Qualidade Total: janela para um mundo sustentável
worldfashion • 16/04/20, 14:55Por Eleni Kronka
A performance de um produto, de um serviço e de uma empresa, independentemente do segmento de atuação, pode estar diretamente relacionada ao grau de sustentabilidade dos processos de trabalho e produção. E hoje mais do que nunca.
Para abordar de uma forma muito mais abrangente as questões relacionadas à sustentabilidade e, por tabela, a qualidade dos processos de diversos setores da produção, a Intertek, gigante da área de Qualidade Total e Segurança de produtos, organizou um rico painel reunindo especialistas de diferentes áreas.
A moda vista em panorama de 360º
O painel dedicado à moda trouxe três abordagens. Taísa Caires, da Fundação Espaço Eco, falou sobre Sustentabilidade na moda e processos para empresas eco-eficientes. Valesca Magalhães, da Riachuelo, e Renata Lúcio, da Intertek Brasil, abordaram O futuro do consumo na moda e o Varejo 4.0, com o lançamento do projeto Fab for Life. Já Marcelo Lobo, da C&A, trouxe para a discussão a questão da Gestão de Químicos na Cadeia Têxtil e suas ferramentas.
Ao tratar sobre as empresas eco-eficientes e seus processos produtivos, Taísa Caires mencionou mudanças e traços de amadurecimento no comportamento do consumidor contemporâneo. Segundo a executiva da Fundação Espaço Eco, uma pesquisa da Nielsen de 2019 ouviu mais de 21 mil pessoas em 8.240 domicílios. O estudo mostra que consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos para reduzir o impacto sobre o meio ambiente (42%); estão atentos aos ingredientes que compõem os produtos (30%); não compram produtos de empresas que realizam testes em animais (58%), bem como não compram de empresas associadas ao trabalho escravo (65%).
A Fundação Espaço Eco, vale lembrar, foi constituída pela Basf em 2005. A instituição atua como consultoria para sustentabilidade, desenvolvendo projetos customizados para organizações medirem e compreenderem impactos ambientais, sociais e econômicos de seus produtos e processos – com base no pensamento de Ciclo de Vida. Dentro dessa perspectiva, Taísa Caires ressaltou a importância de as empresas estarem atentas ao comportamento do consumidor, sobretudo o que diz e como age a geração Y.
“São pessoas que nasceram nos últimos anos da década de 1970 até o início da década de 1990”, assinala a executiva, frisando que o grupo representa um divisor de águas, uma mudança de comportamento marcante, “muito influenciada pelo contexto socioeconômico e cultural da época”.
A pesquisa da Fundação Espaço Eco destaca que a geração Y é a primeira a ter contato mais direto com a tecnologia, pois ela nasce pouco depois da criação da internet, que começou a dar os seus primeiros passos em 1969. “A geração Y compõe a maior geração viva no momento e em breve também constituirá a maior geração de gastos”, assinala a executiva, acrescentando que são pessoas muito atentas às práticas sustentáveis. Em contrapartida, “não costumam ser leais a marcas específicas, mas são ferozmente fieis a produtos que atendem à sua equação de valores”, sempre ligados à sustentabilidade, vale dizer.
Este é, aliás, um bom motivo para valorizar processos que, dentro da indústria da moda, visam à otimização do uso de insumos. Como é o caso do jeans. Nesse momento, nas consultorias que realiza, a instituição entra com a metodologia capaz de “medir” e quantificar resultados no processo de produção, indicando caminhos mais eficazes.
“Primeiramente, lançamos o olhar sobre todo o ciclo de vida do produto, a partir do conceito dos 3P (pessoas, produtos, processos), para então iniciar uma análise mais focada”, observa. A proposta é considerar os impactos possíveis (ambiental, econômico, social). Isto é, desde a extração de recursos naturais, passando pela fabricação, armazenamento e uso, até a última destinação do produto – aterro sanitário, lixão, incineração, ou reciclagem e reuso.
A partir daí, é possível se chegar, por meio de estudos abrangentes, ao desenho de processos que contemplem: consumo de água e de energia, uso da terra e de recursos naturais, formação fotoquímica de ozônio; nível tóxico e potencial aquecimento global. Tudo visando à redução de efeitos negativos nos processos produtivos.
Moda, varejo e futuro
Renata Lúcio, líder de Negócios no segmento Softlines da Intertek no Brasil, apontou aspectos cruciais para marcas e empresas varejistas no atual panorama de mercado. A executiva destaca quatro pontos, para os quais a própria Intertek está focada em seu trabalho de consultoria para o têxtil.
O primeiro deles é a redução de riscos e proteção da marca. “Empresários do setor devem minimizar e evitar riscos financeiros, operacionais e ambientais envolvidos com suas atividades, protegendo-se de reclamações e recalls”, assinala.
Outra meta é atender aos requisitos de conformidade. “Regulamentações e restrições tornam-se cada vez mais rigorosas e impõem-se em negociação, tanto em mercados maduros como em mercados novos”.
O terceiro desafio diz respeito à diferenciação do produto. Segundo Renata Lúcio, a Intertek esmera-se em oferecer conhecimento, visando à geração de insights e à inovação para que as empresas tenham êxito, abram novos mercados e agreguem valor extra aos produtos.
Por fim, a Intertek oferece ferramentas e orientações visando à facilitação da expansão global. “A proposta é ter resposta mais rápida a novos mercados, mantendo produtos de alta qualidade em todo o mundo, atendendo à versátil indústria da moda”.
A consultoria da Intertek Brasil às empresas do setor têxtil e da confecção, tal como nos demais países onde a empresa está presente, se dá por meio de inúmeros serviços: Assurance (Sistemas de Gestão, Benchmarking, Sustentabilidade e Meio Ambiente, entre outros), Testes (encolhimento, solidez de cor, testes regulatórios, etc.), Inspeção (durante o processo; de matérias primas; verificação de quantidades; revisão da etiqueta do produto, etc.) e Certificação (CPSIA; desenvolvimento de esquemas de certificação; programas de auto certificação; High Performance Mark para roupas esportivas).
Sustentabilidade versus consumo
Já a abordagem de Valesca Magalhães, executiva da Riachuelo, recai sobre a relação existente entre as vendas de vestuário e o número aproximado de vezes que cada peça é efetivamente usada, antes de chegar ao seu fim.
Segundo dados levantado a partir de estudos da Euromonitor e Banco Mundial, as vendas de artigos de vestuário dobraram no mundo entre 2000 e 2015. Esse crescimento supera o próprio crescimento do PIB dos países.
Enquanto a produção de roupas e as vendas vão em ritmo acelerado, cai vertiginosamente o número de vezes que as peças são de fato usadas. Isso mostra que, na dinâmica do fast fashion, as roupas são rapidamente descartadas para dar lugar a lançamentos constantes.
Nessa perspectiva, a executiva da Riachuelo destaca que a companhia tem implementado ações visando à produção e venda racionais. Dentro do plano de atuação estratégica, a empresa elegeu quatro grandes eixos de trabalho: Cadeia limpa e transparente, Eficiência de recursos e gestão de resíduos, Produtos mais sustentáveis e Investimentos Sociais.
A sustentabilidade, propriamente, se concretiza nos seguintes pontos: Economia de recursos e matéria-prima; Melhoria na reputação da marca; Parceria com fornecedores responsáveis; Durabilidade e reciclagem e Utilização de materiais com menor impacto ambiental.
Para chegar a produtos mais sustentáveis, Renata Lúcio e Valesca Magalhães mencionam a proposta da Moda que Transforma, considerando, sob o aspecto dos Atributos Sociais, a qualidade e sustentabilidade dos fornecedores, tanto de matérias-primas quanto de artigos confeccionados.
Já sob a óptica dos Atributos Ambientais, a proposta sugere atenção aos quesitos: matéria-prima sustentável, menor consumo de água e energia de fontes renováveis.
“Trata-se de uma abordagem holística sobre o ciclo de vida dos produtos, que contempla testes das fibras, dos tecido e das etapas produtivas”, afirmam as palestrantes, completando que o processo inclui a detecção de possíveis falhas químicas em estágios mais avançados, bem como a “identificação de riscos com testes de substâncias restritas no início do processo”.
Imagens: fotos/divulgação
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