAREJO - Inovação: autonomia, personalização e eficiência nas compras

worldfashion • 29/08/23, 13:29

Por Marcelo Sturn, Head de Professional Services para Varejo da Diebold Nixdorf no Brasil (*)

Novos horizontes estão em vista para o varejo brasileiro, que vem apresentando transformações profundas nos últimos anos. Baseado em um conjunto de fatores, incluindo a crescente classe média, a urbanização em aceleração e as evoluções nas preferências dos consumidores, o varejo, especialmente de alimentos, está se preparando para uma expansão significativa nos próximos cinco anos. A projeção é robusta: o mercado brasileiro de varejo de alimentos está destinado a atingir a impressionante marca de US$ 400 bilhões em faturamento até 2025, segundo relatório da Euromonitor.

Diante de um enorme potencial, o varejo vem ampliando de forma muito significativa a sua digitalização, justamente para ser capaz de atender toda a demanda projetada para os próximos anos. O varejo brasileiro está se adaptando rapidamente, impulsionado por diversas tendências emergentes. A partir dessa transformação digital, experiências inovadoras para os clientes estão surgindo, abrindo um universo de possibilidades, inclusive com novas tecnologias de compra autônoma. Soluções avançadas já estão redefinindo a maneira como a interação com as marcas e as aquisições ocorrem.

O futuro do varejo será definitivamente marcado pela completa dissolução das barreiras entre o ambiente físico e digital. Não se trata apenas de disponibilizar canais online e offline de compras, mas sim de criar iniciativas imersivas que conectem os compradores aos produtos de forma única. O figital, combinando o físico com o digital, está formando um novo caminho para o setor. A pandemia acelerou esse processo, tornando-o mais urgente e necessário para a sobrevivência das empresas. Como resultado, temos um cenário com mudanças radicais nos hábitos de consumo da população e novas oportunidades para uma vivência consistente no momento de compra, independentemente do canal escolhido. Esse novo caminho somente é possível por meio da tecnologia. Na prática, as empresas que adotarem essa tendência deverão oferecer experiências interativas na loja online, soluções de pagamento instantâneo no ponto de venda físico, com o uso cada vez mais comum de terminais de self-checkout, recursos de realidade aumentada para testar produtos, entre outras estratégias.

A Inteligência Artificial (IA) e o aprendizado de máquina também estão revolucionando a maneira como o setor se relaciona com seus clientes. Essas inovações permitem a criação de sistemas inteligentes capazes de analisar dados dos indivíduos, identificar padrões de comportamento e oferecer recomendações altamente personalizadas. Isso resulta em vivências de compra mais relevantes e convenientes, aumentando a satisfação das pessoas e impulsionando as vendas. A análise preditiva, também possível por meio da Inteligência Artificial, possibilita antecipar as necessidades e desejos das pessoas, adaptando as ofertas e promoções de acordo com suas preferências individuais. Essa abordagem proativa garante ao varejo estar sempre um passo à frente, proporcionando uma experiência excepcional e fortalecendo o relacionamento com o seu público para atender uma demanda cada vez mais crescente de personalização.

Para um atendimento mais eficiente, o varejo vem recorrendo também ao chatbot, que oferece uma comunicação rápida e eficiente 24 horas por dia, 7 dias por semana. Esses assistentes virtuais estão se tornando essenciais para agilizar as vendas e fornecer suporte instantâneo. Com os avanços na compreensão da linguagem natural, os chatbots estão se tornando cada vez mais inteligentes e capazes de interagir com pessoas de forma mais precisa, tanto no comércio físico quanto no digital.

Dentro desse contexto, é fundamental que o varejo conte com software e hardware capazes de atender demandas por inovação, integrando essas diversas tecnologias para ajudar a moldar o futuro do segmento. Self-checkouts e sistemas de ponto de venda (ePOS), cada vez mais baseados em Nuvem e adaptáveis aos movimentos emergentes do setor, são capazes de apoiar na automação dos processos de vendas e de atendimento, fornecendo mais autonomia nas compras com toda a segurança e agilidade necessárias. Os varejistas devem olhar com atenção a estes pontos, sempre priorizando a satisfação dos compradores e a rentabilidade do negócio. Contar com equipamentos e sistemas inteligentes, com máxima disponibilidade e eficiência para clientes, sem dúvida, não pode ser negligenciado.

O futuro do varejo se mostra bastante desafiador com a integração entre físico e digital, mais personalização e autonomia para experiências mais inovadoras. Companhias do setor precisam direcionar seus esforços para liderar esse processo de transformação, disponibilizando soluções avançadas que atendam os consumidores modernos para se destacarem em um mercado altamente competitivo. Ao abraçar essas tendências e proporcionar vivências únicas, certamente o varejo brasileiro poderá prover interações e jornadas de compra mais eficientes, levando o segmento a um novo patamar.

(*) Sobre a Diebold Nixdorf: Líder mundial no desenvolvimento de comércio conectado. A empresa automatiza, digitaliza e transforma o modo como as pessoas fazem compras e transações bancárias. Parceira de algumas das 100 maiores instituições financeiras e dos 25 maiores varejistas do mundo, as soluções integradas da Diebold Nixdorf conectam os canais físicos e digitais de forma conveniente, segura e eficiente para milhões de consumidores todos os dias. A empresa está presente em mais de 100 países, com aproximadamente 23.000 funcionários em todo o mundo.

Artigo - Como a indústria contribui para um Brasil Eficiente

worldfashion • 10/07/23, 14:24

Por Carlos Rodolfo Schneider(*)

O Brasil é um país que tem crescido pouco e de forma errática. A evolução da renda per capita deixa isso claro. Segundo dados do Banco Mundial, de 1980 a 2019, o crescimento acumulado da renda per capita na América Latina foi de 74%, nos EUA, de 95%, nos países do Sudeste Asiático, de 342%, e no Brasil de apenas 34%. Realmente não temos o que comemorar nesse cenário.

De outro lado, observamos aqui o mais intenso processo de desindustrialização do planeta. De acordo com o Banco Mundial, a participação da indústria de transformação no PIB caiu de 21,83% para 10,33% no Brasil, no período de 1991 a 2019. Na Europa o recuo foi de 18,91% para 15,33%, no Leste da Ásia, de 24,32% para 22,64%. Sabemos que os países que passam de um estágio de renda média para um de renda alta enfrentam um processo natural de redução da participação da indústria na economia em função da alteração do perfil do consumo da população, que passa a demandar mais serviços. É um processo gradativo e suave como o da Itália que caiu de 19,09% para 14,88% no período, da Suíça, de 19,74% para 17,92%, do Japão, de 23,46% para 20,05%, e da Alemanha, de 24,84%para 19,55%. Na América do Sul, e mais acentuadamente no Brasil, tivemos um processo muito mais forte e prematuro.  A indústria saindo de cena antes de o país alcançar o nível de renda alta. Significa que não é a mudança do perfil da demanda que está fazendo recuar a indústria e sim a competitividade da economia, que diminui a capacidade da nossa manufatura de disputar mercados.

Apesar de uma pequena melhora recente, os rankings de competitividade internacional têm classificado o nosso país numa posição nada confortável. A CNI (Confederação Nacional da Indústria), por exemplo, faz um levantamento do nosso potencial competitivo comparado ao de 17 países, cuja indústria compete mais diretamente com a nossa. No levantamento de dezembro de 2022 ganhamos uma posição, passando do penúltimo para o antepenúltimo lugar. O nosso pior desempenho está nos quesitos financiamento, tributação, ambiente macroeconômico, ambiente de negócios, infraestrutura e logística e mão de obra. É o conhecido Custo Brasil, uma bola de chumbo amarrada nos pés da indústria. A carga tributária mais elevada entre os países em desenvolvimento (32,5% do PIB contra média de 24,1% nos demais países do ranking), sistema de impostos caótico, insegurança jurídica, excesso de burocracia, infraestrutura altamente deficiente, baixa qualidade da educação (não por falta de investimento, mas por alocações inadequadas), comprometem a nossa produtividade e capacidade de inovação.

A Reforma Tributária que tramita no Congresso Nacional busca resolver ou amenizar o nosso manicômio tributário, o mais complexo, confuso e ineficiente regramento de impostos que existe. Se conseguirmos, será um grande avanço. Mas não esqueçamos que para encaminhar a principal preocupação dos empresários, e certamente também da sociedade, que é a redução da carga tributária, temos que fazer a Reforma Administrativa e perseguir a eficiência da administração pública. No momento em que se discutem no país novas regras para buscar o equilíbrio das contas públicas, condição para que a economia possa voltar a crescer de forma mais consistente, para que se aumente o PIB potencial, devemos olhar as boas experiências de outros países. E elas não deixam dúvidas de que aqueles que buscaram o equilíbrio fiscal e a retomada do crescimento pela redução e pelo aumento da eficiência do gasto público foram muito mais bem-sucedidos do que os que tentaram o caminho mais fácil do aumento dos dispêndios e da arrecadação. Os primeiros tiveram trajetórias mais modestas no início, mas consistentes e aceleradas depois. Os segundos têm escrito histórias de voos de galinha.

Importante o esforço que o Sr. Vice-presidente da República e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, vem fazendo em defesa da indústria brasileira e da sua modernização, com incorporação das tecnologias de última geração. Ele sabe bem que a indústria ainda tem papel importante a desempenhar para que  possamos entrar no rol dos países desenvolvidos. Mas para que isso possa acontecer temos que construir uma economia mais competitiva, isto é, um Brasil Eficiente. Ele também sabe . Tomara que os seus pares também enxerguem isso.

(*) Carlos Rodolfo Schneider é empresário e coordenador do Movimento Brasil Eficiente. Bacharel e Mestre em Administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), dirige hoje o Grupo H. Carlos Schneider, que inclui empresas como Ciser Fixadores, Ciser Automotive e Hacasa Empreendimentos Imobiliários.

da redação com informações da Engaje Comunicação

ARTIGO

worldfashion • 28/04/23, 14:01

Inovação impulsiona avanços na indústria têxtil

Por Carlos Fernandes*

Neste mês, no dia 21, comemoramos o Dia da Indústria Têxtil, setor que possui papel importante para geração de empregos e fortalecimento da economia no Brasil. A indústria têxtil brasileira tem o grande diferencial de contar com uma cadeia completa. Começando desde as fiações de diversas fibras sintéticas e naturais, até as confecções e marcas varejistas locais. Por outro lado, ainda precisamos melhorar nossa competitividade no mercado global.

Nos últimos anos, o setor têxtil passou por mudanças significativas, em especial em inovação e sustentabilidade. Os principais avanços envolvem tecnologia e sistema, a chamada indústria 4.0. Podemos ressaltar como exemplo o crescimento do ‘seamless’; as inovações em costura e modelagem; e os têxteis inteligentes que proporcionam produções e coleções cada vez mais personalizadas e customizadas para atender as necessidades do novo consumidor. Outro destaque é a rastreabilidade em toda etapa de produção têxtil, garantindo que os produtos sejam confeccionados conforme os mais rigorosos padrões de sustentabilidade e econômicos.

Após um 2022 desafiador, o setor têxtil vem retomando aos poucos seu ritmo em 2023. Temos boas perspectivas para este ano. A busca por inovações cresce, o que é o foco de nossa atuação.  Além das novidades e dos lançamentos da marca LYCRA® - como os fios LYCRA® ADAPTIV, LYCRA® EcoMade, LYCRA® SenseFX® e LYCRA® Anti-Slip - teremos novas aplicações e desenvolvimentos para as tecnologias LYCRA® T400®, COOLMAX® e THERMOLITE®, que serão lançadas por nossos clientes e parceiros ainda neste ano.

A The LYCRA Company assumiu um papel importante de liderança na indústria têxtil ao desenvolver para o mercado soluções inovadoras e sustentáveis de fibra, contribuindo assim para o fortalecimento do setor. Somos referência em inovação desde a criação do fio LYCRA® original, fibra revolucionária que mudou a performance e conforto dos tecidos há 65 anos.

Temos ações pioneiras que incentivam o setor a adotar novas práticas, com objetivo de reduzir o impacto ao meio ambiente. Recentemente atualizamos nosso Planet Agenda e apresentamos metas e compromissos até 2030, para consolidar uma produção cada vez mais sustentável. Nosso compromisso é elevar a qualidade dos padrões da indústria têxtil como um todo, sempre baseados em uma forte construção ética na condução dos negócios ao longo de toda a cadeia.

*Carlos Fernandes é diretor comercial América do Sul da The LYCRA Company

ARTIGO - TENDÊNCIA EM 2023

worldfashion • 09/02/23, 13:41

*Por Carla C. B. Schork

carla_texneoAs intensas demandas do setor têxtil por customização e velocidade na cadeia de suprimentos fizeram com que os processos de impressão tradicionais evoluíssem de maneira significativa no sentido da busca pelo melhor uso dos recursos como energia, água e matérias primas. Nos tempos atuais, o modelo de produção tradicional está em desacordo não apenas com as necessidades do planeta, mas com rígidas diretrizes globais e cada vez mais com as demandas dos consumidores finais, visto que novas gerações estão chegando ao mercado consumidor com uma preocupação maior com as questões de sustentabilidade. Em uma era de economia de energia, fabricação sob demanda e personalizada, qual é o escopo do problema enfrentado pelo setor têxtil e o que podemos fazer?

De acordo com o relatório da FESPA (Federação Global de Associações Nacionais) para a comunidade de serigrafia, impressão digital e impressão têxtil, a produção de vestuário consome cerca de 79 bilhões de metros cúbicos de água doce anualmente e estima-se que crie cerca de 20% da poluição industrial da água no mundo.

Ou seja, desta maneira, a popularidade da impressão digital têxtil está crescendo entre marcas e designers, que escolhem um processo ecologicamente mais adequado em comparação com muitos dos outros métodos tradicionais de impressão e tingimento. Sua reputação mais verde é predominantemente medida pela quantidade reduzida de resíduos inevitavelmente produzidos.

Neste contexto, empresas estão implementando em sua linha de produtos e em seu monitoramento industrial boas práticas, cruciais para o desenvolvimento responsável. Com a preocupação do uso eficiente da água em sua produção, investem na tecnologia da estamparia digital em seus produtos.

malhas_texneoA estamparia digital traz como principal diferencial a alta resolução de cores, não se limitando ao uso de quantidades de cores em uma única estampa. É o que há de mais moderno e inovador quando o assunto é estamparia, possibilitando maior flexibilidade na renovação de coleção pelo confeccionista, produções em lotes menores e alta capacidade de customização. Estes dois últimos atributos são muito relevantes para segmentos onde se busca pela diferenciação e há a necessidade de apresentar novidades de forma frequente ao consumidor. E, principalmente, carrega a vantagem da sustentabilidade, sendo um processo que evita desperdícios de matéria-prima e reduz o consumo da água, um recurso escasso e essencial em nosso planeta.

Já pensou em inovar o seu negócio?

*Carla C. B. Schork é diretora de Novos Negócios da Texneo, uma das principais indústrias têxteis no Brasil, com foco na produção de malhas em rolo para os segmentos sportswear, beachwear, underwear e lifewear.

da redação com informação da Piar Comunicação   imagens: fotos/divulgação

ARTIGO - O que nos une pelo Brasil

worldfashion • 16/11/22, 15:21

Por Rafael Cervone*

Mais do que nunca, é importante celebrar o Dia Nacional da Língua Portuguesa, comemorado em 5 de novembro, em alusão ao nascimento, nessa data, em 1849, de Rui Barbosa, advogado, político, diplomata, escritor, jornalista e imortal da Academia Brasileira de Letras. A despeito de alguns regionalismos, que expressam nossa riquíssima cultura e o pluralismo de nossa sociedade, o idioma nos une. E contribuiu muito para consolidar a unicidade de nosso território de 8,51 milhões de quilômetros quadrados, em princípio delimitado pelo Tratado de Tordesilhas e, depois, expandido para a realidade atual.

link2Além da língua, os 215 milhões de brasileiros têm muitos outros fatores que os agregam e configuram sua identidade como nação: a diversidade étnica e religiosa, na qual sempre aprendemos a conviver com as diferenças e cultivar a tolerância. Sim, somos um país construído por distintos povos e emigrantes; a literatura, filha exuberante do idioma, uma das mais belas do planeta; a música, que fundiu ritmos europeus e africanos nas marchas de carnaval, no frevo e no axé, transformou sagrados ritos em samba e mesclou o som dos povos originários em cantos de Norte a Sul, de Leste a Oeste; o futebol, no qual torceremos juntos pelo heptacampeonato nos gramados do Catar; e a religiosidade de muitos credos.

Não podemos permitir que a política, essência da democracia e do exercício da cidadania, nos desuna e seja objeto de truculência de quaisquer espécies. A divergência ideológica e partidária é saudável e se constitui numa das bases do Estado de Direito. Porém, jamais pode ser causa de ódio e separação das pessoas.

É surpreendente que um povo com tantos valores em comum e tão acostumado a conviver com as diferenças não consiga fazer do debate político um fator a mais para a busca de soluções, transformando-o num anacrônico “Muro de Berlim”. Aliás, o mundo comemora em 9 de novembro os 33 anos de sua queda, que simbolizou o fim da Guerra Fria entre o Ocidente e o Leste da Europa.

Concluídas as eleições de 2022, nas quais foi eleito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como governadores e parlamentares de distintos partidos e matizes ideológicos, é preciso derrubar as barreiras que têm separado nosso povo, como fizeram os alemães com o muro que os dividiu. Divergir, sempre, mas com caráter republicano, sem olhar quem pensa diferente como inimigo, mas sim como um parente, amigo ou colega de trabalho com visões diversas. Temos muito mais pontos em comum do que divergências e é na tolerância e respeito entre todos e na soma de suas ideias que haveremos de construir um grande e próspero Brasil.

*Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).

ARTIGO - Costurando o desenvolvimento

worldfashion • 25/10/22, 08:56

por Fernando Valente Pimentel*

Ao longo do Bicentenário da Independência do Brasil, comemorados em 2022, em cada ciclo de governo abriram-se oportunidades de avançarmos no desenvolvimento, nem sempre bem-aproveitadas. Na etapa delimitada pelas eleições desde ano, a correção das rotas que levaram a economia nacional a crescer pouco nas últimas quatro décadas transforma-se em compromisso e responsabilidade de todos nós e do presidente da República a ser empossado em janeiro próximo. O novo mandado — assim como dos governadores e legislaturas das assembleias legislativas e Congresso Nacional — será decisivo para que nosso país tenha uma chance concreta de viabilizar sua ascensão e um patamar socioeconômico mais elevado. A conjuntura global apresenta riscos graves e muitas possibilidades. Serão vitoriosas as nações que souberem mover-se com eficácia e eficiência nesse cenário.

fernando-pimentel-06É o que preconiza a “Agenda para o Desenvolvimento da Indústria Têxtil e de Confecção”, elaborada pela Abit, entidade representativa do setor, com base em ampla consulta aos empresários. O documento parte do pressuposto de que é imprescindível uma política industrial moderna e assertiva, como vêm fazendo os principais países, num movimento que se acentuou nos últimos anos, principalmente depois da pandemia e das crises relativas a conflitos e ao quadro geopolítico internacional, como ocorre no Leste da Europa. São muitos os planos de incentivos governamentais para estimular investimentos e assegurar a competitividade global de suas economias. Não se trata de copiar o que se faz lá fora, mas sim de entender as demandas, tendências e estratégias necessárias à inserção mais competitiva do Brasil no contexto global.

Em sintonia com o que preconiza a CNI, entendemos ser prioritária uma política industrial que contemple investimentos em tecnologias socioambientais sustentáveis, eficiência energética e fontes renováveis, digitalização de processos e uma sólida estrutura de governança. Inovação e fomento da pesquisa são cruciais. É preciso capitalizar nossas vantagens competitivas e aproveitar o potencial verde para consolidar posições de domínio tecnológico em cadeias estratégicas de valor.

Alinhados a esses pressupostos, os empresários têxteis e de confecção elencaram, em sua “Agenda para o Desenvolvimento”, suas prioridades para o novo governo, que começam com a efetivação, já no primeiro ano de mandato, das reformas tributária e administrativa, ambas já bastante discutidas no Parlamento e pelos representantes dos setores produtivos. A primeira deve modernizar a tributação do consumo, substituindo o PIS/COFINS, IPI, ICMS e ISS pelo IVA, e extinguir a guerra fiscal entre unidades federativas. É essencial, ainda, o reequilíbrio do peso dos tributos entre os distintos ramos de atividade, pois a manufatura está sobrecarregada, como se observa no fato de representar 11,3% do PIB e recolher mais de um terço de todos os tributos. Outra meta relevante é reduzir os custos para investimento produtivo, por meio de crédito e tributação mais vantajosos.

Quanto à reforma administrativa, é mandatória para que tenhamos um Estado menos oneroso para os contribuintes, mais eficiente na prestação de serviços aos cidadãos e à sociedade. O setor público precisa estimular os investimentos, a criação de empregos e o crescimento econômico, sem intervir no empreendedorismo e nos negócios privados.

Para a indústria têxtil e de confecção, uma das mais prejudicadas pelo problema, o combate à pirataria, contrabando e venda de produtos roubados é uma prioridade. Essa ação insere-se na necessidade de melhoria da segurança pública, com a articulação da Justiça, Ministério Público, polícias Federal, Militar e Civil, bem como órgãos municipais e representantes da sociedade.

O setor anseia, ainda, pela preservação e fortalecimento das regras fiscais, como o teto de gastos e a lei de responsabilidade fiscal, para coibir a tendência de despesas excessivas por parte do poder público. Em linha com esses propósitos, é crucial o controle da dívida pública, para que o País tenha solvência, cada vez mais credibilidade no mercado internacional e seja atrativo para os investimentos produtivos internos e estrangeiros.

O documento também enfatiza a premência do ensino de qualidade, a começar da Educação Básica. Outras medidas importantes são a ampliação da oferta de cursos profissionalizantes e tecnológicos alinhados às demandas industriais e da economia moderna e o fortalecimento da aprendizagem técnica de uma profissão no Ensino Médio, como instrumento de incentivo à empregabilidade dos jovens.

A saúde é outra prioridade, exigindo investimentos para sua melhoria e ampliação da capacidade de atendimento. O SUS, um dos maiores sistemas de assistência médico-hospitalar pública do mundo, demonstrou sua capacidade e pertinência durante a pandemia. É um modelo que deve ser aprimorado cada vez mais.

Como um dos protagonistas da economia brasileira e gerador de 1,5 milhão de empregos, dos quais 75% ocupados por mulheres, o setor têxtil e de confecção tem uma pauta aderente aos anseios da sociedade, aos contemporâneos preceitos de governança ambiental, social e corporativa (ESG) e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Nosso país tem de estar na vanguarda dessa agenda. Por isso, não deve insistir em teses e ideologias que já não deram certo no passado. É preciso entender o presente, fugir à armadilha de economia de renda média, à qual não devemos nos resignar, e construir um futuro com mais desenvolvimento e bem-estar social.

*Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Desafios e impactos da indústria têxtil brasileira

worldfashion • 19/10/22, 15:03

Artigo assinado pelo Coletivo Cria um grupo formado pelas indústrias têxteis
Cataguases, Dalila Ateliê Têxtil, Lancaster, Perfeito, RenauxView, Tecnoblu e Texneo

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Ao longo de quase 200 anos de operação, a indústria têxtil brasileira coleciona uma série de números que evidenciam a grandeza de sua potência na economia nacional: é a segunda maior empregadora da indústria de transformação - perdendo apenas para alimentos e bebidas -, está entre as cinco maiores produtoras e consumidoras de denim no mundo e entre as quatro maiores produtoras de malha mundial, além de ser a maior cadeia têxtil completa do ocidente - atuante desde a plantação do algodão até os eventos de moda nacional - segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit).

No entanto, apesar de tamanha relevância, o setor vem enfrentando uma série de dificuldades e sofre com os efeitos das crises provocadas pela pandemia de Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Dado que comprova que o momento é delicado para o segmento é a estimativa de crescimento médio do setor que, segundo a Abit, não deve ultrapassar 1,2%, neste ano. Segundo a entidade, mesmo com as adversidades, o setor trabalha de maneira firme e planejada suas estratégias para manter o crescimento com ganhos de produtividade e com forte ênfase nas agendas de sustentabilidade, inovação, tecnologia, investimentos e geração de postos de trabalho de qualidade.

No âmbito nacional, os problemas são muitos e se acumulam ao longo dos anos, como a falta de políticas de incentivo industrial, falta de mão de obra qualificada, ineficiências da malha logística, aumento nos custos de insumos, instabilidade cambial, além da concorrência desleal com os produtos importados, uma vez que seus impostos são menores e a mão de obra é extremamente desvalorizada - e, em muitos casos, análogas à escravidão. A pandemia que desencadeou uma crise econômica, somando-se à guerra entre Rússia e Ucrânia, países estratégicos para a exportação de insumos têxteis e fertilizantes, geraram entraves com efeitos em escala global que contribuem para o agravamento do setor enfraquecido nacionalmente.

Diante do complicado cenário atual, empresas se movimentam e apostam em soluções inovadoras para enfrentar as adversidades e avistar novas perspectivas para o futuro. A busca por novas alternativas de matérias-primas e modos de fabricação dos tecidos - como a redução do uso de água para a produção do jeans e, até mesmo, a reutilização de resíduos têxteis e de outros materiais recicláveis para produção e desenvolvimento de novos produtos - se tornou um caminho promissor para o fortalecimento da competitividade do setor.

Outra perspicaz aposta do segmento consiste na criação de grupos e coletivos formados por empresas do setor - concorrentes ou não - e indústrias relacionadas. Como exemplo, temos a realização do Coletivo Cria, evento que recentemente realizou a sua segunda edição, com o objetivo mostrar o poder criativo em uma coleção cápsula, com tudo o que a indústria da moda precisa, no que diz respeito à tecnologia e inovação, ofertando, além de produtos, serviços e recursos para atender às demandas de confeccionistas.

O Coletivo Cria nasceu com a proposta de mostrar que a união das empresas pode ser um grande diferencial para o mercado, além de lançar um salão de negócios para a moda casual brasileira que não existia. A exposição foi uma realização das indústrias Cataguases, Dalila Ateliê Têxtil, Lancaster, Perfeito, RenauxView, Tecnoblu e Texneo, com o apoio da Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC) e da FAAP. Ao longo de três dias, o evento, que se propõe a movimentar a indústria têxtil brasileira e seus confeccionistas, recebeu entre os visitantes profissionais do setor, estudantes e clientes.

A expectativa é que esse movimento cresça, siga adiante e contribua para que a moda tenha cada vez mais consistência própria. Esse esforço mútuo, junto ao compartilhamento de know-how, é depositado em pesquisas, desenvolvimento de coleções, novas estratégias e eventos que movimentam o mercado, além da promoção de debates sobre o cenário da moda nacional como forma de enxergar perspectivas futuras para a estrutura da indústria têxtil.

Além desses movimentos, a indústria têxtil nacional começa a aderir a investimentos em digitalização de seus processos, por meio da indústria 4.0, que integra o físico ao digital, automatizando dados e investindo em novos maquinários integrados, até mesmo à inteligência artificial, bem como a adoção das práticas de ESG.

Tais estratégias denotam que o momento é propício para o desenvolvimento de produtos inovadores - para além de ser apenas mais um tecido no mercado - que ofereçam verdadeiras experiências aos clientes. Validadas pelo mercado e pelos consumidores, a mudança de pensamento, de valores e investimento em soluções tecnológicas se tornam fatores indispensáveis para a retomada do crescimento e configuram-se como o caminho mais assertivo para a evolução da competitividade do setor têxtil nacional no exterior.

da redação - artigo encaminhado pela Oliver Press     imagem: foto/divulgação

ARTIGO

worldfashion • 10/10/22, 13:42

O manto da Padroeira

Por Fernando Valente Pimentel*

A Seleção Brasileira, que este ano lutará pela conquista do hexacampeonato mundial nos gramados do Catar, tem uma relação holística e transcendental com seu uniforme, para o bem ou o mal. Há episódios antológicos, nos quais o traje, como se fosse mais um jogador, ganha forte identidade como protagonista ou vilão.

nossa_senhora_aparecidaUma dessas passagens ocorreu há 72 anos, na chamada “tragédia do Maracanã”, quando perdemos, de virada, a final da Copa do Mundo de 1950 para os uruguaios. Poucos se lembram, mas o goleiro Barbosa não foi o único responsabilizado pela derrota por parte da imprensa e a opinião pública. A camisa branca com golas azuis também foi sumariamente condenada, sob a acusação de que não era “suficientemente nacionalista”. Expressando tal sentimento da torcida, o jornal carioca Correio da Manhã publicou editorial criticando-a pela “falta de simbolismo moral e psicológico”.

Oito anos depois da frustração pela perda do título no Rio de Janeiro, nossa seleção, já com a tradicional indumentária amarela, ganhou sua primeira Copa do Mundo, na Suécia, em 1958. O traje da finalíssima, embora improvisado, foi um dos protagonistas da vitória: alguns dias antes da partida, houve um sorteio para decidir a cor da camisa dos times, pois os adversários, os donos da casa, também vestiam amarelo. Perdemos. Por isso, foi necessário comprar às pressas um lote de camisetas azuis para a decisão.

A mudança parecia afetar os jogadores, já acostumados a jogar com a jaqueta canarinho. Percebendo o risco dessa reação emocional, o chefe da delegação, Dr. Paulo Machado de Carvalho, o Marechal da Vitória, reuniu o elenco antes do jogo e enfatizou: “Eu quis que vocês jogassem de azul porque é a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida, que está conosco”. O resultado todos conhecem! Sob as bênçãos da Padroeira, a seleção passeou no gramado do Estádio Rasunda, na cidade de Solna, batendo a Suécia por cinco a dois. Foram dois de Pelé, dois de Vavá e um de Zagalo. Desde então, o azul foi oficializado como segundo uniforme da seleção.

14785962351_342aa98ff5_z-430x640Transcorridos 64 anos da histórica conquista e às vésperas de tentarmos ganhar o sexto título mundial, é importante entender que, mais do que nunca, o uniforme tem significativos efeitos no desempenho da seleção. Aliás, não apenas da nossa, mas de todas as que participarão da Copa do Catar, assim como da grande maioria dos times de futebol profissional e demais esportes. Agora, a influência não tem apenas fatores emocionais, psicológicos, supersticiosos ou religiosos. Estamos falando de tecnologia!

O notável avanço dos equipamentos industriais, materiais, fios, fibras, tecidos e confecção resultaram em trajes de competição que reduzem a resistência do ar e da água nas disputas do atletismo e da natação e nos jogos de futebol, basquete, vôlei e outras modalidades. São mais leves, não retêm o suor, não irritam a pele, garantem plena ventilação, aumentam a microcirculação sanguínea, retardam a fadiga muscular e aceleram a recuperação, podendo até mesmo monitorar eletronicamente a performance.

Exemplo dessa evolução é o uniforme do futebol. Até o início dos anos 80, o material utilizado retia o suor. Um jogador perde de dois a três quilos durante o jogo. Metade disso ficava na camisa. Aí, veio outro tipo de fibra, utilizado pela primeira vez pela Seleção Brasileira na Copa do México, em 1986. Porém, o suor permanecia retido, agregando peso e esfriando o corpo do atleta. A partir dos anos 90, surgiram novos materiais, fibras e tecnologias de acabamento e fabricação. Tecidos inteligentes absorvem o suor e propiciam rápida evaporação. Hoje, 24 anos depois do primeiro modelo desse tipo de camisa, a atual é 13% mais leve e tem passagem de ar 7% mais efetiva.

A melhor notícia é que esses avanços também beneficiam os consumidores, pois são aplicados na produção regular do vestuário. Entretanto, os uniformes que vestirão as seleções no Catar, assim como as roupas de nosso dia a dia, não chegaram ao limite da evolução tecnológica. Estão em curso a Manufatura Avançada e o desenvolvimento de novas fibras e acabamentos, e o setor têxtil e de confecção brasileiro é um dos protagonistas desses avanços.

Cabe, ainda, uma redentora reflexão. Em plena era do conhecimento, da informação e da tecnologia, é preciso, finalmente, fazer justiça histórica, inocentando o goleiro Barbosa e a camisa branca, que obviamente não podem ser condenados pela derrota de 1950. Algo, contudo, permanece inabalável para milhões de brasileiros: a fé em Nossa Senhora Aparecida!

*Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).