Setembro em Paris
worldfashion • 06/10/21, 10:18Duas semanas, na capital francesa, valem muito para pesquisa de tendências do VM (visual merchandising), da moda, do design e do modo de viver.
By PhD. Sylvia Demetresco (*)
As feiras de moda WHO’S NEXT, IMPACT, RIVIERA & EXPOSED, BIJORHCA, VILLA BEAUTÉ ET LIFESTYLE e Salon du Mariage, agrupadas em dois pavilhões na Porte de Versailles, estavam bem menores, com 600 expositores entre as quais 150 novas, consideradas as novas pepitas, apresentaram as novas coleções aos profissionais e compradores internacionais, as tendências de amanhã e um encontro tão desejado de networking para os negócios possíveis.
Who’s Next dedica-se ao pret-a-porter, Impact a moda eco responsável e sustentável, Traffic a soluções inovadoras e Bijorhca à joalheria.
Riviera Paris reúne o beachwear: moda praia ensolarada, chique com tecidos algodão bordados ou enfeites com conchas.
Bijorhca reúne os segmentos: as griffes criativas « Fashion », as marcas novas « Trends », artigos em prata « Précieux » e aos técnicos e consertos « Elements ».
No espaço Impact surge a agência LA COUR PARIS x Hummade que foca como a moda poderia se engajar de maneira eco responsável e, como fazer a transição necessária para qualquer marca do segmento de moda.
Na villa Beauté novas marcas como:
LES SAVONS DE BEA - história de fabricar sabonetes 100% naturais com a metodologia da saponificação a frio.
JE COSMÉTIQUE - Se intéressa aos ingredientes naturais: les huiles végétales et les huiles essentielles.
NYA PARIS – a necessidade das mulheres negras de terem cosmética adaptada a sua pele.
No espaço calçados e foco foram os tênis:
NEWLAB – estilo minimalista com matérias brutas italianas, sofisticadas, superconfortáveis por terem palmilhas interiores que podem ser trocadas para maior conforto.
SNEAKCARE – spray que prolonga a vida dos tênis, mais resistentes e impermeáveis.
BLUNDSTONE - desde sua criação em 1870 à Hobart na Tasmânia, esta marca de botas é a mais reconhecida por ser inspirada na história e no patrimônio da Tasmânia.
0-105 – Coleção gráfica inspirada na cultura urbana, cada calçado feito manualmente com couros da Toscana.
OPENHAGEN STUDIO – fundada pelo Liebeskind, fabricada na Itália Portugal, em couros lisos e de tons claros.
A vedete:
LE LISSIER – tênis confeccionados com tecidos que sempre usam o upcycling e Made in France e com edições limitadas. Esta marca trabalha sempre com tecidos que já foram utilizados para cenografias, sinalética, eventos ou outdoor. A pouco tempo criou um tênis com tecidos do castelo de Versailles: um elegante tênis fabricados à partir de tecidos da cenografia da exposição « Hyacinthe Rigaud ou le portrait Soleil » com o desenho da fleur de lys dourada (Flor de Lis - símbolo dos reis da França). Agora esta marca está focada em reaproveitar os 25mil metros de tecido que cobriram o Arco do Triunfo (dias 18 a 20 de setembro) num evento da Design Week, imaginado pelo artista Christo e realizado por sua esposa e equipe. São estes 25 mil metros tecido mais 7mil metros de cordão vermelho que amarraram o tecido ao redor do arco do Triunfo. … e agora este material será reutilizado para criar um tênis. De um produto a outro, o corte, as estampas e o design se modificam o que torna cada um desses tênis em peças únicas e especiais. São todos fabricados manualmente em Portugal. Uma segunda vida dada a tecidos cenográficos.
O Salon du Mariage, também na Porte de Versailles, em 8 mil metros e com 300 expositores, para tudo que é preciso para um casamento. Desde o vestido de noiva, as roupas do noivo e dos padrinhos, a decoração, o buffet, os acessórios, a música e até lugares de sonho para a festa, mostrando as tendencias para este segmento.
Ao mesmo tempo rolam exposições de moda com as fotos de Peter Lindbergh no espaço fundação do designer Azzedine Alaïa. Uma cenografia original com umas cinquenta fotos PB dos anos 1980/90 com as roupas de Alaïa. Madonna, Naomi Campbell, Marie Sophie Wilson, Tina Turner, todas com roupas assinadas Alaïa em paisagens diversas como a torre Eiffel, as ruas de Paris e as praias do Touquet e Deauville. Uma exposição que nos embarca no mundo de moda, olhares, paisagens e roupas desconcertantes. A construção da exposição na fundação Alaïa é toda branca. Altas divisórias brancas delineadas com fios de luz néon branca, uma cenografia na qual só as roupas negras se destacam.
Outra exposição foi a de Jérôme Blin num universo suntuoso dentro do Hotel Sofitel Paris Le Faubourg, suas silhuetas negras com toques de ouro, sejam fios, rendas, bordados e folhas voadoras, recheiam vitrinas e o hall de entrada do hotel. Uma mulher enigmática, audaciosa, sofisticada, moderna e rica. Guipure, fitas, tule, tecidos misturados, renda de Calais, penas se misturam nestas roupagens luxuosas.
Maison & Objet
A cada ano o Salão Maison & Objet cria um tema, nesta edição o tema era “Desenvolvimento Desejável”, como nova análise ao decifrar quais as tendencias do momento e os comportamentos de consumo.
Este tema permite alinhar produtos éticos e soluções práticas para mostrar o que está fazendo parte, nos modos de viver do ser humano, em todas as moradias. Para isto a tendencia verbal do salão está entre “durável” e “desejável”.
Serenidade, espiritualidade, solidariedade, durabilidade foram separadas em quatro eixos profundos: autenticidade e proximidade; super sensibilidade; human tuch valorização do saber fazer; e take care on Earth (assumir as responsabilidades ambientais).
Share (novos produtos), Leisure (para estar em casa), Mom Village (últimas criações em design), Academy Studio (informar, formar e inspirar), Materiautheque (materiais tecnológicos e inovadores) e Ligth Trend (a importância do papel da luz em tudo). Estes foram os espaços criados para entender como o objeto se aloca nas casas, escritórios, hotéis, lojas, restaurantes, eventos, exposições etc.
Depois de mais de 15 meses sem o salão físico por causa da pandemia, em Villepinte, vieram 48.641 visitantes, num clima de felicidade e bons negócios. Expositores e público se entenderam e negociarem bem de acordo com Philippe Brocart, diretor de Maison&Objet. Claro que houve uma baixa na presença, mas havia 13.660 visitantes internacionais. Foram 1746 marcas (normalmente eram 3 mil marcas) que estiveram presentes, sendo que 349 novas entradas.
Como sempre no Hall 6 havia as grandes empresas de design, iluminação, decoração, mobiliário, divididos em Forever, Ecletic, Today. No pavilhão 5 Fragrances, Home e Craft – um dos melhores com novos artistas. No pavilhão 4 Cook and Share e o painel de tendencias. Nos outros três um mix de Smart Gifts, Kids & Family, e Fashion Accessoiries.
Algumas apresentações se destacam no meio de tantas possibilidades!
Light Trend empresa de iluminação da dupla Akari-Lisa Ishii & Motoko Ishii se superou ao apresentar luminárias, espaços especiais para luz acoplada a higienização, criando 5 palavras chaves para o bem-estar do usuário: High-giene, High-brid, High-ligth, High- tech, High-touch. Com uma luminária em que é possível colocar a máscara ou qualquer objeto no seu interior para ser higienizado com um design majestoso e que também pode ser um mancebo, criando sombras no solo por conta da estrutura em filamentos; ou com a cápsula para os atletas olímpicos; ou ainda com a sapateira que se abre e fecha num toque, tudo extremamente pensado e útil, sempre focando o bem-estar das pessoas.
A Bokart, uma empresa da Croácia que cria paredes de espelhos com texturas internas, ao modo tradicional, mas com uma expectativa tecnológica rara, para decorar e espelhar ambientes diferentemente.
Nesses tempos de pandemia a Blocko criou pequenos espaços redondos para reuniões a dois que podem ser instaladas em bibliotecas, restaurantes, escritórios ou outros lugares. Havia várias marcas alocadas num espaço central da feira com este tipo de ambiente, portátil, separado e inovadores.
A Materiautheque era um espaço negro grandioso, apresentando novos materiais que, enclausurados em bolhas de acrílico, subiam e desciam como gangorra e, no solo havia a informação precisa de suas especificidades.
Na parte Crafts onde artistas plásticos se reuniram com ofícios de tradição as mais interessantes foram Fanex que cria ovos/caixas de porcelana de Limoges; Fuseau de Lavande, com sua técnica centenária, traz a lavanda trançada, desde o tempo dos reis, para servir de saches perfumados com a própria planta; a artista Nathalie Borderie com seus vidros encantados; e Benedict Vallet com suas esculturas de porcelana, com mil formatos, que se contornam em cordas e formas, quase como um tecido alinhavado com fibras naturais.
Por fim nos acessórios uma marca de bijuteria embaladas em casca de ovos, num stand micro e bem bolado, amarelo gema com palha, muito simples e muito vistoso.
Assim um pequeno extrato do que acontece na moda em Paris nesta semana de moda em setembro.
(*) Sylvia Demetresco é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, com pós-doutorado em Semiótica no Instituto Universitário da França, em Paris. Professora de Visual Merchandising na Ecole Supérieure de Visual Merchandising, em Vevey, na Suíça. É autora de livros sobre vitrinas, entre os quais: Vitrina Construção de Encenações (Educ/Senac), Vitrinas Entre-Vistas: Merchandising Visual (Senac), Vitrinas E Exposições: Arte E Técnica Do Visual Merchandising (Editora Érica, 2014) e Vitrinas: Arte, História e Consumo de São Paulo (Via das Artes, 2014). contato: sylvia@vitrina.com.br | www.vitrina.com.br
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- tags: #PARIS SETEMBRO 2021