A alma faz a diferença na coleção da Mary Design

worldfashion • 16/05/13, 09:21

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Atar • Cingir ou apertar com nó ou laçada; amarrar, prender, atrelar, ligar(se), unir (se). Também sujeitar (se), submeter-se…

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Bordar • 1- Ornamentar pano ou estofo com fios (de seda, algodão, prata, etc), e/ou com elementos decorativos (lantejoulas, pérolas, fitas, etc), passados à mão ou à máquina, com uma agulha, formando motivos e desenhos.

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2- Fazer como que um bordado, pelo intricado da forma, pelos ornamentos, pelos entrelaçados.

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3- Espalhar cores, formas; colorir, ornar, enfeitar…

Anos atrás recebi uma revista, que trazia na capa a estilista Karlla Girotto nua, com a pele alinhavada. Moda bordada no corpo, como um bordado d´alma. Um vestir-se de si mesmo.

Fizemos esta coleção - Juliana, Fernanda e eu - sobre o que aqui dentro mora, visitando bagagens pessoais; manuseando cada criação, a ela adicionando doses diárias do saber, da emoção. Foi como olhar para si mesma e se usar como inspiração. Trabalho a várias mãos que, ao trabalhar, representam visões e idéias de mundos diferentes. Mãos da Marta, Nara, Ana, Rejane, Márcia, Cleide, Kátia, Mariza, Marias… mãos benditas!

Mudou o suporte, ferramentas evoluíram. As bijuterias sobre a pele também. Sempre usamos mais alfinetes, linhas e agulhas, que alicates. O fazer bijus é tessitura, fios e tramas. Há que urdir, costurar, perfurar, bordar.

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Pai alfaiate e mãe prendada, aprendi a costurar de ouvido. A vontade de saber fazer me levava ao mundo do não saber e este querer deseneado me apresentava soluções. Ainda criança, peguei retalhos dos ternos que meu pai fazia e neles fiz flores enormes em ponto cheio. Nunca havia bordado nada, fiz uma pala de vestido com flores imaginárias, que virou blusa, que virou guardado. Guardo essas flores do amor, desse desabrochar tão feminino que é bordar, como mostra do querer.

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Coleção síntese de 30 anos fazendo bijus, o verão 2014 Mary Design foi ao berço da própria história da marca, ao encontro, cada vez mais intenso, das técnicas do fazer artesanal, da brasilidade, da nossa mescla cultural. Foi buscar o papel das coisas, do tecido que sempre envolveu nossos trabalhos, da riqueza das tramas, amarrações, dos riscos de papel carbono bordados no tempo.

Foi atrás da menina, que chegou na cidade grande aos 11 anos, inquieta, simplória, com medo da cidade.

Viu um prédio gótico(que, depois, descobriu ser o Museu de Mineralogia), não teve dúvida, ajoelhou e fez o “em nome do Pai”!

Precisava se vestir, foi lá e costurou a roupa que sabia. Precisava andar, foi lá e bordou alpargata. Precisava marcar o meio do corpo, fez com vidrilhos um cinto novo. Precisava de blusa de renda, inventou uma com retalhos. Precisava de penas, não teve pena dos pavões… Ficou sabendo das bruxas, foi p’ra o caldeirão e tingiu seu mundo.

Como nas minhas primeiras bijus, o que veio à mente foi a fuga das linhas de produção. Estar horas a fio bordando apenas um colar, para uma mulher especial. Voltar com essas peças, exclusivas, bordadas com contas, que vão acabar e que serão trocadas por outras, ali paradas, à espera da criação. Para a moda que iguala, oferecer cada vez mais o desigual.

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E assim fomos colocando ordem nas coisas, revisando cordões, correntes, visitando arquivos, num trabalho quase de catalogação. Tardes inteiras “perdidas” em achar significado p’ras contas - caso não achássemos, seriam apenas contas empoeiradas nas gavetas.

Criar é dor, espera, parto, alegria. Criar é como dar alma às coisas. Queríamos fazer colares que andassem, que procurassem parceiras, amantes, raparigas providas de sentimento, de humor, amor e memória. Moças desprovidas de tendências. Mais que fazer produto, conversar. Mais que enfileirar bolas, alimentar sonhos.

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Mais que embelezar, ornar a alma com colares como o de 1977 fiozinhos de linhas, que, cortados milimetricamente, se amarram, organizadamente, formando visões de penas. Verdadeira revoada.

Trilhamos caminhos internos, acervos existenciais.

Fizemos o que amamos fazer, bordar o mundo com contas e pérolas.

Fizemos o que julgamos saber, dar alma às coisas!

MARY ARANTES

www.marydesign.com.br

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