World Fashion edição 161

O N L I N E Por Paulo Delegá Paulo Delegá é diretor da Vendere, agência digital de criação para sites, redes sociais e marketing de conteúdo. www.vendere.com.br Quatro tipos de FakeNews Fake News, ao pé da letra quer dizer notícia falsa. Porém uma notícia inventada é apenas uma das maneiras da criação ou distribuição de a notícia ser distorcida. Você poderá encontrar na Internet pelo menos essas quatro possíveis manifestações desse fenômeno A FAKE NEWS FALSAMESMO É a mentira. O fato é fake – falso. É o que dá o nome geral ao fenômeno das Fake News. Por exemplo, alguém inventa “O político X é réu em caso de corrupção”, quando o dito cujo não é. “Adoçante no café dá câncer”. “Vacina faz mal para as crianças”. Essas mentiras quando publicadas nas redes sociais podem se espalhar. E não há tecnologias infalí- veis para computadores perceberem se uma informação é verdadeira. Algumas redes sociais têm tentado passar essa tarefa, de verificação da veracidade de notícias, a grupos de pessoas – funcionários, usuários ou instituições terceirizadas –, mas é im- possível checar manualmente bilhões de informações que são publicadas todos os dias. Além disso, as checa- gens feitas por pessoas têm recebido acusações de manipulação: suposta- mente alguns verificadores humanos teriam marcado como verdadeiras as notícias que concordam com ideolo- gias, causas ou políticos que apoiam e como falsas as que as contrariam. Também tem sido anunciada a adoção demedidas como limitar o número de re- passes que cada usuário pode fazer de uma informação e maiores checagens da identidade dos perfis nas redes sociais. Elas diminuem a velocidade de divulga- ção de umboato e podem intimidar men- tirosos que quisessem permanecer anô- nimos, mas não resolvem o problema. Se nem tecnologia nem gente tem uma solução completa, vamos ter que apren- der a conviver com mentiras circulando na Internet, pelo futuro previsível. A “FAKE NEWS” DE NARRATIVA Suponha um debate na TV meio mor- no, entre dois candidatos. No dia se- guinte a Internet vai estar cheia de chamadas “Candidato A detona can- didato B no debate” ou “Candidato B massacra candidato A no debate”. Os jeitos diferentes de contar a história – a narrativa – tentam induzir diferentes leituras de um fato verídico. Para quem não assistiu ao debate original fica di- fícil saber o que realmente aconteceu. Esse não é um problema criado pela In- ternet, mas é agravado nela. Primei- ro porque é muito fácil editar um tex- to ou vídeo real para uma versão mais alinhada com uma narrativa. Depois, na maioria das vezes, a remuneração dos produtores de conteúdo para Inter- net é proporcional ao número de cliques que recebem. Isso leva a uma guerra de sensacionalismo, onde os redatores abusam das hipérboles na tentativa de atrair cliques, uma técnica chamada clickbait (isca de cliques ou caça-cliques, em português). As versões sensatas e nuançadas sobre qualquer evento per- dem espaço para as mais carregadas. A “FAKE NEWS” CIENTÍFICA Instituições – universidades, Institutos de pesquisa, órgãos governamentais – ou cientistas, podem apresentar pesqui- sas e estudos como “técnicos” ou “cientí- ficos” – supostamente confiáveis porque embasados na tecnologia e na ciência – que podem embutir distorções geradas por vieses ideológicos, interesses ou uma incerteza maior que a admitida. Por exemplo, se você procurar na In- ternet encontrará cientistas que afir- mam que se não pararmos a queima de combustíveis fósseis, a Terra vai es- quentar cinco graus centígrados até o ano 2100, outros que afirmam que vai ser um aquecimento pequeno e outros que a influência humana é praticamen- te desprezível para o clima, forças natu- rais como variações do Sol e na órbita da Terra seriam mais importantes. Es- sas três conclusões diferentes não po- dem ser simultaneamente corretas. Esse também não é um problema criado pela Internet, mas agravado pela facili- dade de publicação sem revisão rigoro- sa. Uma ideia boa que talvez possa ser transplantada do meio acadêmico para a Internet é a possiblidade de um nível de certificação pós-publicação: um me- ta-estudo. É a análise estatística dos da- dos de vários estudos diferentes sobre um assunto, para se tentar extrair uma posição commenos viés individual. A “FAKE NEWS” DE HACKER As pessoas tendem a valorizar mais as informações que foram mais com- partilhadas ou gostadas por outras pessoas. A psicologia faz sentido: se mais gente acha uma informação boa, ela deve ser boa mesmo. E as redes sociais retroalimentam esse mecanis- mo, mostrando para ainda mais pes- soas o que foi mais compartilhado. Aproveitando-se disso, programado- res de computador mal intencionados – hackers – tentam inflar artificialmente o número de seguidores, compartilha- mentos e likes do que eles querem pro- mover. Para isso usam robôs de soft- ware – programas que se comportam como pessoas na Internet. As redes sociais temmecanismos de ten- tar verificar se quem compartilhou uma informação é uma pessoamesmo, ouuma pilhade computadores emumporão. Com alguma frequência, páginas ou usuários são bloqueados por que se descobriu que eram falsos. No entanto esses mecanis- mos de segurança não são perfeitos e al- gumas vezes os hackers os burlam. TEMJEITO? As distorções na criação e distribuição de notícias na Internet são problemas relativamente novos, que ainda esta- mos tentando solucionar. Por enquan- to, se você quiser ser uma pessoa bem informada, terá que usar um pouco de esforço e bom senso: não acreditar ime- diatamente em tudo que vê na Internet, checar a confiabilidade e o histórico das fontes de uma informação e tentar sair da “bolha” formada pelos seus amigos de redes sociais: procurar outras ver- sões dos fatos, mesmo que desagradá- veis, antes de formar uma opinião. Foto: lavitrei/Shutterstock 34 161

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