World Fashion edição 161

L E R V E R O U V I R POR ELENI KRONKA Livros para pensar amoda Nos últimos anos, tornou-se interessante a dinâmica da produção teórica no Brasil tendo a moda como principal objeto de estudo. World Fashion traz para o foco das atenções dessa vez três livros que acabam de ser lançados, com enfoques diversos, que prometem contribuir para a continuidade dos estudos nesse campo CHANEL EMAN RAY Escritora ,docente e profissional na área da moda deste 1992 e Mestre em Arte e Cultura Visual pela Univer- sidade Federal de Goiás, a catarinense Karol Testoni acaba de lançar Moda Sensorial , no qual trata sobre a chamada “Terceira Onda de Marketing”, também conhecida como “marketing sensorial”, que propõe motivar sensações no consumidor em relação ao produto e marca, por meio de experiências sensoriais. Outro lan- çamento da autora é A invenção de Coco Chanel à luz de Man Ray, sobre o qual ela conversou com esta Co- luna. Karoline pergunta-se no livro sobre como analisar imagens do passado, como descrever a imagem no presente. Passa pelo que ela chama de “invenção de si”, na perspectiva de Chanel, para chegar finalmente à figura de Coco Chanel na relação entre sujeito e poder. Leia a seguir. RELAÇÃOMODA EMÍDIA A Moda na Mídia – Produzindo Costuras acaba de ser lançado pela Appris Editora, tendo a pesquisadoras Da- niela Schmitz e Solange Wajnman como organizadoras. A proposta é a de pensar a moda na mídia levando em conta a penetração dessa segunda no cenário social, a ponto de os meios e a tecnologia serem considera- dos traços distintivos do atual estágio civilizatório. A reflexão é pautada pelos processos de midiatização para compreender como o campo da moda em suas dinâmicas, conteúdos e especificidades participa, mobiliza e se insere nesse fenômeno de reconfiguração social capitaneada pelos meios. Participam dessa obra os auto- res: Daniela Schmitz (Moda e Midiatização), Juliana Bortholuzzi (Os reflexos do processo de midiatização no sistema da moda e o novo consumidor: o prosumer), Pamela Church Gibson (Moda e Cinema: mudanças, com- plexidades e consumo), Eleni Kronka (Revistas de Moda: vitrine de lançamentos e canal eficaz para a informa- ção), Débora Elman (Revista de Moda e Segmentação), João Dalla Rosa Júnior (As Revistas de Moda e a Pers- pectiva das Passarelas), Daniela Aline Hinerasky (O fenômeno dos blogs street style: do flâneur ao star-blogger) e Issaaf Karhawi (De blogueira a influenciadora digital de moda e beleza: evolução e motivações da prática). WORLD FASHION – Por que Chanel? Karol Testoni – Minhas primeiras referências em moda foram através do trabalho de Coco Chanel. Desde a in- fância, ouvia minha mãe, então costureira, a comentar sobre a elegância desta couturier . Fui atraída por seu estilo único. Qual era a sua linha de raciocínio? Como desenvolveu uma imagem tão clara, a ponto de se tor- nar referência mundial? W. F. – Por que sob a ótica de Man Ray? K. T. – Para mim, a imagem que mais ressalta o esti- lo Chanel sempre é aquela retratada pelo fotógra- fo Man Ray, que era então um dos fotógrafos favori- tos das celebridades, nos anos de 1930. Descobri nele o especialista em colocar nas produções elementos que compunham o estilo de vida dos retratados. Ray os considerava uma metonímia (figura de linguagem que consiste em empregar um elemento no lugar do ou- tro). Então surgiu a pergunta: teria Man Ray construído a imagem de Chanel? Ou teria ele auxiliado a grande criadora a descobrir elementos próprios e explorá-los? Restava-me pesquisar para sanar minhas indagações. W. F. – Quais os pontos comuns entre ambos ambos em re- lação à moda? K. T. – O contexto social e de cultura do período vivi- do por ambos no momento do tal retrato (1935) foi vital para a análise. Neste sentido, conceitos sobre Cultura Visual auxiliam a descobrir a relação entre ambos no cenário da moda. As revistas especializadas encontra- vam-se no auge, e Coco Chanel era uma das “queridi- nhas” do momento. Logo, o encontro deles seria quase inevitável. Mas, o que realmente me surpreendeu foi a visão semelhante que tinham em relação à utilização das “metonímias” como instrumento de difusão de mensagem visual. O que era propício para os meios de comunicação da época. W. F. – Quais são os valores contidos no trabalho deles que garantem o peso e a “longevidade” da obra que realizaram, sendo referências ainda hoje? K. T. – Chanel, como poucos, foi assertiva ao criar um estilo singular e totalmente coerente com os anseios da sociedade da época, principalmente no que diz res- peito às mulheres. Ela usou as “metonímias” como um recurso valioso para se expressar e se fazer entendi- da por seu público. Man Ray, por sua vez, foi coerente ao colocar o uso das “metonímias” em favor da cons- trução dos seus retratos. Esses elementos que compu- seram o trabalho de ambos no passado são extrema- mente úteis na atualidade. Numa sociedade com uma cultura visual crescente, esse recurso auxilia, não só a moda, mas o sujeito social a se construir como iden- tidade. Olhamos para as redes sociais e vemos a ca- rência na construção do indivíduo singular: muitos pa- recem cópias. A moda nos aponta possíveis direções, mas é o arsenal cultural de cada um que deveria ser usado para determinar escolhas mais assertivas na sua construção singular. Assim se dá um estilo. Man Ray e Coco Chanel viveram o mesmo cenário sociocul- tural, mas cada um expressou-se de maneira singular, a ponto de até hoje serem únicos. Fotos: Divulgação 36 161

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