ARTIGO - Eleição de 2026 é oportunidade para elevar o debate nacional

worldfashion • 12/11/25, 16:12

Por Fernando Valente Pimentel*

Daqui a 12 meses, o Brasil definirá não apenas o governo de 2027 a 2030, mas também e talvez sobretudo, os rumos que pretende seguir diante de um mundo em profunda transformação. As eleições do próximo ano terão papel decisivo em estabelecer que tipo de país desejamos construir: mais produtivo, competitivo e inclusivo, ou preso às amarras da polarização e do baixo crescimento.

Nos últimos anos, o debate público tem sido capturado por uma lógica de confronto não construtivo para os objetivos de crescimento sustentado e desenvolvimento. Essa dinâmica empobrece a política e ofusca discussões essenciais sobre o futuro, como a modernização do Estado, a eficiência dos serviços públicos, a competitividade das empresas e os investimentos prioritários em educação, saúde, saneamento básico, segurança pública, inclusão social, infraestrutura, transição energética e meio ambiente.

Entretanto, pesquisa recém-divulgada pela More in Common, em parceria com a Quaest, publicada em 14 de outubro pelo Estadão, oferece um alento. Revela que a sociedade brasileira é muito mais diversa e matizada do que a caricatura de “duas torcidas” opostas. O levantamento identifica grupos como os progressistas militantes (5%), desengajados (14%), cautelosos (27%), conservadores tradicionais (21%) e patriotas indignados (6%). Em outras palavras, há numerosos cidadãos que não se encaixam na polarização e estão abertos ao diálogo e à construção coletiva de soluções.

Esse grupo intermediário e moderado, possivelmente majoritário, pode delimitar o espaço decisivo para o avanço do Brasil. É nele que se encontram os brasileiros interessados em discutir propostas concretas para que o País supere a chamada síndrome do rendimento médio e conquiste uma trajetória de desenvolvimento sustentável e próspero.

O êxito nesses objetivos implica adotar uma agenda de competitividade sistêmica, que fortaleça as empresas nacionais para competir globalmente com qualidade e inovação. Pressupõe, também, governos eficientes, que entreguem serviços compatíveis com os impostos pagos, e investimentos estruturantes nas prioridades que apontei anteriormente.

Mais do que isso, é hora de subir o nível do debate público. O Brasil precisa de metas objetivas e transparentes, indicadores claros e de fácil compreensão pela sociedade e candidatos comprometidos com resultados mensuráveis. Preservar a democracia liberal, o livre mercado e uma política social vigorosa financiada pelo crescimento econômico e humano é o caminho para equilibrar eficiência e inclusão.

O País tem evoluído e dispõe de oportunidades extraordinárias. Porém, só as aproveitará plenamente se for capaz de romper a bolha da polarização e reencontrar a via do diálogo e da razão.

*Fernando Valente Pimentel é o diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Congresso Internacional ABIT

worldfashion • 29/10/25, 16:21

Em pronunciamento remoto, Ricardo Steinbruch, presidente do Conselho de Administração da ABIT, afirmou que produtividade significa muito mais do que eficiência econômica: “É a essência do que buscamos, ou seja, um futuro mais sólido, justo e com mais oportunidades para o setor e para o País”. Ele defendeu investimentos em educação, tecnologia, inovação, automação e sustentabilidade, além de avanços em infraestrutura, segurança jurídica e ambiente de negócios.

Steinbruch alertou para o impacto da informalidade, que “cria concorrência desleal e bloqueia o avanço da produtividade”, e apontou a necessidade de uma taxa de investimento de 25% do PIB, contra os atuais 18%. Segundo ele, o setor têxtil e de confecção precisa investir R$ 15 bilhões anuais para manter sua posição atual e R$ 20 bilhões para crescer. Também destacou a urgência das reformas estruturais e criticou “juros altos e câmbio volátil” como entraves à competitividade.

O diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luís Gordon, ressaltou que a disputa global é por domínio tecnológico e industrial. Informou que a Nova Indústria Brasil (NIB) já aportou R$ 240 bilhões até setembro deste ano e que o BNDES e a Finep destinaram R$ 57,7 bilhões à inovação desde 2023. Mencionou, ainda, a nova linha de R$ 10 bilhões para a Indústria 4.0 e outros R$ 30 bilhões para apoiar empresas afetadas pelas novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos.

Em mensagem de vídeo, Ricardo Alban, presidente da CNI, destacou a relevância do setor têxtil na geração de empregos e inovação. Em seguida, Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e presidente emérito da ABIT, reiterou que o mundo está discutindo quem vai tomar conta das tecnologias, mas o fator humano é fundamental para a produtividade e o crescimento sustentado.

“Precisamos atrair e reter talentos, e estamos trabalhando nisso na Fiesp e no CIESP”, frisou. Porém, alertou que os setores produtivos no Brasil estão competindo por recursos humanos com o crime organizado, que já o maior ‘empregador’ na Região Norte do País.

Cervone também lembrou que o setor têxtil e de confecção é o mais antigo e o primeiro no advento da revolução industrial, foi inspiração da digitalização e é um dos líderes atuais no desenvolvimento da indústria 4.0. Finalizou salientando que “o Congresso da ABIT gera propostas ao governo, ao Congresso e aos empresários para o enfrentamento dos desafios a serem vencidos”.

O presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, também presidente emérito da ABIT, afirmou que, para recuperar a produtividade, a educação é um fator fundamental. “Há tempos, porém, os indicadores qualitativos de nossa educação deixam muito a desejar. Por isso, a indústria de São Paulo tem atuado com força nessa área, oferecendo ensino de qualidade em suas 140 escolas, distribuídas por 112 municípios paulistas. O Sesi-SP tem uma tecnologia pedagógica avançada”.

No entanto, São Paulo tem cerca de 1,3 milhão de filhos de industriários em idade escolar, considerando o Ensino Fundamental 1 e o Médio. O Sesi-SP atende mais de 100 mil alunos. Ou seja, isso é menos de 10% da demanda potencial. Para absorvê-la, seria necessário ampliar a rede de escolas do Sesi-SP em mais de 1.000%.

“Por isso, decidimos intervir de modo determinado nessa realidade, por meio do programa Sesi Para Todos. Em apenas quatro anos, criamos uma dezena de programas, levados de maneira gratuita à totalidade dos 645 municípios de São Paulo, abrangendo as redes públicas estadual e municipais. Com isso, o Sesi-SP já treinou mais de 160 mil professores e 20 mil gestores das redes municipais e estadual, com reflexos positivos diretos na qualidade do ensino”, relatou Josué.

Em outra frente, quase 20 mil alunos da rede pública cursam gratuitamente no Senai-SP, no contraturno escolar, o quinto itinerário, já saindo dessa etapa escolar com uma profissão. O Senai-SP também realiza a Jornada de Transformação Digital. As 23,5 mil empresas atendidas até o momento registraram ganhos médios de 40% de produtividade e de 10% em eficiência energética, evidenciando o impacto positivo da digitalização nos negócios.

Defesa setorial

O deputado Augusto Coutinho (Republicanos-PE), presidente da Frente Parlamentar Mista “José Alencar” para o Desenvolvimento da Indústria Têxtil e de Confecção, defendeu a taxação de 20% sobre encomendas internacionais até US$ 50, medida adotada para proteger a indústria nacional. “Temos a obrigação de defender quem gera empregos”, disse, ressaltando a importância da ABIT na interlocução com o Poder Legislativo.

Fim do bônus demográfico

Na primeira palestra do congresso, mediada por Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente e presidente emérito da ABIT, o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores e FGV Ibre, analisou o cenário macroeconômico e alertou para o fim do bônus demográfico no Brasil, que dará lugar a um “ônus populacional” já na próxima década. “Será preciso compensar esse efeito com reformas, melhor uso dos recursos públicos, participação feminina no mercado de trabalho e adoção de tecnologias”, afirmou. Segundo ele, a reforma tributária poderá elevar o PIB em até 10% nos próximos 15 anos, mas o ganho virá gradualmente.

Pesquisa

Uma pesquisa instantânea feita com os cerca de 500 participantes do congresso apontou que parcerias entre empresas, governo e setor de P&D são o fator mais importante para o aumento da produtividade. As tecnologias de reciclagem e reúso de fibras lideram as prioridades de inovação até 2030. A criatividade e a capacidade de resolver problemas complexos foram indicadas como as competências mais valiosas para o futuro do setor.

O evento prossegue até amanhã (30/10). Haverá novas rodadas de debates e proposições para o fortalecimento da indústria têxtil e de confecção brasileira.


Sobre A ABIT- Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), fundada em 21 de fevereiro de 1957, é uma das mais importantes entidades dentre os setores econômicos do País. Representa a força produtiva de 25,3 mil empresas instaladas por todo o território nacional, de todos os portes, que empregam mais de 1,3 milhão de trabalhadores e geram, juntas, um faturamento anual (em 2024) de R$ 212,6 bilhões.



da redação com informações da Ricardo Viveiros & Associados Oficina de Comunicação


ARTIGO - Importações em alta ameaçam indústria têxtil e de confecções

worldfashion • 23/10/25, 14:01

Por Fernando Valente Pimentel*

Entre julho de 2024 e junho de 2025, o varejo de vestuário avançou 5,5% em termos reais, enquanto a produção nacional cresceu 4,9%. São números que confirmam a resiliência de uma cadeia produtiva que emprega, apenas na indústria, mais de 1,3 milhão de pessoas e desempenha papel estratégico na economia.

Por outro lado, as importações de produtos de vestuário cresceram 17,7% no mesmo período, 3,6 vezes mais rapidamente do que a produção doméstica. Tal descompasso decorre, em grande parte, do aumento de barreiras e tarifas em países compradores tradicionais, gerando um excedente de produção na Ásia, cujas empresas buscam alternativas para escoar o grande volume de peças fabricadas. Para elas, o Brasil é um alvo perfeito, pois tem um grande mercado e, de quebra, desvantagens competitivas acentuadas em relação a nações nas quais há custos mais baixos de capital, subsídios e incentivos robustos, em contraste com a nossa realidade.

Cabe lembrar que parcela importante dos ingressos de vestuário tem ocorrido por meio das plataformas internacionais de e-commerce. Estas, além de contarem com todos os benefícios acima indicados em seus países de origem, aproveitam vantagens tributárias que ainda persistem no Brasil, mesmo após avanços recentes, como a cobrança de 20% de Imposto de Importação sobre encomendas de até 50 dólares. Embora a medida represente um passo importante na direção da igualdade competitiva, ainda é insuficiente para equilibrar o campo de jogo.

Essa desigualdade tributária soma-se às agruras do “Custo Brasil”, que, há tempos, sobrecarrega empresas com uma combinação de fatores que encarecem operações e reduzem a competitividade: ônus trabalhistas elevados, excesso de burocracia, complexidade tributária, infraestrutura deficitária, energia cara, crédito limitado e uma das mais elevadas taxas de juros reais do mundo. Cada um desses elementos, isoladamente, já seria um desafio. Juntos, tornam o ambiente empresarial hostil e criam distorções que não refletem competência ou eficiência das empresas, mas sim barreiras estruturais, que se agravam no contexto da conjuntura mundial.

No cenário geopolítico global, marcado pelo acirramento das disputas comerciais, as soluções tornam-se ainda mais urgentes. Países desenvolvidos não têm hesitado em formalizar pedidos de defesa comercial e adotar tarifas elevadas e incentivos agressivos para proteger e fortalecer suas indústrias, buscando internalizar a produção. O Brasil, se não agir rapidamente para reduzir os ônus da atividade produtiva e defender legitimamente suas empresas, corre o risco de perder cada vez mais espaço no mercado interno e no mundial.

A resposta passa por uma combinação inteligente de políticas: revisão estrutural do “Custo Brasil, estímulo à produtividade e adoção de mecanismos responsáveis de defesa comercial, que podem incluir inclusive a imposição de cotas quantitativas temporárias enquanto perdurarem as turbulências geopolíticas e geoeconômicas. Tais providências são cruciais para garantir a soberania produtiva, preservar empregos e manter o vigor da nossa economia e da indústria.

Políticas públicas como as que vêm sendo adotadas, como a Nova Indústria Brasil (NIB), Depreciação Acelerada e as linhas de crédito para impulsionar a Indústria 4.0, recém-anunciadas, contribuem para revigorar a produção. Também são pertinentes as medidas compensatórias adotadas para atenuar o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Entretanto, para além dessas iniciativas, não podemos nos resignar ao aumento expressivo das importações como algo passageiro, que se solucionará de modo natural quando arrefecer o atual ímpeto tarifário e protecionista internacional.

Nesse contexto, necessitamos de medidas amplas e eficazes de defesa comercial, sem as quais poderemos arcar com um custo altíssimo no futuro, em forma de dependência externa, fragilidade produtiva e perda de força inovadora. Precisamos reagir com agilidade para transformar o presente cenário geopolítico em oportunidades, em vez de sermos reféns passivos de um mundo mais hostil e permeado por bombas tarifárias nas relações comerciais.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

INSPIRAMAIS 2027_I - TURNING POINT

worldfashion • 28/08/25, 11:18

Na 32ª edição do INSPIRAMAIS, a pesquisa apresentou os materiais da próxima temporada 2027 que terá como tema - TURNING POINT, nos 10% da pirâmide.

O estudo tem como referência a obra “Ponto de Mutação”, escrita por Fritjof Capra em 1981. Segundo Walter Rodrigues, vivemos tempos muito semelhantes aos vividos na década de 1980, com um mundo “mais fechado”, protecionismo crescente, tarifas extras e polarização. A obra traz a necessidade de um ponto de mutação sob uma perspectiva ecológica e feminina.

Dentro do contexto, a pesquisa aponta que passamos de uma Modernidade Líquida, conceito popularizado por Bauman no qual tudo era líquido e fluído, para uma Modernidade Gasosa, em que as coisas já não apenas fluem, mas “evaporam no ar”, dando a ideia de volatilidade e velocidade. Partindo desse ponto, a Turning Point traz três temas.

Gasoso HOLÍSTICO

O primeiro deles é o “Gasoso Holístico”, que com um ponto de vista feminino aponta o design como meio de contemplação, regeneração e afeto com tecnologia. “Aqui, vemos muita leveza e silhuetas em materiais que se comportam como canal de transformação, remetendo a movimento, luz e vapor. A moda, nesse contexto, é muito auxiliada pelas tecnologias de Inteligência Artificial (IA) nas suas criações, “Cada vez mais, os criativos desenvolvem coisas para colocar nos pés”, frisa Rodrigues.

Neste tema, predominam materiais com transparências, tules, nylons, volumes e misturas.

Gasoso BIOLÓGICO

O subtema “Gasoso Biológico” é influenciado pelo ancestral digital, com texturas orgânicas, muitas camadas, aspectos celulares (de plasma), aspectos gelatinosos, amorfismo e futurismo, tudo com o auxílio da IA. Já os materiais de destaque são biopolímeros, nanoceluloses e tecidos desenvolvidos com cultura de bactérias.

RUPTURA

O terceiro tema é Ruptura, que reforça a necessidade de transformação e da criação de “desordens narrativas”. A importância de ir contra o status quo e dar espaço para a recuperação da individualidade perdida em meio a um mundo homogêneo e permeado de repetições se faz fundamental. A revisão da forma, forte tendência dos anos 1980, aparece trazendo estranhamento, mantendo bases clássicas e destacando a inventividade nas formas.

Para as criações de materiais, as influências predominantes são as construções tridimensionais, com dobras abruptas, sobreposições e fragmentações, colocando o corpo como base para a criação de novas geometrias.

A cartela de cores da TURNING POINT traz como cores principais o violeta ice, o amarelo e o acqua.

Os desenvolvimentos do tema BURNOUT - 2006

Vale lembrar que dos lançamentos do INSPIRAMAIS_ 26 II, os 30% e 60% da pirâmide, estão respectivamente, em fase de desenvolvimento ou já no mercado de massa. Nos 30%, a HUMAN trouxe como palavra-chave a Esperança e o senso de Comunidade e Utopia. Nas criações, aparecem bases tecnológicas que remetem à dança e movimento, com muitas transparências, acetinados, modelagens circulares, bases de neoprene, maleabilidade, maximalismo, brilhos, luzes, linguagem pop, entre outros aspectos. Nos 60%, a BURNOUT apresenta um cenário mais sombrio, trazendo características referenciadas no fetiche, no romantismo e na era vitoriana com a contraposição do sci-fi e seus aspectos inorgânicos e tecnológicos. Nos materiais, se traduziu em grandes volumes, vernizes, brilhos, banhos de metal, muitas tachas e pins que remetem aos anos 80 e a uma cultura “dark”.

O salão

O INSPIRAMAIS é uma uma realização da Assintecal em parceria com o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e Associação Brasileira das Indústrias de Mobiliário (Abimóvel). A realização é do Brazilian Materials e a parceria do Sebrae Nacional.

A 33ª edição do INSPIRAMAIS acontecerá nos dias 27 e 28 de janeiro de 2026,

no Centro de Eventos FIERGS, em Porto Alegre/RS.

ABRAFAS

worldfashion • 18/07/25, 13:38

A Associação Brasileira dos Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas, por meio de suas associadas, destaca inovações e boas práticas como pilares da transformação ambiental no setor têxtil. E a realização da COP30, em Belém (PA), em novembro deste ano, é ocasião para a Associação reafirmar o seu compromisso com a sustentabilidade.

No Brasil, só no segmento têxtil, as fibras de origem fóssil (petróleo) respondem por cerca de 55% das aplicações. Por outro lado, a partir de investimentos intensivos em pesquisas e processos produtivos, as fibras sintéticas hoje passam por transformações que as tornam cada vez mais alinhadas aos princípios da economia circular.

Neste sentido, a Associação e seus membros estão comprometidos em atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a partir da Agenda 2030 da ONU, com ênfase nos seguintes:

3   - saúde e bem estar,

4   - educação de qualidade

7   - energia limpa e acessível

8   - trabalho decente e crescimento econômico

9   - indústria, inovação e infraestrutura

12 - consumo e produção responsáveis

13 - ação contra mudança global do clima

14 - vida na água

15 - vida terrestre

Inovação e responsabilidade ambiental caminham juntas

Segundo o Presidente da Abrafas, Paulo De Biagi, o setor tem investido milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento de soluções que minimizem os impactos ambientais.

“Nosso compromisso é garantir que a fibra sintética evolua não apenas em performance, como também no campo da preservação ambiental. Isso já ocorre e vai se acelerar nos próximos anos”, afirma. O executivo destaca que algumas empresas já apresentam produtos com componentes orgânicos que se decompõem naturalmente entre dois e cinco anos após seu descarte em aterro ou ambiente marinho.

A indústria de fibras químicas tem avançado no uso de produtos biodegradáveis e na adoção do tingimento em massa (dope dyeing), tecnologia que reduz significativamente o uso de água e produtos químicos no processo produtivo, além de diminuir a geração de efluentes que necessitam de tratamento. Tais inovações refletem o compromisso do setor com a sustentabilidade ao encontro da preservação do ambiente marinho.

Certificação e qualidade: os diferenciais do mercado regulado

De Biagi alerta que, na comercialização – seja física ou por meio de plataformas – é preciso diferenciar os produtos que são certificados daqueles que muitas vezes têm origem duvidosa ou desconhecida. “A sustentabilidade não pode ser apenas um discurso. É preciso responsabilidade e rastreabilidade. Empresas associadas à Abrafas seguem rigorosas normas de controle, estabelecidas internacionalmente”, argumenta. Estas certificações garantem que a cadeia produtiva esteja comprometida com processos limpos e eficientes.

A COP30 como catalisadora de mudanças globais

A Abrafas vê na COP30 oportunidade estratégica para dialogar sobre o papel das fibras artificiais e sintéticas na agenda ambiental.

A entidade defende a transição para modelos produtivos mais limpos, com incentivo a alternativas circulares, à utilização de componentes orgânicos, à redução no consumo de água e à utilização de energia provinda de fontes renováveis.

O setor em números

O cenário nacional mostra uma indústria em transformação. Em 2024, o Brasil produziu mais de 207 mil toneladas de fibras sintéticas, com destaque para poliamida, poliéster e elastano. A capacidade instalada ultrapassa 332 mil toneladas e a produção abastece majoritariamente o mercado interno. Já no âmbito das fibras artificiais, foram produzidas cerca de 15 mil toneladas de acetato de celulose, das quais mais de 60% foram destinadas ao consumo interno. Para dados completos e atualizados sobre o setor, clique aqui.

Sobre a Abrafas

Fundada em 1968 e composta por onze associadas, a Abrafas representa a quase totalidade das empresas produtoras de fibras e filamentos químicos no Brasil. A entidade atua nacional e internacionalmente na defesa dos interesses do setor, promovendo desenvolvimento tecnológico, boas práticas industriais e soluções ambientalmente responsáveis que fortaleçam a posição do Brasil na indústria global de fibras artificiais e sintéticas.

Empresas associadas à Abrafas

Antex – De origem espanhola, o grupo têxtil, fundado em 1968, produtor de poliéster, está no Brasil desde 2001. Segundo o Diretor-Presidente Rubén Serra, os processos e tecnologias utilizados são pensados para reduzir os impactos ambientais. Destaca a produção de filamentos de poliéster 100% reciclado de garrafas PET obtidas no Brasil e processadas com energia 100% renovável da planta instalada em Curitiba (PR), além do desenvolvimento local da tecnologia de fios biodegradáveis.

Cerdia – Desde 2018, o Brasil é uma das bases de produção da empresa suíça, que tem unidade de fabricação de cabos de acetato de celulose instalada em Santo André (SP). Estes cabos são obtidos a partir de madeira de reflorestamento e usados na produção de artigos biodegradáveis, como fios têxteis e canudos termoplásticos. “Mais de 90% das matérias-primas são orgânicas e de fontes renováveis”, afirma Wellington Bonifácio, Diretor Geral das operações da América do Sul e Country Head no Brasil.

Dini Textil – Empresa nacional, fundada em 1991, construiu sua trajetória com foco em fios e tecidos tecnológicos de poliéster para mercados industriais como o automotivo, aeroespacial, hospitalar, de segurança e mobiliário corporativo. “Um dos diferenciais da Dini está na capacidade de produzir fios de poliéster 100% reciclados a partir de garrafas PET. Tal resultado, incomum na indústria têxtil — que normalmente utiliza apenas frações recicladas —, é viabilizado pelo uso de grafeno na composição dos fios.”, afirma a Diretora Elomara Dini.

Ecofabril – Criada há 30 anos, a empresa brasileira mantém o propósito de transformar garrafas PET em fibras de poliéster para diferentes aplicações industriais. Tiago Noronha, Diretor Comercial, informa que o negócio sempre foi 100% voltado à reciclagem. “Trabalhamos principalmente com o flake de PET, que representa 99% do que produzimos”, explica. Paralelamente ao desafio da aquisição da principal matéria-prima, dada a nova legislação brasileira, o executivo frisa que a empresa tem aprovado o plano de expansão da fábrica e da produção.

Hyosung – Em nível mundial, a companhia, com sede na Coreia do Sul, atua na área de soluções têxteis sustentáveis, proporcionando inovação contínua para a indústria. A Hyosung Brasil, instalada em Santa Catarina, é grande fabricante de filamentos de elastano, comercializados sob a marca CREORA®. Segundo o Gerente Técnico e de Vendas da empresa, Jessé de Moura, entre os desenvolvimentos da companhia, destacam-se os elastanos com origem renovável ou reciclada.

Indorama – Com fábrica instalada em Cabo de Santo Agostinho (PE), a Indorama Ventures Fibras Brasil – braço brasileiro do segmento de fibras do grupo tailandês Indorama Ventures – posiciona a sustentabilidade no centro de sua política de negócios. No Brasil, produz fibras de poliéster, polímeros têxteis e para embalagens flexíveis. A política de sustentabilidade do grupo é guiada por compromissos globais. A meta estabelecida é a neutralidade de carbono até 2050, compromisso que abrange as 114 fábricas do grupo, presentes em 32 países, segundo o CEO, Lineu Frayha.

Kordsa – Indústria multinacional de manufatura têxtil, destaca-se na produção de reforços para pneus, com compósitos, filamentos e telas de alta tenacidade de poliamida e poliéster. A matriz localiza-se na Turquia, com unidades industriais em cinco países, sendo que no Brasil está localizada no Polo de Camaçari (BA). Fernando Pecora, Diretor Global da Kordsa, destaca o empenho na redução da pegada de carbono no processo produtivo. “Adotamos tecnologias de reforço de pneus de última geração e desenvolvemos produtos ecológicos para maior aderência na estrada e menor consumo de combustível”.

Nilit – A produtora global de poliamida – com sede em Israel e unidade de produção brasileira instalada em Americana (SP) – obedece aos princípios do ESG, investindo em soluções que aliam desempenho, estética, responsabilidade social e ambiental. O desenvolvimento de produtos visa à circularidade, biodegradabilidade, além da redução no consumo de recursos naturais, refletido no mercado em um vasto portfólio de produtos com menor pegada de carbono, reciclados e recicláveis, salienta o Gerente Geral e Vice Presidente para América Latina e Presidente da Abrafas, Paulo De Biagi.

Rhodia Solvay – Empresa global, pertencente ao grupo belga Solvay, produz filamentos de poliamida com a menor pegada de carbono do mundo devido aos projetos locais para redução de emissões e oferece ao mercado uma linha de produtos Carbono Neutro. A empresa investe na biodegradabilidade e economia de água tanto em seu processo produtivo quanto no desenvolvimento de produtos que demandam menor uso de água ao longo da cadeia têxtil, como afirma o Gerente Comercial da Cadeia Poliamida, Marcello Bathe.

The Lycra Company – Atua há mais de 60 anos no mercado têxtil com a produção de filamentos de elastano, desenvolvendo novas tecnologias e agregando valor aos artigos de vestuário que chegam ao consumidor final. A companhia norte-americana, no Brasil instalada no município de Paulínia (SP), frisa compromisso atualizando seu Relatório Global Planet Agenda. O documento destaca metas para 2030 alinhadas aos ODS da ONU. A estratégia ambiental está estruturada em três pilares: sustentabilidade de produto, excelência de fabricação e responsabilidade corporativa, conforme explica o Diretor Comercial para a América do Sul, Carlos Fernandes.

Unifi – Empresa com matriz norte-americana e unidade de produção brasileira em Alfenas (MG) desde 1999, atende ao mercado nacional e internacional de filamentos de poliéster. O Repreve® é marca global de fibras e fios de poliéster com tecnologia rastreável da Unifi, produzido a partir de materiais 100% reciclados. O CEO da companhia, Mauro Fernandes, assinala que já foram retiradas mais de 40 bilhões de garrafas PET do meio ambiente, com a meta de alcançar a marca de 50 bilhões até o final de 2025.

da redação com informações da Lilica Mattos Assessoria  crédito fotos: divulgação

ABIT - BALANÇO 2024

worldfashion • 17/01/25, 16:25

O perfil do setor em 2024 evidenciou sua importância na economia nacional. Com faturamento de R$ 203,9 bilhões em 2023 e estimativa de R$ 215 bilhões em 2024, a indústria têxtil e de confecção compreende 25,3 mil empresas com mais de cinco funcionários, gerando 1,3 milhão de empregos diretos e contribuindo com R$ 32,9 bilhões em salários e remunerações. Além disso, recolheu R$ 24,4 bilhões em impostos e taxas. Os dados ratificam a posição da indústria têxtil e de confecção brasileira como a quinta maior do mundo.

Em termos de empregos, o setor também apresentou resultados positivos. De janeiro a outubro de 2024, foram criados 30,7 mil postos de trabalho, sendo 14,2 mil no segmento têxtil e 16,5 mil no de confecção. No período de dezembro de 2023 a novembro de 2024, o saldo positivo do setor como um todo foi de 7,1 mil vagas. O setor segue como âncora da inflação, uma vez que, com margens muito estreitas e competição com produtos importados, acaba por absorver custos sem repassar ao consumidor.

No tocante à produção, o segmento têxtil registrou crescimento de 4% entre janeiro e novembro de 2024 em relação ao mesmo período de 2023, enquanto o vestuário avançou 3,8%.

Também cabe enfatizar o lançamento pela Abit, em 2024, da Liga de Descarbonização, um passo significativo no percurso do setor em sua jornada rumo à produção e consumo sustentáveis. Tal movimento apresenta um cenário promissor para o futuro da moda e alinha a atividade às exigências globais de redução de emissões de gases de efeito estufa.

COMÉRCIO EXTERIOR

No comércio exterior, as exportações de produtos têxteis e de confecção em 2024 totalizaram US$ 908 milhões, enquanto as importações chegaram a US$ 6,6 bilhões, resultando em um saldo negativo de US$ 5,7 bilhões. Em relação ao ano anterior, o volume das importações aumentou 20,8% e das exportações diminuiu em 3,8%. As compras externas de roupas tiveram expansão de 21,4%, sendo a maior parcela advinda da China.

Apesar do déficit na balança comercial, o setor busca fortalecer sua competitividade no mercado internacional. Nesse sentido, o programa Texbrasil, realizado por meio de parceria entre a Abit e a Apex, apoiou 181 empresas em 20 feiras e eventos internacionais em 2024. A iniciativa gerou negócios imediatos de US$ 16 milhões e uma expectativa de mais de US$ 122 milhões em vendas futuras.

Outro programa da Abit, o Vista Brasil, numa promoção conjunta com o Sebrae e voltado ao fomento de micro e pequenas empresas, apoiou 15 delas em duas feiras nacionais. Os negócios realizados nos próprios eventos somaram R$ 1,33 milhão e expectativa de outros R$ 3,64 milhões nos próximos 12 meses.

EMPRESÁRIOS CONFIANTES

Para 2025, segundo levantamento feito pela Abit com empresários do setor, as perspectivas são otimistas. Dentre os entrevistados, 45% preveem crescimento moderado do mercado interno, entre 2,1% e 4%, e 8% acreditam em um aumento significativo das exportações. Investimentos também estão no horizonte, com 42% das empresas planejando aportar recursos moderadamente, priorizando maquinário, tecnologia e automação, e 31% focando na expansão da capacidade produtiva.

O avanço dos programas Nova Indústria Brasil (NIB), Depreciação Acelerada e Brasil + Produtivo é considerado estratégico pela Abit em 2025. Os principais desafios para este ano incluem a escassez de mão de obra qualificada, custos de produção e a necessidade de adaptação às novas tecnologias.

Algo que poderá impulsionar de modo expressivo o setor é o acordo entre Mercosul e União Europeia, concluído no final de 2024, mas que precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países signatários. A Abit foi uma das entidades pioneiras nas negociações dos parâmetros mercadológicos, num trabalho consistente de diplomacia econômica realizado em conjunto com a European Apparel and Textile Confederation (Euratex).

Apesar das dificuldades, dentre elas o desequilíbrio fiscal do Estado, que gera incertezas, a indústria têxtil e de confecção mantém o foco em inovação, sustentabilidade, crescimento e maior participação no mercado global. Os dados referentes a 2024 reiteram o papel estratégico do setor na economia brasileira.

da redação com informações da Ricardo Viveiros & Associados Oficina de Comunicação

ABICALÇADOS

worldfashion • 13/01/25, 14:55

Nos dados elaborados pela ABICALÇADOS - Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, somente no mês de dezembro 2024, entraram no Brasil mais de 3,2 milhões de pares, pelos quais foram pagos US$ 42,65 milhões. Os registros apontam para altas de 75% em volume e de 46,5% em receita no comparativo com o mesmo mês de 2023.

No acumulado de todo o ano passado, as importações alcançaram 35,8 milhões de pares e US$ 477,72 milhões, incrementos de 26,3% e 7,9%, respectivamente, ante 2023.

As principais origens das importações seguem sendo os países asiáticos China, Vietnã e Indonésia, que responderam por mais de 80% dos calçados que entraram no Brasil ao longo do ano. O Vietnã, no último mês de 2024, exportou para o Brasil 887,8 mil pares de calçados por US$ 16,68 milhões, altas de 56% em volume e de 42,2% em receita na relação com o mesmo mês de 2023. No acumulado de 2024, as importações de calçados oriundos do Vietnã somaram 11,9 milhões de pares e US$ 224 milhões, altas tanto em volume (25%) quanto em receita (5,2%) em relação a 2023.

Em dezembro, foram importados da China 860 mil pares de calçados por US$ 3,9 milhões, incrementos de 105,8% em volume e de 48% em receita no comparativo com o mesmo período de 2023. No acumulado do ano, as importações de calçados da China somaram 9,8 milhões de pares e US$ 40,2 milhões, alta de 4% em volume e queda de 16% em receita em relação a 2023. O preço médio ficou em US$ 4,06, queda de 19% ante 2023, um indicativo de preços artificialmente abaixo dos praticados no mercado (dumping).

Fechando o ranking das principais origens das importações apareceu a Indonésia, que em dezembro embarcou para o Brasil 846,74 mil pares por US$ 13 milhões, incrementos de 105,8% em volume e de 48% em receita na relação com o último mês de 2023. No acumulado de 2024, as importações da Indonésia registraram 6,8 milhões de pares e US$ 110,26 milhões, altas tanto em pares (52%) quanto em receita (26%) em relação a 2023.

NOVOS PLAYERS

Além do aumento das importações, que tiram espaço dos calçados brasileiros nas prateleiras das lojas, preocupam a Abicalçados os novos entrantes no mercado das importações. Em 2024, apareceram players asiáticos como Camboja, Índia, Mianmar e Bangladesh, que juntos exportaram para o Brasil mais de 2,5 milhões de pares, 56% mais do que em 2023. “Existe uma mudança na produção intra-Ásia em busca de menores custos com mão de obra. E, no caso das exportações para o Brasil, também para driblar a tarifa de antidumping aplicada contra o calçado chinês (hoje em US$ 10,22 por par, além da tarifa de importação)”, explica o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira. Segundo ele, o alerta foi realizado para o Governo Federal, que ficou de analisar o caso com base nos dados fornecidos.

EXPORTAÇÕES CAIRAM

Diferentemente das importações, as exportações do setor caíram em 2024. Dados elaborados pela Abicalçados apontam que, em dezembro, foram embarcados 7,83 milhões de pares por US$ 72,4 milhões, incremento de 5,4% em volume e queda de 1,4% em receita na relação com o último mês de 2023. No acumulado do ano, as exportações brasileiras somaram 97,45 milhões de pares e US$ 976 milhões, quedas tanto em volume (-17,7%) quanto em receita (-16,4%) em relação a 2023.

As principais origens das exportações de 2024 foram o Rio Grande do Sul (32,28 milhões de pares e US$ 485,36 milhões, quedas de 8,6% e 10,9%, respectivamente, ante 2023); Ceará (30,2 milhões de pares e US$ 199,3 milhões, quedas de 17,5% e 25%); e São Paulo (5,84 milhões de pares e US$ 91,26 milhões, quedas de 23% e 16,7%).

DESTINOS

O principal destino dos embarques brasileiros ao longo de 2024 foi os Estados Unidos, para onde foram embarcados 10,28 milhões de pares por US$ 216,3 milhões, quedas tanto em volume (-3,3%) quanto em receita (-4,8%) em relação a 2023. Na sequência, aparecem a Argentina (12,6 milhões de pares e US$ 201,54 milhões, quedas de 10,5% e 10%, respectivamente) e Paraguai (8,34 milhões de pares e US$ 42,7 milhões, quedas de 20,6% e 13,5%, respectivamente).

Confira as tabelas completas no link https://bit.ly/40wMtFu

Novo endereço da Abicalçados - Rua Júlio de Castilhos, 561 - Centro Novo Hamburgo, RS 93510-130 Brasil - Telefone: (51) 3594.7011.

da redação com informações do assessor de imprensa Diego Rosinha

ARTIGO - Brasil precisa acelerar o ritmo das agendas prioritárias muito antes do Carnaval chegar

worldfashion • 09/01/25, 09:12

Por Fernando Valente Pimentel*

No entanto, o horizonte de 2025 apresenta alguns pontos de atenção. A sustentabilidade fiscal permanece como fonte de preocupação para os mercados, refletindo-se na valorização do dólar e na manutenção de taxas de juros elevadas. As projeções indicam uma desaceleração do aumento do PIB e uma redução no ritmo dos investimentos, sinalizando a necessidade de ações corretivas imediatas.

Nesse contexto, a agenda da Nova Indústria Brasil (NIB) emerge como pauta fundamental para o crescimento sustentável. O fortalecimento da base manufatureira, de modo a aumentar a participação mundial do Brasil no comércio de bens e produtos de maior valor agregado, é essencial para gerar empregos qualificados e reduzir vulnerabilidades externas. A transição energética e a economia verde apresentam oportunidades únicas para o País recuperar seu protagonismo no setor, aproveitando nossas vantagens competitivas em energia limpa e biodiversidade.

Um desafio particularmente grave e urgente é o combate ao crime organizado, que tem demonstrado crescente ousadia e capacidade de articulação. As facções não apenas causam perdas irreparáveis de vidas humanas, mas também geram impactos econômicos substanciais, afetando o comércio, o turismo e os investimentos em diversas regiões. A sensação de insegurança e os custos diretos e indiretos da violência representam um pesado fardo para o desenvolvimento nacional, exigindo resposta coordenada e efetiva do Estado em todas as suas esferas.

O cenário internacional adiciona ingredientes de complexidade e incerteza para 2025. Os conflitos mais visíveis entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio arrastam-se sem perspectiva clara de resolução e continuam impactando as cadeias globais de suprimentos e os preços das commodities. Em paralelo, as crescentes tensões entre China e Estados Unidos - especialmente no campo tecnológico e comercial - geram instabilidade nos mercados internacionais e exigem um delicado exercício de equilíbrio diplomático dos demais países.

A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos é uma nova variável na equação geopolítica global. As incertezas quanto ao posicionamento norte-americano em questões cruciais - desde acordos comerciais até compromissos climáticos - podem afetar significativamente o ambiente do comércio exterior e exigir readequações nas estratégias diplomáticas e comerciais do Brasil. Tal cenário reforça ainda mais a importância de fortalecermos nossa base industrial e reduzirmos dependências externas estratégicas. Ademais, esse quadro, com potencial aumento expressivo do imposto de importação sobre os produtos chineses por parte dos EUA, levará a desvios de comércio, e o Brasil será um dos estuários desse redirecionamento, com o setor têxtil e de confecção sendo especialmente afetado. Em 2024, por exemplo, a importação de produtos têxteis e confeccionados cresceu seis vezes mais do que a produção e o consumo locais.

O ano de 2025 é decisivo, demandando ação coordenada e determinada em diversas frentes. O desequilíbrio fiscal, a trajetória ascendente da dívida pública e a necessidade de fortalecer a política industrial moderna e competitiva são desafios que precisam ser enfrentados com eficácia e pragmatismo. Não há espaço para procrastinação ou soluções paliativas. O momento exige reformas estruturantes, como a administrativa, que seguiu adormecida em 2024, e medidas efetivas de equilíbrio e bom senso na dosimetria dos juros e política fiscal.

No âmbito político-institucional, enfrentaremos uma agenda intensa no Congresso Nacional e no Poder Judiciário. As decisões tomadas nessas esferas terão impacto direto na capacidade do Brasil de endereçar seus problemas mais urgentes, desde a segurança pública até a manutenção de uma trajetória de crescimento sustentado e sustentável, passando pela criação de um ambiente favorável aos investimentos produtivos e à inovação tecnológica.

Em paralelo, 2025 coloca o País em posição destacada no cenário internacional. A presidência do BRICS oferece oportunidade única para exercermos liderança em questões globais estratégicas, especialmente em um momento de realinhamento das forças geopolíticas mundiais. Ademais, a realização da COP 30 em Belém do Pará, em novembro, reforça o protagonismo brasileiro nas discussões sobre sustentabilidade e mudanças climáticas, tema que ganha ainda mais relevância diante das incertezas sobre o comprometimento das grandes potências com as metas ambientais do planeta e que pode catalisar nossa reindustrialização verde.

O questionável estigma popular de que o ano brasileiro só começa após o Carnaval precisa ser deixado de lado. Os desafios e oportunidades que se apresentam não podem esperar. É imperativo iniciar 2025 a pleno vapor, com senso de urgência e determinação, mobilizando todos os setores da sociedade e do poder público em torno de uma agenda comum de desenvolvimento e segurança. O País não pode, como consta em conhecido verso de Chico Buarque de Holanda, ficar “se guardando para quando o Carnaval chegar”. É hora de manter a sintonia, a afinação, o ritmo e a harmonia no âmbito das agendas prioritárias.

É premente arregaçar as mangas e trabalhar pela construção do futuro que o Brasil merece, tendo em vista não apenas os desafios domésticos, mas também seu papel em um mundo cada vez mais complexo e interconectado. Um país mais forte industrialmente e em outros segmentos da economia será mais resiliente e capaz de garantir bem-estar e vida melhor para sua população.

*Fernando Valente Pimentel é o diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

ARTIGO - Alerta: desafios urgentes para a indústria têxtil e de confecção

worldfashion • 14/11/24, 14:15

Por Fernando Valente Pimentel (*)

Nos últimos 10 anos, o Brasil experimentou redução na renda per capita medida em dólares, indicando um empobrecimento relativo da população, que afetou diretamente o consumo interno, base fundamental para esse importante setor da economia nacional. Com o mercado interno enfraquecido, perdemos participação para produtos importados, muitas vezes beneficiados por práticas comerciais desleais ou subsídios governamentais em seus países de origem.

Nossas exportações permaneceram relativamente estáveis, prejudicadas pela crise econômica em mercados-chave, como a Argentina. Tal situação limita as oportunidades de crescimento e diversificação para as empresas brasileiras. O atual ambiente do comércio internacional, marcado por tensões geopolíticas e medidas protecionistas, coloca o Brasil em posição vulnerável. Com o recente crescimento do PIB e do consumo interno, o País torna-se alvo atrativo para exportadores estrangeiros, fator potencialmente capaz de prejudicar ainda mais a indústria local.

Cabe ressalvar que o setor têxtil e de confecção teve e continua tendo participação na construção da Nova Indústria Brasil (NIB), ação relevante do Governo Federal, que inclui o plano Mais Produção, com financiamento do BNDES, e se soma ao B+P e ao programa de Depreciação Acelerada, dentre outras ações relevantes. São iniciativas positivas, que posicionam a indústria no centro das políticas de desenvolvimento, de modo coerente com seu significado na geração de empregos em quantidade e qualidade, fomento de tecnologia e inovação, exportações de itens com maior valor agregado e redução da dependência externa.

No entanto, é preciso ponderar que os efeitos positivos da NIB serão percebidos principalmente a médio e a longo prazo, em contraste com a conjuntura atual enfrentada pela indústria têxtil e de confecção. Para superar esses desafios urgentes, é crucial avançar na agenda de competitividade sistêmica do País, por meio das seguintes ações: reduzir o “Custo Brasil”; implementar medidas de defesa comercial contra práticas desleais, defendendo  a indústria nacional; acelerar a negociação e implementação de acordos comerciais, especialmente entre o Mercosul e a União Europeia, para ampliar o acesso a novos mercados; investir em inovação e tecnologia para aumentar a produtividade e competitividade do setor; e desenvolver políticas de incentivo à modernização industrial e qualificação e oferta de mão de obra.

A inação diante do cenário atual e de curto prazo pode resultar em graves consequências para a indústria têxtil e de confecção brasileira, com potenciais perdas de empregos, fechamento de empresas e aumento da dependência externa, a despeito do fato de o setor estar crescendo este ano e gerando empregos. É fundamental que governo, setor privado e sociedade civil unam esforços para fortalecer esse importante segmento da economia nacional, que se situa entre os cinco maiores do mundo, com R$ 200 bilhões de faturamento e 1,3 milhão de empregos, garantindo sua competitividade e sustentabilidade no longo prazo. Apenas com uma abordagem coordenada e proativa será possível superar os desafios atuais e posicionar o setor de maneira mais dinâmica e eficaz no contexto global.

(*) Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

9º CONGRESSO INTERNACIONAL ABIT 2024

worldfashion • 01/11/24, 16:15

O Congresso teve como tema “Conexões Brasil – Mundo: Caminhos Estratégicos para Competitividade”, o evento discutiu o posicionamento estratégico da indústria têxtil e de confecção brasileira no mercado global, considerando tanto questões já abordadas em edições anteriores quanto novos temas que surgiram no mundo e que impactam todo o ecossistema da

da moda.

PRIMEIRO DIA 30 DE OUTUBRO 2024 QUARTA FEIRA

Na cerimônia de abertura do  Congresso, no Senai Cimatec, em Salvador (BA), o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, anunciou planos para fortalecer o setor no Estado. Também expressou seu compromisso com a segurança jurídica e a viabilidade dos negócios. “Fizemos investimentos estruturantes em estradas, buscando portos, aeroportos e aeródromos, em prol da mobilidade de pessoas e de cargas, garantindo a produção e um ambiente seguro de energias renováveis”, salientou.

Rodrigues mostrou mapa produzido em parceria com o Senai Cimatec sobre o potencial energético da Bahia, considerando a eólica, solar e, por consequência das duas, o hidrogênio verde. “Portanto, temos capacidade de oferecer matriz energética limpa e mão de obra qualificada”, enfatizou, assegurando o interesse do Estado no desenvolvimento do setor.

Em sua fala de abertura, Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Abit, apresentou mensagem de compromisso com a sustentabilidade do presidente da entidade, Ricardo Steinbruch, que não pôde participar.  “A COP 30, que ocorrerá em Belém em 2025, será uma vitrine muito importante para mostrarmos nossas práticas sustentáveis ao mundo”, disse, em nome do dirigente.

Pimentel, por sua vez, destacou providências necessárias para o desenvolvimento do setor em um cenário desafiador, com número crescente de entrantes internacionais. “Além da agenda macroeconômica, nossa resposta precisa ser muito direta, com inovação, políticas transformadoras, expansão do Reintegra, que é a devolução dos impostos acumulados nas vendas externas, não só das pequenas, mas também das grandes empresas. Teremos de concluir a reforma tributária em curso, com sistema racional, que não onere e não gere tantos contenciosos como temos no País. É preciso criar, assim, um ambiente mais sólido para os negócios, com segurança jurídica, física e patrimonial”, ressaltou.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Carlos Henrique Passos, a realização do evento no Estado contribui para alavancar o desenvolvimento do setor. “Vamos trilhar esse caminho de fortalecimento da cadeia certa da indústria local. Nada mais adequado do que estar neste congresso, que reverte numa expectativa muito grande, porque as discussões e a divulgação de conhecimento certamente serão fundamentais para essa industrialização, tão desejada por todos nós”, afirmou.

PAINEL 1 - ESTUDO TÊXTIL DA BAHIA

Foram apresentados dados relevantes do segmento, do estudo inédito realizado pelo Observatório da Indústria FIEB, com apoio do IEMI - Inteligência de Mercado e do Senai Cimatec.

Os estudos de caso relevantes para o desenvolvimento do ambiente de negócios na esfera estadual, um balanço histórico e uma projeção do potencial do setor têxtil e de confecção.

Segundo o levantamento, se fosse possível transformar toda a fibra de algodão da Bahia, haveria chance de alcançar a meta de 730 mil toneladas produzidas e o faturamento médio de R$ 23 bilhões, considerando apenas as manufaturas têxteis.

Para Marcelo Prado, caso tivéssemos uma cadeia hermética, o número de empregos poderia saltar dos 23 mil para 600 mil. “A indústria de têxteis e de confeccionados zeraria a mão de obra disponível no Estado. Não à toa, quando começaram seus processos de industrialização e globalização, os países asiáticos escolheram o setor como seu principal motor de desenvolvimento”, explicou, destacando que o cumprimento dessa projeção “alavancaria em 50% o PIB da indústria do Estado”.

Corroborando com a análise, Vladson Menezes, da FIEB, reiterou que o diagnóstico inédito revela que, “dentro das vantagens competitivas próprias da Bahia, destacam-se as condições de logística, disponibilidade do algodão e a questão da resiliência das fibras naturais”. O debate ressaltou a necessidade de envolver o Governo do Estado, com todas as suas secretarias, entidades e órgãos da sociedade, em diálogos com o setor, seja no sentido de divulgar vantagens mercadológicas ou para viabilizar projetos de investimentos.

“O time do governador Jerônimo Rodrigues tem o compromisso de fortalecer o desenvolvimento econômico em todo o Estado, valorizando de uma ponta a outra as cadeias produtivas estratégicas para a economia baiana”, afirma Angelo Almeida, secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia.

Almeida adianta uma prévia sobre o envolvimento no evento, que visa o desenvolvimento do setor. “Estamos apoiando institucionalmente e vamos participar de forma ativa do Congresso Internacional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, acolhendo, orientando e tirando dúvidas do público, que teremos a honra de receber no nosso Estado este ano. Além do apoio ao congresso, o Governo do Estado, por meio da SDE, contratou um estudo inédito que será apresentado durante o evento. O trabalho é um exemplo de realização de política pública de atração de investimentos e desenvolvimento de negócios”, completa o secretário.

Serão analisados os fatores históricos capazes de explicar por que o Brasil ocupa posição que poderia ser mais significativa no mercado global, considerando o porte de sua indústria, bem como as barreiras enfrentadas para aumentar sua competitividade. Também serão exploradas as tendências, cenários e direcionadores estratégicos do setor têxtil global, além das potencialidades e vulnerabilidades da indústria brasileira para se alinhar com essas tendências e aumentar seu market share internacional.


“Essa estratégia é importante para o aproveitamento das oportunidades e os desafios existentes no mercado brasileiro e global, visando o desenvolvimento e o futuro do setor”, frisa Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente e presidente emérito da Abit.

De acordo com dados IEMI, a Bahia possui mais de 400 indústrias têxteis e de confecções instaladas, gerando mais de 35 mil postos de trabalho com produção de cerca de 200 mil toneladas apenas em 2023, além de um faturamento médio de 9,5 bilhões de reais.

Com olhar apurado para o escalonamento dos negócios, Hari Hartmann, presidente do Sindvest e diretor da FIEB, destaca que a “Bahia apresenta grande potencial para ampliar a fabricação de têxteis e confeccionados de modo significativo, pois é o segundo maior produtor de algodão do País e se destaca, também, nos filamentos artificiais e sintéticos, principalmente poliéster e poliamida”.

No Estado, o setor é conhecido por ser um importante gerador de empregos e fonte de renda. Cerca de 13 mil desses postos de trabalho encontram-se no segmento têxtil e 22,7 mil, no de confecção. “A expectativa é de que o Congresso Internacional Abit em Salvador seja um ponto de encontro e contribua efetivamente para dar tração aos investimentos”, reitera Hartmann.

Segundo Vladson Menezes, Superintendente da FIEB, “o esforço conjunto do Sistema FIEB, que envolveu o Observatório da Indústria e o Senai Cimatec, com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia, pode alavancar o desenvolvimento da cadeia têxtil e de confecções na Bahia, elevando expressivamente a geração de empregos no estado”.

Para o presidente da FIEB, Carlos Henrique Passos, não existe dúvida de que o Congresso da Abit colocará em pauta um conteúdo rico, que deverá guiar discussões importantes sobre o cenário atual e futuro da cadeia. “Entender a nova realidade mundial e as tendências que devem impactar a indústria, bem como o papel da inovação e da tecnologia nos modelos de negócios, é fundamental para todos os atores, sejam do poder público ou da iniciativa privada”, afirma.

PAINEL 2: NOVA REALIDADE MUNDIAL

O embaixador Roberto Azevêdo, que foi diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), ministrou a palestra inaugural da programação. Intitulada “Nova Realidade Mundial e seus Impactos”, a apresentação apontou três grandes rupturas estruturais na realidade mercadológica global: a revolução digital; o novo cenário de tensões geopolíticas; e a revolução da agenda ambiental e climática.

Tendências como a forte demanda global por critérios de rastreabilidade de matérias-primas e um alerta para a necessidade de amadurecimento desse processo, inclusive no setor têxtil e de confecção, estiveram entre as tônicas da palestra.

Outro tema relevante direcionou as análises para o movimento de internacionalização da China por meio de práticas como a do friendshoring, que estabelece parceria entre empresas de diferentes países. “Vivemos essa dicotomia de manter uma relação muito próxima da China do ponto de vista econômico e ter certa afinidade também de relações comerciais importantes com Europa, Estados Unidos e outros países”, afirmou. “São (esses) novos elementos da geopolítica internacional que precisam ser bem pensados”.

O diplomata encerrou a palestra tecendo elogios ao setor têxtil e de confecção. Classificou-o como “proativo e consciente dos desafios que se colocam dentro do País e internacionalmente”.

PAINEL 3: POLÍTICA INDUSTRIAL COMO FATOR CHAVE PARA COMPETITIVIDADE


O terceiro painel abordou e instigou análises sobre as cadeias globais de valor, a Nova Indústria Brasil (NIB) e questões de investimentos e inovação. Os debatedores foram: Fabrício Silveira, superintendente de Política Industrial da CNI; Flavia Kickinger, do Departamento de Bens de Consumo, Comércio, Economia Criativa e Serviços do BNDES; Mariele Christ, coordenadora de Indústria e Serviços da Apex-Brasil; Rodrigo Soares, do Sebrae Nacional; e William Rospendowski, superintendente da Finep. A mediação coube a Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit.

“A indústria da moda apresenta números expressivos no Brasil. O Brasil é o quarto maior produtor e consumidor de tecido do tipo jeans (denim) do mundo, e quarto maior produtor de malha do mundo. A indústria da moda é a segunda que mais emprega, ficando atrás apenas da indústria de comida e bebidas juntas. Ao todo, 75% da mão de obra é feminina”, destacou Rodrigo Soares, do Sebrae Nacional


SEGUNDO DIA 31 OUTUBRO 2024 QUINTA FEIRA

As atividades do segundo dia, do Congresso Internacional Abit 2024, em Salvador (BA), tiveram início com a palestra de abertura “Megatendências de consumo e seus impactos no mundo dos negócios”, com Camila Toledo, Head da Fashion Snoops Brasil.

A diretora da plataforma americana de pesquisa de tendências comentou sobre aspectos das macrotendências 2025. “Precisamos repensar como fazemos nosso negócio e nossas práticas porque varejo e indústria são resistentes a mudanças em suas atividades”, disse Toledo direcionando as atenções para a geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) que é informada e crítica. “É a geração do paradoxo e quer transparência. É um consumidor que se conecta mais quando percebe que a empresa é vulnerável também”, complementa.

Camila Toledo observa para a importância da inteligência artificial nos negócios. “IA vai nos ajudar a trabalhar melhor. Com ela, teremos muitos dados para analisar. Use a seu favor. Estamos entrando na era da responsabilidade mais produtiva. A geração Z não vê barreiras em nada, traz o mundo da internet para o físico, não tem barreira de religião, de gênero, não querem perpetuar pré-conceitos. São consumidores conscientes dos valores e direitos”.

De acordo com ela, os próximos consumidores valorizam o mercado de segunda mão e considera que a raridade não é o luxo. “É uma geração que quer reformular construções sociais passadas e criar novas”. Ela acrescenta que para esse público o progresso coletivo é mais importante do que o sucesso individual.

A especialista também destaca sistemas corporativos motivados por empatia (diversidade). “Entendam os seus trabalhadores e consumidores de forma comportamental e neural. Há a demanda por experiências prazerosas nos locais de consumo, não pode ter apenas produtos nas lojas”, pontua.

PAINEL 1: Repensando a cadeia de valor da moda a partir de dados

A palestrante Cecília Rapassi, Sócia-Diretora da Gouveia Fashion Business, apresentou pesquisa feita em setembro onde relevou vários dados, dentre eles que o Brasil e a América Latina são os países com maior propensão de compras de vestuário nos próximos meses. Outro dado é que no segmento de vestuário e calçados, a compra online está quase igual em volume à compra em loja física, sendo que a experiência na loja online é 63% melhor. Porém, quando a loja física traz um diferencial de experiência, isso é mais valorizado do que o online. Ainda foram apresentadas oito Trends de comportamento do consumidor de moda feito pela MosaicLab.

Mercado Livre

“Tem moda no Mercado Livre”, afirmou Anna Araripe - Diretora de Marketplace - Mercado Livre. Segundo Araripe, a plataforma está investindo há 4 ou 5 anos neste segmento. Considerada democrática e sendo a maior plataforma de compras online no Brasil, o Mercado Livre trabalha desde lojas e confecções pequenas locais como, grandes marcas de luxo e até de nicho. A rapidez de entrega é fator decisivo na compra de moda, sendo que 50% das compras é entregue em 24 horas e 80% em até 48 horas. A tecnologia de customizar experiência para cada consumidor tem sido aperfeiçoada diariamente, sendo que 87% buscam no celular ao ver um item de interesse, 76% compram por indicação de influenciadores e maida da metade usam celular enquanto consomem outro conteúdo (exemplo, assistindo Netflix, TV…). Por isso, Mercado Livre também lançou streaming com filmes grátis, para entender ainda mais seus consumidores e não deixar ele sair da plataforma, mesmo sem estar comprando. Araripe ainda apresentou as estratégias tecnológicas de como a plataforma vende moda, como estar também em espaços físicos pontuais e trocar looks por likes. Boa parte dos dados gerados pelos algoritmos é compartilhada com as empresas vendedoras, como demanda na grade de cada produto.

Grupo AZZAS 2154

Nascida numa garagem em Belo Horizonte, a Arezzo deu um grande salto quando abandonou os modelos masculinos e partiu para os femininos. De lá para cá, após algumas fusões e expansões, sendo a última com o Grupo Soma, considerado o maior grupo de moda no País. Na palestra de Cassiano Lemos – COO - Grupo AZZAS 2154, enfatizou o lema do produto certo, na hora certa e no lugar certo. Unir sonho com ciência tecnológica é o grande desafio. “Nosso estoque tem que ser uma fábrica de mágica” disse Lemos, explicando que é preciso atender e reduzir tempo de demanda. Hoje a empresa não tem mais fábrica, mas parceiros certos que traduzem em produto tudo que a empresa desenhou, com a qualidade exigida. Para isso, Lemos explicou a Plataforma SER de produção da marca, que vai desde o planejamento até a recolha de produtos que não venderam nas lojas, para lançamento futuro, tudo guiado por dados e softwares dedicados.

PAINEL 2: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: DESAFIOS RUMO À COMPETITIVIDADE

Mudanças climáticas, uso correto dos recursos naturais, gestão de resíduos e preservação da biodiversidade são alguns dos desafios que vem se apresentando com cada vez mais e, junto a isso, surge uma séria de regulamentações.

Sissi Alves da Silva, coordenadora-geral de Bioeconomia e Economia Circular do MDIC apresentou detalhes do Decreto 12.082 que trata da Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC), lançada pelo governo federal em 2024. “Essa é uma agenda relevante para o governo Lula e o setor produtivo precisa se engajar. A ideia é que governo, sociedade, indústria, todos tralhem para que a economia seja cada vez mais circular”, frisou. A ENEC está presente na política da Nova Indústria Brasil (NIB) e tem, entre suas diretrizes, a produção e o consumo sustentáveis. “Entendemos que essa é uma agenda de desenvolvimento econômico”.

Lars Fogh Mortensen, do EU Institution, participou do painel de forma online e comentou sobre a regulação do setor têxtil União Europeia que tem liderado a criação de regras, leis e obrigações em relação à sustentabilidade. Segundo ele, hoje a União Europeia tem 16 legislações em andamento que tem relação ao consumo de têxteis na região, impacto climático e ambiental e rastreabilidade, entre outros. Ele comentou que, na União Europeia, cada pessoa consome 14 kg de roupa por ano. “Percebemos o crescimento na produção de fibras sintéticas, especialmente poliéster. Cerca de 60% das roupas têm plástico envolvido”, citou.

O painel também contou com a participação de empresas que apresentaram suas ações nesse sentido. Viviane Lunelli, presidente da Lunelli, empresa com 43 anos de fundação e considerada a maior estamparia digital do Brasil, mostrou a visão de sustentabilidade da empresa, com o propósito de fazer moda com significado que promova impacto positivo no mundo e para todos. “Temos cadeia ampla, que inicia na malharia e vamos até o final da cadeia, nas lojas”. A Lunelli, de acordo com ela, tem um projeto de moda circular. “Ano passado, enviamos 2300 toneladas para reciclagem”, contou.

Paulo Costa, diretor da Nova Kaeru - empresa pioneira e inovadora no desenvolvimento de biocouros sustentáveis, com foco especial no couro de pirarucu (peixe da Amazônia) – também esteve no debate. Além do manejo sustentável do pirarucu, ele contou detalhes do desafio que a empresa tem desenvolvido nos últimos anos e que deve entrar em prática em 2025: transformar a planta orelha de elefante em um novo produto como uma alternativa ao couro. “O caule dela também é biodegradável”, acrescentou.

Leandro Ito, Head de Sustentabilidade da C&A, comentou sobre diversas ações que a multinacional tem desenvolvido no seu histórico, como a fundação do Instituto C&A, em 1991, e o Movimento Reciclo, que envia para a reciclagem peças doadas pelos clientes nas 336 lojas da rede espalhadas pelo Brasil e, ainda, a criação de uma coleção totalmente rastreável. “Uma nova agenda está surgindo com regulamentações, a realidade das mudanças climáticas, biodiversidade e direitos humanos. Rastreabilidade e colaboração serão fundamentais”, considerou.

PAINEL  3: CONSUMIDOR ZERO: ZERO ORÇAMENTO, ZERO LELDADE E ZERO BARREIRAS

O painel que abordou as oportunidades e desafios para atender ao novo consumidor, neste segundo dia do Congresso Abit, foi mediado por Marcelo Ramos, Diretor de Planejamento e Inovação do SENAI Cetiqt, e foi aberto por Edwina Kulego - Vice-presidente de Desenvolvimento Internacional e de Negócios - Informa Markets Fashion, que trouxe um panorama do consumidor dos Estados Unidos. Basicamente, moda entra em quinto lugar dentre as compras mais recorrentes pelos consumidores americanos, sendo também o vestuário feminino o maior volume. Um guarda-roupa mais versátil, após a pandemia, tem apresentado o maior crescimento, como leggings, malhas e tops confortáveis. Para homens, jeans e roupas de ginástica são os itens que mais aumentaram a compra. Quanto ao canal de venda, hoje 60% estão comprando ainda em loja física, pois as lojas oferecem boa experiência e o online na verdade está servindo para descoberta e a loja física para a compra. “Os clientes gostam de sentir o tecido, checar a qualidade e saber a origem, além de testar rapidamente o caimento. Quando não tem a grade na loja, aí compram depois no online. É preciso ter uma ótima experiência nas lojas físicas. Para os 30% que preferem comprar online, o software que faz o provador virtual com o próprio cliente tem convertido 90% das provas em vendas” afirmou Kulego.

Na sequência, Rogério Guimarães - Diretor - Lupo Sport, apresentou um histórico de 100 anos da marca que começou como roupa íntima e foi expandindo para fitness, sendo o DNA do produto focado em tecnologia têxtil para garantir conforto com performance. O novo consumidor da Lupo é bem informado, faz pesquisa no e-commerce, estuda a tecnologia e benefícios dos produtos, é muito ativo nas redes sociais e conversa com a marca criticando e sugerindo, exige entrega rápida e frete viável, além de questionar a sustentabilidade da empresa e do produto. Segundo Guimarães, a publicação de Relatório de Sustentabilidade, dentro das regras internacionais, pela Lupo desde 2012, mostra nossa cultura ao consumidor. Temos várias estratégias para ouvir o consumidor, e uma delas é ouvir os educadores físicos da Bodytech Academia, que é nossa parceira, sobre os comentários dos alunos e necessidade de adaptação para esportes específicos. A tecnologia nas operações da Lupo inclui desde a internalização de startups até o uso de inteligência artificial e foram dados vários exemplos desses usos.

A McKinsey & Company encerrou esse painel trazendo mais uma pesquisa sobre hábitos e tendências do consumidor atual. Segundo Pedro Fernandes, Sócio na empresa de pesquisas, foram identificadas três grandes tendências que resumem o que eles chamaram de Consumidor Zero: zero folga no orçamento, zero lealdade e zero barreiras. Fernandes mostrou dados onde mostra que o consumidor aumentou seus gastos mais do que aumentou sua renda e, por consequência, tem lançado mão de estratégias como: pesquisar onde o produto da marca que gosta está mais barato, ou seja, antes de mudar de marca está mudando de canal de compra. Outro aspecto é a categoria de produtos que ele está disposto a abrir mão da marca e qual ele não abre a mão e, neste último caso, bebida alcóolica é um item que ele não abre mão. No entanto, vestuário entra na lista de produtos de maior indulgência, ou seja, quando pensa em um presente para si, algo no estilo “eu mereço” roupa tem os maiores índices. E quanto ao canal, omnichannel é o mais buscado, ou seja, a combinação de online e físico, para pesquisa e compra.

PALESTRA DE ENCERRAMENTO:  ANSIEDADE - O FUTURO NÃO É MAIS O QUE SERIA

Coube à futurista Daniela Klaiman a palestra “Ansiedade do futuro: como se preparar transformando incertezas em oportunidades”, no encerramento do Congresso Internacional Abit 2024.

A especialista mostrou características do futuro próximo (comportamento das pessoas) e futuro a longo prazo (baseado em tecnologias). Considerando o cenário global, nos próximos cinco anos, Klaiman revelou a existência de uma série de crises simultâneas, mudança climática, guerras descentralizadas e mundo polarizado, entre outros. “Desde a crise de Covid, mudamos a forma de planejar. Não podemos ter um plano só e a pandemia foi uma prova irrefutável disso”, disse.

“A ansiedade é o reflexo de todos nós e do que estamos sentindo. Ansiedade do que não veio ainda”. Segundo ela, as redes sociais são a tecnologia que mais transformou o comportamento do ser humano nos últimos anos e tem forte participação nesse contexto.

E como lidar com tudo isso? Daniela Klaiman citou uma série de mindsets. Entre eles, a revolução em busca de bem-estar e saúde (oferecer produtos com sensações e experiências confortantes ao consumidor) e a bioeconomia (produtos dentro das regras cada vez mais sustentáveis).

“Precisamos ir além, romper as bolhas. O futuro não é mais o que seria”, concluiu Daniela Klaiman

Sobre o Congresso Abit

Reúniu mais de 400 congressistas presencialmente, contou com mais de 6 painelistas, 18 speakers, nacionais e internacionais.

Para a realização do Congresso Abit contaram com os seguintes Parceiros Estratégicos: DeMillus, SENAI Cetiqt e Vicunha.  Apoio Institucional: Texbrasil (Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira, uma parceria da Abit com a ApexBrasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), MDIC - Ministério do Desenvolvimento,Indústria, Comércio e Serviços,  FIEB - Federação das Indústrias do Estado da Bahia e mais de 60 patrocinadores

Sobre a Abit

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), fundada em 21 de fevereiro de 1957, é uma das mais importantes entidades dentre os setores econômicos do País. Representa a força produtiva de 24 mil empresas instaladas por todo o território nacional, de todos os portes, que empregam mais de 1,3 milhão de trabalhadores e geram, juntas, um faturamento anual (em 2022) de R$ 193 bilhões.

da redação com informações da ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção