worldfashion • 15/09/20, 15:38
O mercado brasileiro acena com significativo movimento de retomada, segundo a vice presidente da The Lycra Company, Adriana Morasco, em entrevista exclusiva ao World Fashion.
Segundo a executiva, que responde pelos negócios da companhia na América Latina, no ano de 2019 a empresa registrou notável crescimento em volume de vendas, o que seria um anúncio da retomada para 2020. “A chegada da pandemia da Covid19, no entanto, derrubou as vendas para patamares próximos ao zero no período de março a abril desse ano, só não sendo pior porque a indústria catarinense retomou as atividades um pouco antes que a região Sudeste”, revela.
A partir de junho, porém, com a reabertura gradual de alguns setores, ainda que com muitas restrições, as vendas de matérias primas do têxtil reagiram. “O percentual para as vendas de junho chegou a 30%, subindo para 50% em julho e chegando a 75% em agosto”, informa vice presidente da The Lycra Company, ressaltando que os índices animadores estão concentrados nos segmento de têxteis para vestuário e na divisão de “higiene e personal care” – especialmente de fraldas para bebês.
Essa reação nos negócios vem cercada de peculiaridades. “O consumidor, diante da ameaça vinda do coronavírus, estocou tanto papel higiênico quanto fraldas. Com estoques altos desses dois artigos em casa, as vendas retrocederam no momento seguinte ao início da pandemia”.
Já o mês de setembro veio registrando números iguais ou muito próximos ao do mesmo período de 2019, segundo a executiva, que tem ouvido os principais players do setor. Já se fala até em limitação de produção, devido à escassez de matéria prima, bem como de embalagens.
Protocolos
Outro aspecto limitante vem das regras de segurança sanitária impostas no momento. “Na linha de produção, a necessidade de distanciamento tem feito com que também os turnos de trabalho sejam revistos”.
Lycra tem fábricas na China, em Singapura, na Europa (duas plantas), nos Estados Unidos e no México, além do Brasil. “Como fomos a última região afetada pela pandemia, os protocolos de convivência já estavam em vigor em outras regiões. Assim pudemos entender e aplicar regras com segurança”.
Na relação entre gestão de pessoas e protocolos de segurança, The Lycra Company optou, por exemplo, por comprar tablets que possibilitaram o comando e gerenciamento de produção à distância. As visitas às plantas de produção foram suspensas, além da revisão dos turnos para refeições.
Se, por um lado, a pandemia limitou ações e confinou pessoas, por outro, “possibilitou que planos e projetos de digitalização ligados à segurança e sustentabilidade fossem acelerados”.
Cenário de retomada
A retomada se dá num ritmo acima do que todos previam, diz a empresária. “Até mesmo a sede da companhia, nos Estados Unidos, observa com admiração a retomada brasileira, tendo por base os níveis de produção e vendas para determinados setores”.
Isso não quer dizer necessariamente que o Brasil seja um ponto fora da curva dentro do universo de negócios de LYCRA®. “A retomada chinesa, seguida pela europeia, tem sido muito importante, e isso provoca certo desequilíbrio na produção e consumo no restante do mundo”.
Justificativas para a retomada no consumo existem. “O vestuário, principalmente num momento crítico como o atual apresenta-se, por exemplo, como opção para presentear. Além disso, recorrendo ao e-commerce, muitos consumidores adquiriram peças confortáveis para o trabalho em home office”. Adriana Morasco assinala que a relação custo/benefício, no caso do vestuário, é vantajosa. Há, segundo ela, um fator muito lembrado em momentos de crise: “nesses momentos, o segmento do vestuário é o primeiro a se abater e o primeiro também a reagir”. Na visão da executiva, seja comprando para si, seja para presentear, o vestuário é “um agrado que cabe no bolso”.
No caso de LYCRA®, o item conforto tem sido muito lembrado pelo consumidor na escolha da roupa, principalmente no atual cenário. “LYCRA® é matéria prima que atende essa demanda”.
Tivemos todos que nos reinventar rapidamente. O consumo visando ao fortalecimento da cadeia produtiva nacional chega como um reflexo de uma lição tirada da pandemia: daqui a pouco, teremos uma etiqueta LYCRA®, made in Brazil, de um produto produzido no Brasil para mostrar esse compromisso com a indústria local. Quando o consumidor chegar à loja, verá na roupa a etiqueta de LYCRA®, produzida no Brasil. Como canal de informação, o dado do made in Brazil é super relevante. Temos que valorizar isso no mercado e possibilitar que Lycra converse com o consumidor final.
Esferas de consumo
É possível diferenciar a oscilação das vendas ocorridas em diferentes níveis de mercado. “O consumo popular teve uma queda muito diferente, bem menor em relação aos artigos de preços mais altos”. Seja em polos de confecção do Nordeste, seja em regiões do Sul e Sudeste, a isto se inclui até a Feirinha da Madrugada, no bairro do Brás, o gráfico da queda é muito mais ameno. “Shopping centers e marcas consagradas sofreram mais este impacto”.
O conforto das roupas, por sua vez, parece ser um item essencial incorporado pelo consumidor no momento da compra. “As pessoas não querem mais abrir mão da roupa confortável, mesmo com o trabalho voltando ao ambiente empresarial”, afirma, acrescentando que Lycra preenche essa expectativa por parte do comprador.
Adriana Morasco lembra, nesse sentido, sobre o lançamento do fio LYCRA® MyFit™, ocorrido no final de 2019. A versatilidade do fio permite que uma marca de lingerie, com uma grade menor, ofereça igual conforto à consumidora. Isto porque uma lingerie de tamanho “G pequeno” ou “P grande” pode se adaptar confortavelmente à silhueta.
O fato é que o produto inovador motivou que empresas têxteis apostassem nos atributos do novo fio de LYCRA® para otimizar lançamentos e vendas. “Durante a pandemia, várias malharias nos procuraram para lançar em curtíssimo prazo novos artigos com a LYCRA® MyFit™”, revela. Este é o caso da Rosset que, em parceria com a Body For Sure, desenvolveu a linha LYCRA® Energise, com esta característica de conforto. Vale lembrar que a Rosset fez grande investimento em vários setores da fábrica, visando à modernização e produtividade.
A Vicunha, conforme lembra a executiva, é outra das empresas brasileiras que tem plano de constante investimento no próprio parque industrial. “A companhia fechou uma das unidades e investiu nas outras. O denim com LYCRA® na composição tornou-se exigência do consumidor”.
As inovações que atendem as demandas que nasceram no período de pandemia serão aceleradas, na visão da executiva. O mesmo ocorreu com o LYCRA® EcoMade, 100% produzido no Brasil. A matéria-prima para a fabricação do fio é justamente o refugo gerado na linha de produção da fábrica. “O apelo, calcado na sustentabilidade, é forte e será evidenciado em outubro próximo com o lançamento programado por um importante parceiro têxtil de LYCRA®, juntamente com uma grande rede de varejo”, afiança Adriana Morasco.
Pesquisa
A imagem da LYCRA® está em plena sintonia com requisitos como qualidade, conforto e inovação. “Em recente pesquisa, vimos que a marca tem ótima conexão com o item qualidade”, destaca, destacando que sustentabilidade é outro atributo procurado pelo consumidor de LYCRA®.
Em contrapartida, o público, na visão da vice-presidente da The Lycra Company, também reviu o posicionamento pessoal em relação ao consumo. “Muitos puderam checar o próprio guarda roupa, refletindo se algumas de melhor qualidade, por exemplo, podem substituir peças de padrão inferior”.
Meta para 2021 e a nova década que se inicia
O desempenho atual é bastante positivo, conforme aponta a empresária, e a companhia mantém o compromisso de focar em inovação, “seja investindo em ações no Brasil ou trazendo modelos de fora, desenvolvidos em outras plantas”.
Segundo Adriana Morasco, a meta para 2021 é que os negócios ocorram em patamares similares aos de 2019, considerado um ano de crescimento para a indústria como um todo. “Se o ritmo se mantiver como o atual, atingiremos essa marca”.
“Retomaremos os patamares de 2019 em volumes de produção e vendas”, prevê, mantendo sigilo quanto a cifras de faturamento. “Até porque estamos sob a influência do câmbio, o que impacta sobre os preços de matérias primas do setor químico”. Ela observa que há um limite no repasse de preços para o mercado. “Se houver alta significativa no valor de uma matéria prima ou variação importante do câmbio, a rentabilidade do negócio será afetada”, contabiliza.
A empresária frisa que o parque industrial brasileiro está muito preparado tecnologicamente. “Muitos grupos fizeram investimentos em produção industrial e estão muito preparados para produzir um volume adicional”.
O fato de o Brasil ter a cadeia completa de produção – da matéria prima até a Semana de Moda, passando pelos demais elos – “faz com que tenhamos desempenho excepcional”. A isso soma-se o grande contingente de consumidores do País. “Sem contar a tendência verificada entre os importantes players do varejo que, ao contrário do comportamento anterior, agora mostram o interesse pelo produto feito no Brasil”. O impacto, dessa forma, será muito grande no setor como um todo.
Qualidade nacional
Otimista, a vice presidente da The Lycra Company afirma que haverá um fortalecimento da cadeia têxtil nacional de produção e, consequentemente, empresas preparadas para as exportações se beneficiarão com o atual câmbio. “LYCRA® atende todas as malharias grandes e inovadoras do mundo e, com certeza, as empresas brasileiras do setor não deixam a desejar a nenhuma delas”. A maioria das tecelagens que LYCRA® atende fizeram investimentos para conseguir utilizar o “kit” LYCRA® MyFit™, porque trata-se de um composto de produtos.
O Brasil é muito relevante para a LYCRA® como negócio. No comparativo, o Brasil tem grande relevância. Temos uma fábrica aqui instalada desde 1974, com investimentos constantes em tecnologia, pois o país é estratégico para esse atendimento para a América do Sul.
Houve preocupação por parte das empresas na conservação dos empregos. No passado, em meio a uma crise, as demissões seriam uma saída. “Hoje não, o esforço foi justamente pela manutenção da mão de obra. Houve demissões nas confecções pequenas que não tiveram acesso ao crédito. No geral, a preocupação foi pela preservação de empregos”.
“Estamos assistindo a um movimento de valorização do que é produzido no Brasil, com uma cadeia logística mais curta. Quando uma empresa do porte da Renner dirige-se ao mercado para dizer que deixará de importar determinados itens para comprar localmente, o impacto é muito grande para o setor como um todo”.
Por Eleni Kronka imagens: fotos/divulgação