FRANKIE AMAURY

worldfashion • 30/04/24, 15:08

Alexandre Schnabl, filho de austríaco e carioca de carteirinha, o jornalista, diretor de arte e stylist  encabeça o projeto do livro sobre Frankie Amaury e a importância da marca dos anos 80 aos anos 2000, pela Luste Editores. Um filme também está sendo negociado para um streaming, com direção de Zé Henrique Fonseca, de “Bom dia, Verônica”, produzido pela Zola Filmes. Este é apenas o início de um verdadeiro resgate documental da marca Frankie Amaury.

O “match” entre a moda e o high society carioca, da virada dos anos oitenta a meados dos anos 2000, a grife de leatherwear Frankie Amaury – criada pela dupla de estilistas dublês de enfants terribles Frankie Mackey, argentino de Rosário, e Amaury Veras, nascido na Tijuca, Zona Norte do Rio – está de volta pelas mãos da sobrinha do segundo, Renata Veras, herdeira da marca.

Para o relançamento da grife, que acontece hoje terça-feira, dia 30, na Pinga Store, em Ipanema, Renata Veras, herdeira da marca convocou Alexandre Schnabl, seu professor na Faculdade de Moda da UCAM, que trabalhou como visual merchandiser na Frankie Amaury de 1998 a 2002, para participação direta como diretor criativo e stylist dessa nova fase.

Marcando esse retorno no ano em que se comemoram os 45 anos do início da Frankie Amaury, Renata, que hoje mora no Sul da Espanha e desfilava como nova designer no line-up do Fashion Rio, revive um dos itens mais icônicos da brand: a mochila de couro com ilhoses metálicos, objeto de desejo durante os 25 anos de percurso da dupla como ponta de lança da moda made in Rio.

“Existe um imenso valor afetivo por quem viveu aquela época, era cliente e conviveu com os dois naqueles tempos disruptivos, tão politicamente incorretos que hoje não seriam possíveis, mas absolutamente divertidos. As mochilas da marca eram algumas das peças mais icônicas, tanto que continuaram fazendo o maior sucesso mesmo com a abertura do Brasil para a moda internacional e a enxurrada de marcas gringas por aqui a partir do final do século. Quem ainda tem a sua FA não abre mão; é item-fetiche, coisa de colecionador”, conta Renata, que precisou garimpar os arquivos originais da Frankie Amaury para poder desenvolver novamente um dos modelos então à venda, assim como uma bolsa saco. “Praticamente não havia mais nada, muito se perdeu. Quando a marca acabou, em 2004, nada estava digitalizado, mas sobraram fotografias e croquis. Foi preciso matriciar de novo todas as ferragens personalizadas, fechos e maxi ilhoses”, completa Renata.

São 11 variantes de cor, incluindo  um animal print – clássico-perua da Frankie Amaury – tanto da mochila quanto da bolsa saco, que poderão ser encontradas a partir de 30 de abril no site e Instagram da marca e na Pinga de Ipanema, e, a partir de junho, na filial paulistana da multimarcas comandada por Catharina Tamborindeguy Johannpeter, filha de Narcisa, justamente a amiga unha e carne dos meninos.

“Esse é um projeto de afeto, não apenas pelo que a grife representa para a História da Moda Carioca e Brasileira, mas pelo o que vivi ao lado de Amaury nestes últimos momentos da sua trajetória, pouco antes de tudo o que aconteceu, quando ele morreu e depois Frankie abandonou o Brasil. Para marcar esse relançamento, a gente convocou três modelos-síntese da dupla, com quem eles gostavam de brincar de boneca nos desfiles e campanhas. Fátima Muniz Freire, Alexia Dechamps e Silvia Pfeiffer não só fazem parte dessa narrativa como participaram ativamente, no convívio com os dois, da consagração de uma moda em couro urbana e deluxe no país, em uma era de excessos, quando as supermodelos começavam a despontar como musas no cenário global e as três passaram a ocupar a pole position no mercado nacional. As duas primeiras estão no shooting e Silvia estrela o fashion film”. conta Alexandre.

Sobre o encantamento que os rapazes proporcionavam, Silvia é categórica: “A leitura inovadora, irreverente e audaz do couro, e ao mesmo tempo super chique, fez com que, seja quem usasse ou quem estivesse mostrando Frankie Amaury, todos curtissem aquela moda. Lembro as provas de roupas no ateliê, impagáveis, e de uma das mais charmosas fotos que fiz para uma campanha, em preto & branco. Eles eram muito animados, queridos, era ótimo ter a Naná Paranaguá nessa equipe que revolucionou a moda de couro, tirando o peso e a caretice desse material, tornando-o acessível a todas as idades. Era moderno e antietário”.

Alexia não lembra se conheceu os estilistas no trabalho ou na vida social. “O Rio da Zona Sul era um cidade muito pequena. Eu era argentina como o Frankie, isso nos aproximou. Vira e mexe a gente estava com o embaixador ou o cônsul de lá nos jantares, chegamos a encontrar o presidente [Carlos] Menem num rega-bofe no Copacabana Palace promovido pela marca. Além das profissões, nosso país de origem e o círculo social nos uniram. Eu era muito jovem, apaixonada por eles e nos divertíamos imensamente em um Rio nada careta, bafônico”. comenta Alexia.

Sobre o estilo da marca, a atriz e modelo afirma o aspecto autoral da criação: “Pouca gente na cidade era capaz de criar coleções com identidade tão peculiar. O Rio era território das popozudas. Aí a gente viu surgir essa grife maravilhosa, que fazia saias douradas em couro, botava para jogo peças geniais, jaquetas incríveis, mandava ver na oncinha marcando presença com uma pegada muito glamourosa e uma qualidade maravilhosa. Tenho conhecidas cujas mochilas originais, dessas que estamos relançando, estão inteiras há mais de trinta anos. Eu mesma guardo um casaco, que amarrava a cintura e ia até a metade da coxa, do qual me recuso a desfazer”. Silvia Pfeiffer completa: “Eles deixaram um legado importantíssimo. Trouxeram a roupa de couro com caimento bonito e toque sensacional. Foram pioneiros. Isso não pode cair no esquecimento”.

Fátima Muniz Freire faz coro com Silvia: “Devemos a eles a validação de que a roupa de couro não tem dia, hora ou estação. Eles ampliaram a potência do look em couro. Amaury tinha um olhar adiante do seu tempo e as novas gerações precisam muito conhecê-los. Já tive um armário inteiro só de Frankie Amaury”.

Alexandre Schnabl fala do porquê do livro, que vai ser editado pela Luste Editores: “Por 25 anos, Frankie Amaury simbolizou um Rio de Janeiro luxuoso, descolado e imitado, mas em constante mutação. Através do encontro entre esses dois rapazes, em Copacabana e depois Saint-Tropez, que viraram tsunami da moda no convívio com o soçaite, é possível traçar um delicioso painel carioca de mais de duas décadas, uma salada panorâmica que começa na virada da Era Disco para o New Wave, passa pelo Rock Brasil, avança pela Nova República das emergentes e segue pela alvorada do Novo Milênio. O storytelling da marca é um poderoso caleidoscópio social e cultural do Rio”.

Renata Veras arremata: “Eles foram protagonistas, aqui no Brasil, do processo que transformou a moda em espetáculo, retirando o trabalho dos estilistas do gueto dos endinheirados para dar-lhes visibilidade equivalente à dos pop stars. A partir dos eighties, essa moda passaria a ocupar o imaginário das massas, com direito a muito glam, borbulhas, sexo e pó. Afinadíssima com o planeta ao redor, Frankie Amaury resumiu esse fenômeno no Rio de Janeiro, mas com aquele típico sabor carioca”.

Nova coleção:

Foto: Lucio Luna

Direção criativa e styling: Alexandre Schnabl

Modelos: Alexia Dechmps, Fatima Muniz Freire e Renata Figueiredo

Beleza: Igor Leite

Assistente de produção: Andrey Costa

da redação com informações da Scena Lúdica